Investigações

Defesa cita negação e possível surto para mulher não ter percebido que tio estava morto

A defesa de Érika de Souza Nunes, presa há uma semana por ter levado o tio morto para sacar um empréstimo em uma agência bancária

Foto: REPRODUÇÃO/ RECORD RIO
Foto: REPRODUÇÃO/ RECORD RIO

A defesa de Érika de Souza Nunes, presa há uma semana por ter levado o tio morto para sacar um empréstimo em uma agência bancária, no Rio de Janeiro, alega que ela estava em estado de negação e possivelmente em surto para não ter percebido que o idoso estava sem vida.

“A gente entende que, naquele momento, a Érika entrou em um estado de negação. Ela não acreditou que o tio estava ou poderia estar morto. Segundo as primeiras palavras, ela só compreendeu que ele teria morrido no momento que o Samu chega ao banco, faz os primeiros socorros e, depois, certifica o óbito, juntamente com a chegada da polícia”, explicou a advogada Ana Carla Correa.

A advogada afirma ainda que, naquele dia, quando foi levada à delegacia, a sobrinha de Paulo Roberto estava aparentemente dopada. Segundo Ana Carla, Érika desenvolveu um quadro de depressão, após a realização de uma cirurgia bariátrica, e, desde então, teria se tornado dependente de medicamento controlado.

“Percebo que, independentemente da depressão e do questionamento de ter tomado medicamento excessivo, isso não a torna uma pessoa incapaz. Ela não é uma pessoa que tem que ser interditada. Porque ela conseguiu viver esse tempo todo, mesmo com essa luta, conflitos que não surgiram a vida toda. Foram acrescidos conforme foi passando o tempo após a bariátrica. Até então, ela não tinha depressão. Isso foi se somando às lutas diárias da vida dela”, analisou a defensora.

A advogada ainda acrescentou: “Mesmo tendo essa situação, ela não deixou de ser uma pessoa correta e do bem, o que nos faz crer realmente que, naquele momento, ela estava debaixo de um possível surto psicótico, estado de negação e de uma pressão. Ela estava negando a realidade dela naquele momento”.

O R7 teve acesso a dois relatórios médicos sobre Érika, do ano de 2022, que encaminharam a paciente para tratamento devido ao uso abusivo de hipnóticos. A médica, que assina um dos documentos, ainda cita que ela apresenta “ideação suicida” e “alucinações auditivas”.

Segundo a defesa, Érika chegou a fazer acompanhamento psicológico, mas, o tratamento deixou de ocorrer algumas vezes. Porém, não soube dizer em que momento a continuidade foi “quebrada”.

Nos próximos dias, a defesa pretende apresentar um laudo sobre o caso de Érika, com base em análises de assistentes técnicos, nos âmbitos psicológico, psiquiátrico e social.

A defesa aguarda o parecer da Justiça sobre o pedido de revogação da prisão preventiva.

Para a advogada, Érika não cometeu crimes, nem deveria estar presa:

“Quando a pessoa está num ambiente familiar, ela consegue ser curada. A Érika tem condições de voltar ao convívio familiar e, no convívio familiar, ter todos os cuidados, inclusive viver o luto do tio que ela tanto amava. O que quero dizer é que ela tem condições de responder ao processo em liberdade, voltar para o seio familiar, para poder continuar se cuidando enquanto o processo e a investigação seguem.”

Érika está ansiosa e abatida na prisão

A advogada esteve com Érika no Instituto Penal Djanira Dolores, em Bangu, zona oeste do Rio, na quarta-feira (24). Segundo Ana Carla, a cliente está chorosa, ansiosa, triste e abatida. Ela disse estar providenciado o receituário atualizado de Érika para ser entregue ao sistema penitenciário.

“Me pareceu muito ansiosa, até, talvez, seja por conta da não medicação. Mas não estava alterada. Estava ansiosa, agitada, normal para quem toma remédio e deixa de tomar no outro dia, igualmente para quem toma café e no outro dia não toma. Uma questão de possível vício mesmo”, afirmou a advogada.

Investigações

Para a polícia, Paulo Roberto Braga, de 68 anos, já chegou morto quando entrou em uma cadeira de rodas com a sobrinha na agência bancária, no último dia 16. Durante o tempo em que esteve no local, o idoso não esboçou reações e sequer manteve a cabeça firme.

Apesar de o laudo do IML (Instituto Médico-Legal) ter sido inconclusivo sobre o horário do óbito, a advogada Ana Carla disse acreditar que o tio de Érika faleceu dentro da agência bancária.

Ela também rebateu as suspeitas do delegado Fábio Luiz Souza, responsável pela investigação, de que Érika simulou que o idoso estava vivo ao segurar a cabeça dele e ao “fingir” que conversava com ele dentro do banco.

“Ela segurava a cabeça dele a todo momento. No dia anterior, inclusive, quando ele estava vivo e segurou a porta. Ela segura a cabeça quando sai do carro, ao entrar no banco, ao beber água, inclusive, até a atendente do banco segura a cabeça dele.”

R7