Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua João Câncio da Silva (quem foi ele?) - Por Sérgio Botelho

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua João Câncio da Silva (quem foi ele?) - Por Sérgio Botelho


Entre as ruas mais importantes do bairro de Manaíra está a João Câncio da Silva, uma das que ligam as avenidas Ruy Carneiro e Governador Flávio Ribeiro Coutinho (Retão de Manaíra), essencial no sistema de tráfego e na vida cotidiana desse bairro de classe média alta na capital da Paraíba. No entanto, não é muito conhecido o homenageado de artéria tão vital e movimentada. Quem foi João Câncio? Aí, temos de voltar ao final do Século XIX, quando da criação do mais que centenário jornal A União, ainda hoje em circulação (aliás, o único jornal impresso diário na Paraíba). O primeiro número circulou em 2 de fevereiro de 1893, quando Álvaro Machado ocupava a presidência do estado. Entre os fundadores, nas funções de administradores, redatores e gráficos, lá estava o tipógrafo João Câncio da Silva para fazer história. Segundo a historiadora Fátima Araújo, em seu livro ‘Paraíba: imprensa e vida’, frequentemente citado em reportagens de A União, outros três tipógrafos lhe faziam companhia, a exemplo de Francisco Rodrigues Godinho, Francisco Aranha de Farias e José Ulisses Noronha. Na sequência, por toda a primeira metade do Século XX, João Câncio da Silva se tornou destacado líder operário, tendo participado muito ativamente de organizações mutualistas, a primeira forma de associação dos trabalhadores surgida na chamada Primeira República. Nas organizações mutualistas, os trabalhadores são tanto os proprietários quanto os operadores de seus negócios, e as decisões são tomadas democraticamente, geralmente seguindo o princípio “um membro, um voto”. Essas organizações tomam (porque ainda existem) várias formas, como cooperativas, associações de autoajuda, bancos cooperativos e fundos de seguro mútuo. As organizações mutualistas desempenharam papel de destaque na formação de um espírito associativo entre os trabalhadores, por meio de diversos mecanismos e práticas que enfatizavam a solidariedade, a cooperação e a autogestão. Câncio foi dirigente de algumas dessas associações, a exemplo da União dos Retalhistas, da Sociedade Beneficente Previdência do Lar, União Operária Beneficente e da União Gráfica Beneficente Paraibana, onde ocupou o cargo de presidente, segundo matéria de A União de 4 de janeiro de 1930. João Câncio da Silva construiu um círculo de amizades extenso na capital paraibana, de tal forma que, quando adoeceu em 1950, e chegou a apresentar melhoras significativas, lhe foi dedicada, por amigos, uma Missa de Ação de Graças na Catedral Metropolitana. Foi nessa pisada que garantiu a imortalização do seu nome na tão importante via do prestigiado bairro de Manaíra.