história shakesperiana

A crônica de uma tragédia não anunciada; "Sua vida bem semelhante às da telinha? " - Por Jaiane Valentim

A teledramaturgia perde de forma trágica um dos melhores atores que surgiram na última década. E agora pouco importa qual solução o autor vai dar para explicar o sumiço definitivo do ator. Uma vida se foi, mas a certeza que fica é que ele morreu fazendo o que mais amava.

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Quantas vezes você ouviu a frase: “a arte imita a vida?” e se lembrou de situações que aconteceram na sua vida bem semelhante às da telinha?

Mas e quando os valores se invertem? Quando a vida imita a arte é algo que, inevitavelmente, choca. Você está lá assistindo a novela e pensa: não é possível que exista alguém tão frio e mau como esse vilão. Mas, sim, existe. E os exemplos nos são mostrados todos os dias no noticiário. A atual novela das 9 da Globo, Velho Chico, escrita por Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi se mostra, infelizmente e surpreendentemente, ser um exemplo dessas duas vertentes.

As águas do Rio São Francisco, acompanhadas pelo lindo cenário da cidade de Piranhas, em Alagoas, (que na novela transformou-se Grotas de São Francisco) banham uma história shakesperiana: o amor impossível entre Santo (Domingos Montagner) e Tereza (Camila Pitanga) por causa da rivalidade de suas famílias. Depois de altos e baixos, e faltando poucas semanas para o último capítulo ir ao ar, os dois finalmente se acertam e já encaminhavam seu final feliz.

Mas quis o destino, destino esse que Santo tanto falava, que a vida do ator fosse interrompida inesperadamente na tarde desta quinta-feira quando, em seu momento de folga, foi mergulhar nas águas do São Francisco, desapareceu e, horas depois, foi encontrado morto.

Curiosamente, nos capítulos iniciais de Velho Chico, um filho de Encarnação (Selma Egrei) morreu afogado na trama. Já no meio da novela, Santo, após ser baleado, some no rio e é salvo por índios e pelo amor de Tereza (Camila Pitanga). E por agora, nos capítulos finais, Encarnação e Afrânio (Antônio Fagundes) tentarão se matar nas mesmas águas.

Estas cenas foram a crônica de uma tragédia não anunciada.

Paulista, 54 anos. Casado e com três filhos. Doze trabalhos na TV, nove filmes e seis peças de teatro. Sete prêmios. O currículo pode parecer extenso, mas sua carreira na televisão começou em 2008 e o reconhecimento pela crítica e público veio em Cordel Encantado, novela das 6, interpretando o Capitão Herculano Araújo, em 2011.

Seu trabalho mais elogiado, no entanto, é Sete Vidas, quando viveu o protagonista Miguel, fazendo par romântico com Débora Bloch.

A forma como o ator se entregava em cena fazia jus aos diversos convites que recebeu após “estourar” no meio.

Em Velho Chico, chama a atenção o olhar ora esperançoso, ora desacreditado; o sorriso ao beijar Tereza, a rigidez e compenetração ao contracenar com a problemátca ex-mulher, Luzia (Lucy Alves). Tudo em Montagner é crível porque era nítido que entrega ali não faltava. E o talento ficava, nessa entrega, evidente.

A teledramaturgia perde de forma trágica um dos melhores atores que surgiram na última década. E agora pouco importa qual solução o autor vai dar para explicar o sumiço definitivo do ator. Uma vida se foi, mas a certeza que fica é que ele morreu fazendo o que mais amava.
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