opinião

A praça Venâncio Neiva: glória e decadência - Por Sérgio Botelho

Foto: Reprodução

Há uma relação esquisita que o poder público mantém com a praça Venâncio Neiva e os seus Pavilhão do Chá e coreto, em João Pessoa. O logradouro marca o início das ruas das Trincheiras e Almeida Barreto, por um lado, final da General Osório e início da República, por outro, além de ser um dos principais caminhos de acesso ao bairro do Cordão Encarnado. E tem como vizinha, bem mais atendida, a Praça João Pessoa. De tempos em tempos, olha-se para ela com muito amor e desejo de mantê-la funcional. Na sequência, vem o lamentável deixa para lá, justamente o que marca o ciclo de agora.

O homenageado com o nome da praça, nascido na capital, ocupou o contíguo Palácio do Governo, na condição de inquilino maior, logo que proclamada a República. E não tinha como não ficar famoso perante a história sendo o primeiro presidente republicano do estado, a despeito da indiferença com que a Paraíba recebeu a notícia da queda da Monarquia pelo golpe de 15 de novembro de 1889.

Venâncio Neiva tinha até fama de ser monarquista, mas comandou o processo de feitura da constituição republicana da Paraíba. Voltando à praça, até final da primeira década do século XX o local não era alvo de maiores atenções governamentais. Perante o quase colado Passeio Público (atual praça João Pessoa) com seu coreto e suas animadas retretas, tinha valia urbana e social nula. Sequer possuía destinação certa. A ideia de ofertar propósito ao vazio ocorreu no governo Camilo de Holanda, em 1917, no embalo de outras obras importantes que vinham sendo realizadas. Dessa forma, antecedendo a efervescência urbanística da década de 1920 na cidade de Parahyba do Norte.

No centro da nova praça edificou-se uma pista de patinação, num interessante capítulo modernizador dos entretenimentos coletivos na Parahyba do Norte. Foi ainda belamente guarnecida de árvores e jardins. Como especial retoque, foi adornada com uma singular e estilosa balaustrada, e dotada de um magnífico coreto. Tudo saído da cabeça do arquiteto italiano Paschoal Fiorillo. Nessa conformação, o logradouro acabou, no início da década de 1920, abrigando as retretas do conectado Passeio Público, quando a velha praça passava por reformas. Uma década mais tarde, o então presidente João Pessoa fechou a área de patinação e a substituiu por um pavilhão que, na largada, virou ponto de encontro da elite em torno de um britânico chá das 5, exatamente atendendo o desejo do requintado líder paraibano.

Hoje, para repetir, a praça atravessa o período do abandono e se encontra tão degringolada que faz pena, com o Pavilhão do Chá completamente ocioso, o coreto se arruinando e a praça inteira em vergonhoso desuso. Ambiente com elevado poder de sedução para o crime. Apesar da insistência de moradores descendentes de mais que centenárias famílias remanescentes de migração italiana para João Pessoa. Refiro-me a pessoas que ainda residem em sua lateral, a da rua General Osório, em um emblemático casario cheio de muitas histórias e em vistosa harmonia com a praça. Muita resistência!

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Sérgio Botelho