Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: o Ponto Chic - Por Sérgio Botelho

Noite, sim, a outra, muitas vezes, menino ainda, nascido e criado no centro da cidade, saia de casa, a pedidos, mesmo à noite (os tempos eram outros), para comprar cartola em “seu” Madruga, que tinha uma lanchonete, no Ponto de Cem Réis (Praça Vidal de Negreiros) até o dia que o prédio onde o negócio existia ser derrubado para ceder espaço ao Viaduto Damásio Franca.

Foto: Sergio Botelho

Noite, sim, a outra, muitas vezes, menino ainda, nascido e criado no centro da cidade, saia de casa, a pedidos, mesmo à noite (os tempos eram outros), para comprar cartola em “seu” Madruga, que tinha uma lanchonete, no Ponto de Cem Réis (Praça Vidal de Negreiros) até o dia que o prédio onde o negócio existia ser derrubado para ceder espaço ao Viaduto Damásio Franca.

Então, o velho Madruga foi parar em Jaguaribe. Para recapitular o desenho do antigo Ponto de Cem Reis é preciso dizer que naquela praça havia dois pavilhões: um para o lado da Visconde de Pelotas (onde atuavam os engraxates) e o outro, para o lado da Duque de Caxias (justamente onde estava a lanchonete de “seu” Madruga) chamado de Ponto Chic. Enquanto isso, na parte central do rossio estacionavam carros de aluguel ou carros de praça, os atuais táxis.

Chofer (do francês chauffeur) de praça era como se chamava o taxista de hoje. Os carros se alinhavam de frente para o Paraíba Palace Hotel ou para o lado oposto ou para o lado do pavilhão dos engraxates ou para o lado do Ponto Chic. É preciso dizer que, à época, não havia o que se conhece hoje por taxímetro, que combina a medição da quilometragem com a correspondente tarifa para o transporte de passageiros. Portanto, o valor da “corrida” tinha de ser acertado antes com os choferes.

Mas voltando ao Ponto Chic, é justamente a recordação da lanchonete de “seu” Madruga que procuro trazer de volta à lembrança dos paraibanos de hoje. Nós – os meninos -, do que a gente gostava mesmo era do caldo de cana e do cachorro quente servidos na lanchonete. Não sei, mas creio que o famoso Tibúrcio, da Torre e da Festa das Neves, e o pessoal do Mundial Lanches, todos terão se inspirado no cachorro quente de “seu” Madruga.

Por falar nisso, o cachorro quente de João Pessoa difere completamente de tudo o que eu já conheci como cachorro quente em outras partes do país. Nos tempos do Ponto Chic, a iguaria era, assim mesmo, com carne moída e verdura picada. Com o tempo, o negócio foi ficando mais sofisticado, sendo adicionado ovo de codorna, batata palha, ervilha, milho verde, azeitona, queijo, um verdadeiro almoço. E o caldo de cana? Puxa vida, o caldo de cana!

Nesse particular, o Ponto Chic concorria com o Bar Querubim, na descida da Guedes Pereira. Com o fim de levar a garapa para casa, a gente tinha de se valer de um litro de vidro vazio, sempre existente em algum lugar da casa, ou de garrafas utilizadas para guardar água nas antigas “Frigidaire”, marca que, por décadas, serviu de sinônimo para geladeiras, a exemplo da marca “Gillette”, que virou sinônimo de lâminas de barbear.

Digressões à parte, a lanchonete do Ponto Chic era centro de convergência a servir estudantes e trabalhadores o dia inteiro e boa parte da noite. Em frente ao pavilhão que abrigava o pequeno, mas muito barulhento, empreendimento de “seu” Madruga ficava o ponto final e inicial dos bondes, conforme o destino do passageiro. Isso fazia com que o ponto fosse ainda mais concorrido.

Saudade do Ponto Chic no que representou um dia para a cidade de João Pessoa e para a nossa infância e adolescência!

(O pavilhão que abrigava o Ponto Chic existiu praticamente de frente para o espaço atual do Edifício Régis, o desta foto que fiz, outrora ocupado pela bem espaçosa, Farmácia Regis)

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba