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“Principal suporte pedagógico”: professores e alunos criticam fim de livros didáticos em SP

Alunos e professores da rede estadual de ensino de São Paulo criticam a ideia do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de cortar livros didáticos e apostar apenas no conteúdo digital para as aulas.

Alunos e professores da rede estadual de ensino de São Paulo criticam a ideia do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de cortar livros didáticos e apostar apenas no conteúdo digital para as aulas.

Em entrevista ao Metrópoles, eles citam a falta de infraestrutura das escolas e defendem que o material impresso é uma ferramenta importante para guiar os estudos.

Os livros didáticos serão cortados para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio a partir do próximo ano. A ideia da pasta comandada por Renato Feder é que as aulas sejam baseadas em um conteúdo 100% digital.

Veja os principais problemas apontados por alunos e professores com a mudança:

Suporte pedagógico

“A tecnologia é sempre bem-vinda na escola, mas não dá para desconsiderar o livro didático. Ele é essencial para o aprendizado do aluno”, afirma o professor de Geografia da E.E. Pastor Emílio, Everton Souza, 33.

Ele explica que o material impresso é especialmente bem-vindo nas aulas em que os estudantes trabalham com figuras como os mapas, que demandam atenção aos detalhes. “Pela TV a visualização para os alunos é ruim”, afirma o educador, citando a televisão em que os slides são passados.

Para o professor de História Leonardo Felix, 38, o livro didático é o “principal suporte pedagógico” dos alunos. “Lá tem todo o conteúdo programático que a gente trabalha ao longo do ano”, afirma Leonardo.

Ele diz que o material físico é um aliado dos estudantes. “O livro didático impresso é algo com o qual o aluno já está familiarizado e é um material simples, ele pode carregar para onde bem entender”, diz o professor.

Falta de estrutura

A ideia de um conteúdo exclusivamente digital esbarra diretamente na falta de infraestrutura das escolas públicas estaduais, de acordo com os alunos e professores entrevistados pelo Metrópoles.

“A minha escola fica na região de Parelheiros e aqui o sinal de internet costuma ser de péssima qualidade”, afirma Leonardo.

O professor de história diz que as escolas não têm o aparato necessário para implementar as mudanças anunciadas pela Secretaria. “A gente não tem tecnologia para processar esse conteúdo”, diz ele.

Estudante da E.E. Alberto Conte, em Santo Amaro, Ana Vitória Silva, 15, conta que há lugares da escola em que a internet não funciona: “Eles querem deixar tudo digital, mas a escola em si não tem conectividade para todo mundo”, afirma a aluna.

A estudante diz também que faltam equipamentos de informática, como computadores e tablets, para as atividades. Segundo ela, os alunos usam os próprios celulares para fazer as tarefas enviadas pelos professores.

“Quando eu fui roubada, eu fiquei uma semana mais ou menos sem celular. E eu atrasei matéria de uma semana! Foi muito difícil porque já tinha acumulado um monte de coisa”, conta a aluna.

Impacto no estudo

“Eu sempre gostei de usar livro didático porque consigo me concentrar muito mais”, afirma Laura Men, 16.

Aluna da E.E. Alberto Conte desde o início do ano, ela afirma que se sente mais dispersa com os conteúdos digitais. No Fundamental, Laura estudou em um colégio particular e usava o livro para revisar conteúdos dados em aula.

“Todo aluno que tinha dúvida os professores falavam ‘volta para ler [no livro]’”, diz Laura, sobre o ensino na escola anterior.

Professor de História da E.E. Prof. Pércio Puccini, em Santo André, na região metropolitana, Daniel Sanches diz que também percebe os estudantes mais dispersos com os conteúdos digitais.

“O foco demasiado na tecnologia digital acaba tirando a atenção do aluno, a questão da concentração”, diz o educador.

Ele afirma que o livro é uma ferramenta pedagógica “muito importante” e defende que o material digital seja dado como um complemento ao conteúdo impresso.

Daniel discorda da decisão do estado de não aderir aos livros pedagógicos enviados pelo Ministério da Educação. “Quando eu era estudante a gente tinha que comprar os livros. É uma política pública importante para abrir mão assim”, diz ele.

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação diz que está trabalhando para que todas as escolas estaduais tenham a infraestrutura necessária, garantindo que os estudantes possam acessar os materiais, por meio da disponibilização de notebooks, tablets, smartphones e computadores.

“Caso um aluno não consiga acesso por esses meios, as unidades escolares estão autorizadas a imprimir o material”, afirma a pasta.

Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba