Eleições 2022

Cássio e Veneziano juntos: uma aliança que causa polêmica na Paraíba

Adversários históricos na política municipal em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) protagonizaram, no fim de semana, a primeira aparição juntos, após a aliança selada entre os dois grupos no segundo turno da disputa pelo governo da Paraíba. Os dois estão integrados ao projeto para eleger Pedro Cunha Lima, filho de Cássio, para governador do Estado, nas eleições do próximo dia 30, e foi assim que prestigiaram o anúncio de adesão do prefeito de Joca Claudino, Rinaldo Cipriano, à candidatura do deputado tucano, depois de ter votado no senador emedebista no primeiro turno. Cássio e Veneziano estão afinados em outro objetivo comum: dar o troco e derrotar o governador João Azevêdo, num caldeirão de revanchismos e ressentimentos que atraiu, também, por vias oblíquas, o interesse do ex-governador Ricardo Coutinho, que foi candidato ao Senado este ano, derrotado por Efraim Filho (União Brasil).

A aliança firmada por Veneziano com Pedro, com o aval de Cássio, ainda causa polêmica na conjuntura local pela pressa com que se concretizou e pela soma das incoerências que encerra e que os atores em cena procuram camuflar perante a opinião pública do Estado. O anúncio do apoio a Pedro, recebido com honras na sede do MDB em João Pessoa, aconteceu dois dias depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência da República, ter afirmado que seu compromisso na Paraíba, agora, será com o governador João Azevêdo, do PSB, que pleiteia a reeleição. João tem como desafeto seu padrinho ilustre em 2018, Ricardo Coutinho, que rompeu porque queria dar as cartas no governo de Azevêdo, supondo que houvesse “emprestado” o governo a ele. Por vias tranversas, Ricardo e Cássio voltam a se aproximar, tendo como pombo-correio o senador Veneziano Vital do Rêgo.

É no campo da esquerda, principalmente, que se verifica a maior indignação quanto ao apoio de Veneziano a Pedro Cunha Lima depois de ter sido declarado, oficialmente, o candidato do ex-presidente Lula na Paraíba no primeiro turno. Para tentar amaciar resistências, Veneziano justifica que continua fazendo sua parte no apoio à candidatura de Lula à Presidência da República e no empenho para ampliar essa votação. “Vené” não questiona, porém, a neutralidade de Pedro no segundo turno, dizendo “Não” a Jair Bolsonaro e “Não” a Lula, a pretexto de que, eleito governador, poderá se compor com qualquer um no trato dos interesses da Paraíba. No primeiro turno, Pedro abriu palanque para dois presidenciáveis – Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), anunciando seu voto nesta última. Tebet foi abandonada na Paraíba por Veneziano, que se apressou em apoiar Lula – e, por óbvio, sua votação no Estado foi insignificante.

Essas contradições de momento estão provocando reflexões sobre afinidades políticas-ideológicas entre Pedro Cunha Lima e Veneziano Vital do Rêgo, no exercício de mandatos parlamentares, quer na Câmara dos Deputados, quer no Senado. Na Câmara, Pedro e Veneziano votaram favoravelmente ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, do PT, episódio ainda hoje considerado decisivo para reaglutinação das forças de direita e sua reascensão aos quadros do poder nacional, via Michel Temer, o ex-vice de Dilma e, depois, através de Bolsonaro, que em 2018 derrotou Fernando Haddad porque Lula estava preso e não podia ser o candidato. Pedro é inquinado, ainda, por ter votado pela reforma que extinguiu direitos trabalhistas, além de ter dito Sim à reforma previdenciária, que prejudicou segmentos de trabalhadores no país. Todos esses fatos estão vindo à tona no afunilamento do debate entre duas candidaturas a governador da Paraíba.

O ex-governador Cássio Cunha Lima ensaiou um movimento estratégico calculado, de não interferência na campanha do filho Pedro, que foi liberado a se apresentar com sua própria identidade, com o chavão de que “Cássio é Cássio, Pedro é Pedro”. Essa não ingerência de Cássio foi apenas aparente durante todo o tempo da campanha, porque a verdade é que ele nunca deixou de estar ativo nas articulações de bastidores para dar impulso à candidatura do filho. Vale lembrar que a candidatura do deputado Pedro Cunha Lima foi lançada de forma improvisada, em meio à desistência do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, deputado federal eleito, em concorrer pela oposição ao Executivo. No começo, a campanha teve dificuldades para decolar e Pedro foi reforçado, providencialmente, pelo esquema do deputado federal Efraim Filho, que migrou para a sua chapa como candidato ao Senado e foi eleito, estando, ainda agora, empenhado decisivamente na vitória do aliado. Se Pedro tem pruridos de se assumir como bolsonarista, Efraim não mascara seu alinhamento com o governo do atual presidente, já sendo vasta a coleção de vídeos com palavras em tom de cordialidade entre eles. Alega-se que a aliança de Veneziano com os Cunha Lima é de “conveniência”, com viés pontual nas eleições deste ano, mas nos bastidores as tratativas são intensas, mirando o pleito municipal de 2024 em Campina Grande e a eleição mais à frente, em 2026, o que sinalizaria realinhamentos e recomposições entre conhecidos personagens do cenário político paraibano.

Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba