falésia do Cabo Branco

A HERANÇA AMBIENTAL DO CABO BRANCO - Por Francisco Jácome Sarmento

Em julho de 2020, publiquei no “Blog do Rubão” alguns artigos documentando os resultados desastrosos das intervenções de infraestrutura executadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) supostamente com o objetivo de “proteger” a falésia do Cabo Branco, referência icônica do litoral brasileiro e da geografia mundial.

Os textos publicados não se limitaram a descrever o que estava acontecendo, mas também apontavam a evolução do processo erosivo negativamente impactante para a paisagem da enseada do Cabo Branco, processo esse que – claro – não cessou com o fim da administração municipal, em dezembro último.

As evidências do que então se anunciava como consequência direta do lançamento de um amontoado de rochas de grandes dimensões contornando o sopé da falésia, diga-se de passagem, sem nenhum projeto que respaldasse tal ação, permitia a qualquer bom observador da natureza local antever para onde as coisas caminhariam.

Cessei a publicação dos textos e vídeos-denúncia por duas razões: 1) todos os alertas e previsões fundadas na observável evolução do processo erosivo da praia do Cabo Branco haviam sido registradas, inclusive, para além da difusão propiciada pelas redes sociais e a imprensa convencional, uma vez que também atendi o convite do Ministério Público para reunião in loco, contando com a participação de representantes da própria PMJP e de vários outros técnicos interessados no assunto; 2) embora a PMJP não tenha conseguido oferecer nenhuma resposta tecnicamente consistente, insistir como cidadão em cobrar essas respostas facultou a prepostos da edilidade arguir que a denúncia da agressão ambiental tinha viés político, uma vez que se avizinhava o pleito eleitoral envolvendo a disputa pela prefeitura.

À intenção de continuidade no poder municipal interpôs-se o voto popular, quero crer, livre. Já o impacto ambiental decorrente das intervenções desprovidas de engenharia e de planejamento adequado segue agressivo, conforme esperado, dada a máxima do raciocínio lógico basilar segundo a qual em permanecendo a causa, os efeitos persistem.

A progressão maléfica dos processos erosivos decorrentes do amontado rochoso que onerou os cofres públicos em mais de 4 milhões de Reais pode ser constatada pela mera comparação entre a documentação fotográfica anteriormente publicada (e.g., ver Blog do Rubão) e a atual (01/03/2021).

Em resumo

(1) a baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia (não reposta pela corrente marítima natural, por impedimento pelas rochas lançadas pela PMJP) e continua em desequilíbrio em termos de balanço de sedimentos;

(2) o coqueiral, bravamente, está morrendo de pé, pois o próprio suporte terroso lhe é erodido;

(3) conforme previsto, os gabiões anteriormente existentes e que, igualmente custaram milhões ao contribuinte, desmoronaram;

(4) o mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado);

(5) grande parte da calçada por onde transita muita gente em busca de atenuantes para esse segundo ano de pandemia transformou-se em perigosos trechos de crateras e escombros (infelizmente, mais uma vez, conforme previsto). As fotografias abaixo exemplificam cada um desses cinco principais impactos.

Retomo o assunto cônscio de que os dois meses transcorridos até a presente data não são suficientes para que a nova gestão da PMJP tenha se inteirado totalmente da dimensão da “herança” recebida da gestão anterior. O novo prefeito e seus auxiliares certamente sabem que decisões concretas precisam ser tomadas. Espero que elas venham o mais breve possível e que possam ser implementadas de maneira a reverter as consequências danosas experimentadas por esse cartão postal da nossa capital.

Francisco Jácome Sarmento é Professor Doutor em Engenharia Civil da UFPB

Fonte: Rubens Nóbrega
Créditos: Polêmica Paraíba