importunações sexuais

A sexualização da brasileira: por que nossas mulheres são tão assediadas no exterior

Letras em neon luminoso mandam o recado: "Are you Brazilian? Oh, I love Brazilian women"  [Você é brasileira? Ah, eu amo mulher brasileira]. Poderia ser a frase de um "amiguinho" estrangeiro que você, mulher brasileira, conheceu em suas andanças por outros lugares do mundo. Mas trata-se do texto exposto na obra "Brazil", da artista visual Santarosa Barreto, uma referência direta às importunações sexuais enfrentadas por mulheres brasileiras fora do país.

Letras em neon luminoso mandam o recado: “Are you Brazilian? Oh, I love Brazilian women”  [Você é brasileira? Ah, eu amo mulher brasileira]. Poderia ser a frase de um “amiguinho” estrangeiro que você, mulher brasileira, conheceu em suas andanças por outros lugares do mundo. Mas trata-se do texto exposto na obra “Brazil”, da artista visual Santarosa Barreto, uma referência direta às importunações sexuais enfrentadas por mulheres brasileiras fora do país.

Fruto de uma residência artística de Santarosa no exterior, a obra foi exposta em 2019 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e, a partir de 14 de janeiro, ocupará seu espaço entre as 12 peças que compõem a exposição coletiva “Oh, I Love Brazilian Women!”, na apexart de Manhattan, em Nova York. Na mostra, concebida pela curadora e tradutora Luiza Testa, doze artistas brasileiras questionam a erotização do corpo feminino brasileiro no imaginário internacional, estereotipado, objetificado e violentado por falas e atos sexualmente agressivos.

– A mulher brasileira sofre com o assédio tanto no Brasil quanto no exterior. A diferença é que, muitas vezes, no exterior, há uma sensação maior de insegurança devido ao fato de estarmos em um ambiente menos conhecido.Além disso, a natureza dos comentários feitos frequentemente deixa claro que o assédio sofrido no exterior tem uma ligação forte com o fato de sermos mulheres brasileiras; enquanto no Brasil, deve-se “apenas” ao fato de sermos mulheres – diz Luiza Testa.

E não é apenas o assédio sofrido naquele primeiro encontro no bar, na roda de amigos. Mesmo em espaços privados, a  subjugação da mulher brasileira se manifesta em outros países. Outra obra da mesma mostra, “OurBodies, Ourselves”, da artista Juliana Manara, que há anos mora fora do país, partiu de uma estatística alarmante: quatro em cada cinco mulheres brasileiras em Londres sofreram com algum episódio de violência doméstica.

– O imaginário estrangeiro é permeado pela ideia de um Brasil totalmente disponível tanto em termos de território quanto em relação às mulheres. Algo que remete à colonização, à escravidão e a um ideal folclórico e exoticizado sobre o país. Homens estrangeiros habitualmente acreditam ter uma abertura com a mulher brasileira que, na verdade, não têm. Em muitos países europeus, as mulheres brasileiras estão associadas à prostituição, como se isto autorizasse de alguma maneira a importunação sexual. O homem enxerga o corpo de uma prostituta como sendo público, uma mulher que julga ser promíscua ou propositalmente sensual – acrescenta a curadora.

Luiza Testa conta que, durante a pesquisa para a exposição, descobriu uma conta de Instagram (@brasileirasnaosecalam) com mais de mil relatos de assédios sofridos por mulheres brasileiras imigrantes. A cada postagem, “mais dezenas de comentários endossando o sentimento, o que mostra que este é um ponto em que muitas mulheres brasileiras, infelizmente, se identificam”, diz Luiza, que também conversou com amigas e conhecidas e percebeu que muitas compartilhavam destas experiências.

– Ao olhar para as artistas brasileiras que já admirava, notei que muitas das obras delas abordavam, direta ou indiretamente, o assunto. Não foi difícil encontrar obras que caíssem ilustrassem muito bem o tema, mas, acima de tudo, que comprovassem o grau de complexidade e diversidade das mulheres brasileiras, algo que imediatamente invalida este estereótipo – conclui.

Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba