Temendo evolução do WhatsApp, Tim e Oi dão primeiros passos para acabar com 'efeito clube'

Expectativa é que a receita de dados supere a de voz no primeiro semestre de 2016

oiTim e Oi, as duas maiores operadoras em número de clientes de celulares pré-pagos, deram nesta semana um passo ousado. Ambas deixaram de cobrar a mais de seus clientes nas chamadas a empresas concorrentes.

Para usufruir do benefício, os clientes deverão migrar para os novos planos.

Desde que a telefonia celular se tornou uma realidade na vida dos brasileiros, as teles cobram um valor a mais por minuto nas chamadas realizadas por seus clientes a operadoras concorrentes.

Ao contrário do valor a mais, as teles sempre deram descontos nas chamadas para números da própria operadora, ainda que um esteja no Oiapoque (AP) e outro, no Chuí (RS).

Os consumidores passaram então a adquirir um chip de cada empresa para trocá-los dependendo da operadora do destinatário. Esse comportamento, batizado no setor de “efeito clube”, sempre foi muito forte entre os clientes pré-pagos.

No pós-pago, toda vez que um cliente aciona um número concorrente, paga um valor a mais por minuto -uma forma de remunerar os custos pela interconexão entre as redes das empresas.

Neste caso a regra é: quem chama a concorrente paga a interconexão. As teles sempre fizeram esse acerto de contas entre elas uma vez por mês e essa receita foi muito importante até alguns anos atrás, variando entre 35% e 40% da receita total.

Dois movimentos recentes levaram à mudança atual. O primeiro deles foi a decisão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) de reduzir gradativamente os valores da interconexão entre as operadoras. Hoje, ela é de R$ 0,16 por minuto. Em fevereiro de 2016, passará a R$ 0,10, e deixará de existir em 2018.

Ou seja: mais cedo ou mais tarde, o “efeito clube” chegaria ao fim. Mas Tim e Oi decidiram antecipar essa data. Os motivos são diferentes.

A Tim está fazendo uma jogada arriscada e, segundo seu presidente Rodrigo Abreu, “muito bem calculada”. Segunda maior em clientes totais (pré e pós) e líder no pré, ela está tentando fidelizar sua base pré-paga ao oferecer planos com o dobro da franquia de dados.

De um lado, ela prevê perder um pouco tendo de pagar pelo aumento do custo das chamadas realizadas de Tim para outras operadoras mas, de outro, espera ganhar mais com o tráfego de dados.

A expectativa é que a receita de dados supere a de voz no primeiro semestre de 2016.

Na Oi, a quarta do mercado em clientes e também forte em pré-pago, a motivação é não só fidelizar a base pré como ganhar clientes das concorrentes especialmente em locais onde a participação da empresa é fraca.

“Teremos custos com interconexão? Sim. Mas teremos a chance de gerar receita que não teríamos sem esse movimento”, diz Bernardo Winik, diretor de varejo da Oi. “Não temos muito a perder.”

Existe ainda um motivo comum. Os aplicativos que permitem chamadas via internet, como o Whatsapp, estão impedindo as teles de gerar receita de voz.

O presidente da Vivo, Amos Genish, chegou a chamar o serviço dessesaplicativos de “pirataria”. O sindicato que reúne as teles pressiona o governo para tomar providências e taxar os produtores de aplicativos como se fossem empresas de telefonia.

Apesar disso, Vivo e Claro ainda não decidiram se acabarão com a cobrança extra nas chamadas para concorrentes, o que poderia acabar com o uso dos aplicativos que hoje substituem as chamadas de voz.

Folha de S. Paulo