Um governador rumo à cadeia

Sim, mas isso é nos Estados Unidos, em Illinois

“Francamente, estou chocado.”  Assim, o ex-governador de Illinois Rod Blagojevich demonstrou toda a sua surpresa por ter sido condenado em dezessete acusações de corrupção, suborno, extorsão e fraude. Francamente, era o único. O volume de evidências contra Blagojevich era tal que seria um choque se ele fosse absolvido. Em investigações do FBI, que gravou secretamente seus telefonemas, o então governador aparece tentando vender a cadeira de senador que Barack Obama, recém-eleito presidente, deixaria vazia em seguida. Como o Senado americano não tem a figura do suplente, cabe ao governador indicar o ocupante da cadeira vaga até nova eleição. Em troca da nomeação, Blagojevich pediu de tudo: um cargo de ministro, uma embaixada, dinheiro para campanha.

A condenação de Blago, como é chamado, não é uma surpresa. Em Illinois, um dos estados mais corruptos do país, dos últimos oito governadores, quatro foram presos. Aos olhos de um brasileiro, no entanto, o caso Blago correu em velocidade alucinante. Em 9 de dezembro de 2008, agentes do FBI foram à casa do então governador e o levaram algemado para a polícia. Na semana passada, dois anos e meio depois, Blago já passara por todos os ritos políticos e jurídicos: afastado do cargo (9 de janeiro de 2009), cassado por unanimidade (29 de janeiro), indiciado (2 de abril), denunciado (14 de abril) e julgado (17 de agosto de 2010). Como os jurados não conseguiram chegar a um veredicto, o novo julgamento começou em abril e acabou na semana passada, com a condenação em dezessete de um total de vinte acusações.

Quando for definido o tamanho da pena, um órgão federal vai decidir em que penitenciária o ex-governador passará a morar. Não poderá gastar mais do que 290 dólares mensais na cantina da prisão e terá de trabalhar. No Brasil, o caso mais parecido com o de Illinois – e da mesma época – ocorreu na Paraíba. Em fevereiro de 2009, o então governador Cássio Cunha Lima foi cassado por usar 3,5 milhões de reais de dinheiro público para comprar votos. No ano passado, elegeu-se o senador mais votado da Paraíba, com 1 milhão de votos. Agora, com o vale-não-vale da Lei da Ficha Limpa, disputa judicialmente seu direito à cadeira no Senado. Há um mês, foi escolhido para membro da direção nacional do PSDB.

Do Blog com Veja