desfechos

“Calvário” reabre dúvidas de cassistas sobre eleição ao governo em 2014

"Do ponto-de-vista jurídico, a matéria, em tese, é página virada, sem chance de reversão"

O desfecho da eleição para governador da Paraíba em 2014, quando Ricardo Coutinho (PSB) bateu Cássio Cunha Lima (PSDB) em segundo turno, sempre deixou os cassistas com a pulga atrás da orelha, diante do acirramento e equilíbrio da disputa, o que suscitou questionamento sobre manipulação da máquina oficial para triturar o principal candidato da oposição ao mentor dos “girassóis” na política, então perseguindo com denodo a reeleição ao Palácio da Redenção. A inconformação com os números que ganharam selo de validade está sendo reavivada, agora, com as revelações estarrecedoras acerca de esquema criminoso de alta periculosidade que se infiltrou na administração estadual na Era Ricardo, conforme vazamentos de delações e depoimentos no bojo da “Operação Calvário”, chancelada pelo Ministério Público e Gaeco.

Do ponto-de-vista jurídico, a matéria, em tese, é página virada, sem chance de reversão. Já se deu o fim da Era Ricardo, que cumpriu o mandato na íntegra, até o último dia, e a ela sucedeu-se o governo de João Azevêdo, que pessoalmente já renegou o “Criador” e bateu em retirada do PSB, partido do qual Coutinho se fez proprietário absoluto no Estado até agora. Os cassistas não desistem – pelo menos, de uma reparação moral, pois se consideram logrados com o saldo da fria aritmética das urnas remanescentes de um confronto que sepultou o arremedo de aliança entre os dois homens públicos. Na prática, Cássio e Ricardo só se aliaram em 2010. Os signos de ambos não cruzavam, como se viu, depois.

Cabe lembrar: Ricardo Coutinho venceu as eleições ao governo em 2014 com 52,61% contra 47,39% de votos atribuídos ao ex-governador Cássio Cunha Lima. No primeiro turno, a diferença entre os dois foi de apenas 1,39 ponto percentual. O filho do poeta Ronaldo Cunha Lima ficou à frente com o equivalente a cerca de 28.388 sufrágios de diferença ante Coutinho. Em paralelo, pipocavam pesquisas de intenção sinalizando cenário nítido de equilíbrio – algumas delas cogitaram, mesmo, a perspectiva de empate técnico. Como pesquisa é fotografia do momento, relevou-se o equilíbrio nas análises gerais, com a capitulação dos analistas ao mapa oficial do Tribunal Regional Eleitoral. Os cassistas, em nenhuma oportunidade, frearam a reação, pelo menos até 2018, quando Cássio foi abatido na reeleição ao Senado. Ricardo confessara que tinha ambição dupla ao ficar no Palácio da Redenção: contribuir para a vitória de Azevêdo e derrotar Cássio. No semblante de Coutinho, um brilho estranho de quem estava obcecado. Ninguém me contou; eu detectei a ‘aura’ em encontro fortuito com o então chefe do Executivo.

No fundo, a impressão que fica é a de que Ricardo pode ter carregado pedras ou, supostamente, utilizado o poderio da máquina, no “bem-bom”, para uma vitória de Pirro, já que foi no segundo mandato onde estouraram os escândalos que mancharam irreversivelmente sua imagem de bom moço e de líder pós-moderno. Um patrimônio ético e moral que dificilmente o ex-Senhor de baraço e cutelo da Paraíba conseguirá reaver, passada a época da propaganda enganosa que ele vendeu a paraibanas e paraibanos e que subliminarmente o apresentava como um rei ungido deste pedaço de terra do Nordeste brasileiro. Ricardo, que foi longe demais, como já escrevemos, julgava-se inventor do Estado da Paraíba – por esse viés, a história deste abençoado chão se contaria Depois Dele. Antes, era o Caos, na sua concepção individualista e egocêntrica.

Diga-se, em arrimo à verdade, que registros sobre gestões de Coutinho para comprar apoios políticos que anabolizassem sua candidatura à reeleição figuram nos autos do cartapácio que reveste a “Operação Calvário”. Falta, evidentemente, a manifestação da Justiça. Por esse veredicto aguardam, ansiosos, os cassistas e, de modo geral, os paraibanos, boquiabertos com escândalos sem precedentes na crônica política-administrativa local. O ex-governador Cássio, que em 2010 obteve hum milhão de votos para o Senado, quando a máquina do governo era pilotada pela dupla José Maranhão-Luciano Cartaxo, quer apenas a VERDADE. Ou seja, explicações plausíveis para o estranho fato de ter diminuído de tamanho eleitoral quando estava em marcha batida na trilha da ascensão. A Cunha Lima e a um sem-número de pessoas com fosfato não interessam argumentos que insultam-lhes a inteligência mediana!

Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes