Jovem disputa esqui com equipamento emprestado e leva o ouro

Ester Ledecka entrou na sala para a coletiva de imprensa de óculos de neve. Aqueles grandes, que escondem quase o rosto todo. Foi aplaudida e sorriu. Sentou-se diante de dezenas de jornalistas e sorriu mais uma vez. Logo de primeira, a pergunta que não queria calar: Por que os óculos?

“Não estava preparada como as outras atletas. Não tenho maquiagem aqui comigo”

A menina de 22 anos acabara de ser campeã olímpica do esqui alpino Super G – prova na qual a americana Lindsey Vonn marcava seu retorno aos Jogos depois de oito anos. Uma zebra. Até aí, tudo bem. Essas coisas acontecem. Mas a zebra era muito maior. O esqui alpino não é o primeiro esporte de Ledecka, que disputou a prova com esquis emprestados pela americana Mikaela Shiffrin. Ela é bicampeã mundial adulta e bicampeã junior de snowboard. Na próxima semana, inclusive, compete no Slalom Gigante Paralelo em PyeongChang. Na tarde deste sábado, madrugada no Brasil, ela chocou o mundo olímpico. E pela sua expressão, ela mesmo.

– Eu estava só… sei lá. É difícil explicar. Eu passei a linha de chegada, parei e achei que fosse engano. Esperei mais alguns segundos, achei que eles fossem mudar o tempo e nada aconteceu. Aí todo mundo estava gritando. Eu realmente não sei o que aconteceu. Foi demais. Provavelmente, eu era a única snowboarder por aqui. Todas as outras garotas não correram tanto risco. Deve ter muita pressão sobre elas. Eu apenas estava tentando fazer minha melhor descida – disse, ainda incrédula.

Rivais se rendem ao talento

Filha de uma ex-atleta da patinação artística com um cantor de renome na República Tcheca, Ledecka conviveu desde cedo com o esporte. Começou com o hóquei, esporte pelo qual seu avô Jan Klapac conquistou duas medalhas olímpicas pela antiga Tchecoslováquia (1964 e 1968). A garota nascida em Praga cresceu, se tornou referência no snowboard, mas gostou da ideia de competir no esqui alpino. Quase foi para Sochi, em 2014, mas acabou não se classificando. Em 2016, tornou-se a primeira atleta a competir nos dois circuitos mundiais. Quatro anos mais tarde, ganhou nova chance. Agora para enfrentar medalhistas olímpicas e mundiais do Super G. E elas se renderam à rival.

– Para mim foi uma grande surpresa ela ter vencido. Ela teve uma grande descida e mereceu. Eu dou os parabéns a ela por causa disso – disse a austríaca Anna Veith, atual campeã olímpica da prova e que acabou com a prata em PyeongChang por um centésimo de segundo (1min21s11 x 1min21s12).

– É incrível. Eu a vi esquiando no Chile e falei com ela pela primeira vez lá. Ela é muito talentosa e vem progredindo muito – disse a terceira colocada Tina Weirather, de Liechtenstein.

“Eu não deveria estar sentada aqui hoje. Era para eu estar andando de snow, treinando”

Nos dias 22 e 24 de fevereiro, Ledecka volta a competir no Slalom Gigante Paralelo. Nessa prova, sim, ela é favorita. Por falar nisso, estava se sentindo um peixe fora d’água na coletiva de imprensa dos medalhistas do Super G justamente por conta da preparação para o snowboard.
– Na verdade, não quero ser rude, vocês são ótimos, mas eu não deveria estar sentada aqui hoje. Era para eu estar andando de snow, treinando – brincou a tcheca.

#PrimasDeOuro: Ledecka ou Ledecky?

Amante dos esportes. Além de esqui, hóquei e snowboard, Ledecka também pratica esportes de verão. Ela adora vôlei de praia, windsurf e wakeboard. Após o feito no esqui alpino, foi questionada com bom humor se não estaria nos Jogos de Tóquio 2020. A resposta: “Por que não?”. E quem conhece muito bem a Olimpíada de Verão é a nadadora americana Katie Ledecky, dona de cinco medalhas de ouro na Rio 2016 e nove vezes campeã mundial. Ela usou as redes sociais para parabenizar a “parente”, uma brincadeira com a semelhança no sobrenome das duas: “Ester, acho que temos alguma relação (familiar). Precisamos fazer um teste de DNA? #PrimasDeOuro”.

Fonte: Globo Esporte
Créditos: Globo Esporte