gestão de crise

Donos da H.Stern dão aulas de ética como parte de delação na Lava-Jato

RIO – Professor Roberto, nervoso, chega para a aula de Apresentação e Comportamento. É segunda-feira, 5 de junho, 8h20m. Os estudantes não sabem, mas é a primeira vez que ele exerce esta função. Os cerca de 30 jovens ali presentes tampouco têm ideia de que estão diante do presidente de uma das maiores joalherias do Brasil, a H.Stern, fundada por seu pai Hans em 1945 e tragada pelo escândalo do esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). (Leia mais: Cabral vai para presídio com maioria de detentos ligados a facção de SP)

Roberto Stern e o irmão e vice-presidente da empresa, Ronaldo, e dois diretores, Maria Luiza Trotta e Oscar Goldemberg, assinaram acordo de delação premiada. A colaboração ajudou o Ministério Público Federal (MPF) a desvendar parte do esquema de lavagem de dinheiro por meio da compra de joias que, como aponta a força-tarefa da Lava-Jato no Rio, era mantido por Cabral.

No acordo, comprometeram-se a pagar multa e a prestar serviços comunitários para impedir prosseguimento de ação de lavagem de dinheiro. Cabral e seu grupo usaram a H.Stern e a Antonio Bernardo para ocultar dinheiro que, segundo a Lava-Jato, era parte do esquema do pagamento de propina.

Segundo investigadores, Cabral comprou dezenas de joias para lavar dinheiro – Agência O Globo

E é por isso que, agora, dão aulas de capacitação para jovens entre 16 e 20 anos de comunidades carentes do Rio. Para esses alunos, os Stern são apenas “professor Roberto” e “professor Ronaldo”. Os dois falaram ao GLOBO sobre a “nova função”.

— A gente é visto como professor. É o professor Ronaldo, professor Roberto. Até nos chamam de tio. Eles não sabem por que estamos fazendo isso. Cria-se um clima de respeito para que as aulas funcionem mesmo — diz Roberto Stern, na primeira entrevista que concede desde o escândalo. — A primeira aula que eu dei, quase morri de nervoso.

Os alunos não têm o hábito de perguntar sobre a rotina ou a profissão verdadeira dos “professores”. Ronaldo, que ajuda o irmão no gerenciamento de mais de 120 lojas mundo afora, inclusive em cidades como Paris, Nova York e Moscou, lembra das questões inocentes que já respondeu aos alunos:

— Já perguntaram se eu já tinha viajado para fora do país, se eu falava inglês. Eles não têm noção de quem somos.

CURSO DE CAPACITAÇÃO

Roberto e Ronaldo percorreram algumas ONGs para se encaixar no perfil desejado. No fim, chegaram à conclusão de que o melhor seria desenvolver o próprio projeto. Levaram a ideia ao MPF, que aceitou a proposta. Sinal verde dado, começou o corre-corre para executar o plano.

Foi, então, que reformaram parte de um espaço que a H.Stern tem na Zona Norte do Rio, onde é feita toda a decoração das vitrines das lojas — inclusive as do exterior. Três líderes comunitários ajudaram a divulgar o curso entre os jovens das favelas.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo