Regra para 'sujar' nomes trava empréstimos

 dinheiro-no-bolso

Cerca de 13 milhões de dívidas que não foram pagas em 2015 em São Paulo deixaram de constar em sistemas de proteção ao crédito, como Serasa Experian e Boa Vista SCPC, por dificuldades que essas empresas tiveram em notificar os devedores.

Desde setembro, vigora uma lei estadual que determina que os inadimplentes devem assinar um aviso de reconhecimento da dívida antes de serem incluídos em listas de nomes sujos.

As empresas de proteção ao crédito, as responsáveis por notificar os inadimplentes, alegam que não conseguem as assinaturas. Em dezembro, 2% de pessoas e empresas que atrasaram pagamentos foram incluídas em cadastros negativos.

Uma das consequências é que a concessão de empréstimos ficou mais difícil, diz José Luiz Rossi, presidente da ANBC, associação formada pela Serasa e Boa Vista.

“Se o credor não consegue prever a probabilidade de o consumidor deixar de pagar a dívida, não arriscará conceder. Se o fizer, cobrará juros altos compensar o risco.”

Isso já acontece, diz Denis Correia, presidente da DMCard, que concede cartões a clientes de lojas e magazines.

“Até a lei, eu recebia 30 mil pedidos de cartão. Entre os negados, uma parte tinha nome sujo e outra não tinha perfil. Cerca de 50% eram aprovados. Agora, são 38%”, afirma o executivo.

A empresa desistiu de enviar os nomes dos devedores aos serviços de proteção de crédito para a notificação aos inadimplentes -o custo de R$ 9,70 não se paga, pois poucos clientes assinam o aviso de recebimento.

Em cartórios, reclamações de inadimplência crescem 26,7%

O número de títulos protestados em cartórios do país cresceu 26,7% em 2015, comparado ao ano anterior, de acordo com um levantamento da Boa Vista SCPC.

Foi a maior alta na série histórica, iniciada em 2006.

O índice cresceu tanto entre os títulos de empresas quanto os de consumidores, com aumentos de 18,9% e 38,4%, respectivamente.

Na soma, trata-se de cerca de R$ 43 bilhões que não foram pagos no país, segundo a instituição.

“Esse indicador é um espelho da economia. A alta é reflexo direto de um ano de recessão econômica, inflação e juros mais altos, o que aperta o orçamento e dificulta o acesso ao crédito”, afirma Bruna Martins, economista da entidade.

O tipo mais comum de títulos protestados é o de dívidas entre empresas.

Depois de acertar a conta, o devedor precisa pagar os custos do cartório para que seu nome deixe de constar no cadastro negativo.

A previsão é que o índice volte a crescer este ano, segundo Martins, uma vez que as condições econômicas não devem melhorar significativamente, diz Martins.

Folha