Se Ricardo Coutinho não sabe o que se passa na cozinha, como ele pode administrar o resto da casa?

Por ILANA ALMEIDA

Uma pergunta aparentemente boba revelou grande “desconhecimento” do governador Ricardo Coutinho e nos deixou dúvida sobre a capacidade de administração de pequenos  e grandes problemas do Estado.

Na tarde de ontem, 30, Ricardo participou de entrevista na rádio Sanhauá e ao ser questionado, através do Twitter, por ex cozinheira da Granja Santana a respeito do motivo da troca frequente de cozinheiras na casa do governador, mais de trinta durante pouco mais de três anos de governo, Ricardo se irritou e hostilizou quem fez a pergunta e quem a transmitiu para ele, nesse caso, a jornalista que vos escreve.

Em tom de deboche, o governador respondeu:  “Aí é demais, uma cozinheira? Você fazer uma pergunta dessa…Uma cozinheira? Trinta cozinheiras? Eu não tenho nem ideia. Você acha que o governador vai tratar de cozinha?” (ouça abaixo), ironizou na tentativa de desqualificar o debate ou de não revelar os reais motivos que o leva a demitir tantos profissionais da cozinha da Granja Santana.

Minha mãe já me dizia que quem não sabe o que se passa na sua cozinha, não poderá cuidar bem do resto da casa. E eu sempre enxerguei essa afirmação da “minha filósofa do dia a dia” extremamente assertiva, sobretudo quando, ao estudar os processos de civilização dos povos, me deparei com filósofos catedráticos, a exemplo de Max Weber, ítalo Calvino, ou os socráticos gregos com o conceito de “polis”, que indicam a administração doméstica como a base para a construção do “animal político” nas organizações das cidades, estados e nações.

Com base nesse conhecimento, me soou muito estranho o governador da Paraíba revelar que não sabe o que se passa no interior da sua cozinha.

Talvez a falta de atenção com a administração doméstica tenha ocasionado os gastos altos, na Granja Santana, investigados pelo Tribunal de Contas da União e publicizados pela imprensa nacional. Relembro o trecho de matéria divulgada na revista IstoÉ:

“Um relatório do Tribunal de Contas, obtido por ISTOÉ, revela que as festas promovidas na Granja Santana – como é chamada a residência onde moram o governador e a primeira-dama – consumiram 17,4 toneladas de carnes, peixes e frutos do mar, só no ano de 2011. Na mesma prestação de contas, que o órgão de fiscalização classificou como um dos inúmeros “exageros de gastos”, havia uma nota registrando a compra de 60 quilos de lagosta. Além das despesas com comida, os auditores descobriram que até o enxoval do bebê de Pâmela e Coutinho foi pago pelo contribuinte. O governador não mexeu no próprio bolso nem mesmo para comprar os móveis para o quarto do filho ou as bolsas para carregar mamadeiras. A quantidade de farinha láctea adquirida para a criança também espantou o tribunal: foram 460 latas apenas entre os dias 21 de novembro e 13 de dezembro de 2011.”

As atribuições de um governador de estado, acredito, são inúmeras. Eu até entenderia se Ricardo Coutinho dissesse que essa responsabilidade e entregou nas mãos da primeira dama, jornalista Pâmela Bório, que pela “baianidade” não se deu bem com paladar da alimentação feita pelas cozinheiras paraibanas. Seria uma hipótese.

Mas dizer que não sabe o que se passa na própria casa, na sua cozinha, nos deixa com mais dúvidas sobre o que se passa na Granja Santana. Será que a cozinheira, autora da pergunta, tem razão quando disse que a classe é desvalorizada na casa de Ricardo Coutinho? O que será que as cozinheiras paraibanas tem que não agradam o paladar do chefe do executivo? Por que o desconforto do governador ao ser questionado sobre o que se passa na Granja?

Perguntas que estão sem resposta. E ainda, a maior dúvida: quem não sabe o que se passa na própria cozinha, pode administrar nossa casa chamada Paraíba?

istóé