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Webnamoradas cobram R$ 20 para ter relacionamentos virtuais de aluguel

Assim como os amigos virtuais, pessoas que mantêm uma amizade apenas no ambiente digital seja por causa da distância ou tempo, existem os namoros virtuais, batizados pela geração Z de webnamoros.

Com caretas fofinhas, emojis, nomes asiáticos e o mais importante: o filtro de raposinha, feito no aplicativo coreano Snow. São assim que algumas garotas se apresentam em fóruns onde pessoas anunciam e comercializam seus talentos, como design gráfico e desenho.

Porém, nestes ambientes, têm crescido um novo tipo de serviço: o de web relacionamentos. Nessas plataformas, jovens de 20 e poucos anos vendem seu tempo e sua atenção no meio digital por pacotes que custam por volta de R$ 20 a diária (mas há quem cobre esse valor por três dias). Elas são as webnamoradas profissionais.

Assim como os amigos virtuais, pessoas que mantêm uma amizade apenas no ambiente digital seja por causa da distância ou tempo, existem os namoros virtuais, batizados pela geração Z de webnamoros. “É quando um casal se conhece em alguma plataforma, o interesse bate e eles conversam, compartilham o dia a dia e, eventualmente, trocam algumas carícias virtualmente”, explica Hime*, 20, que oferece o serviço há quatro meses. Segundo a jovem, o papel da webnamorada é conversar com o cliente e ser sua parceira em games online como League of Legends e World of Warcraft.

Hime mantém, atualmente, 10 “webnamorados”. Ela não deu detalhes sobre o quanto tirava mensalmente com o serviço, mas, em seu anúncio em um fórum especializado, ela cobra R$ 25 o dia no pacote que inclui fotos de seu rosto com filtros fofos, vídeos e companhia em jogos. Mas este não é o único campo de atuação de Hime: ela também é camgirl, ou seja, faz vídeos eróticos pela internet. No entanto, a grande maioria das meninas que oferece o serviço de relacionamento online prefere parar na conversa.

É o caso de Hellen Miyata, 19, de Sumaré (SP). A garota largou a faculdade de medicina veterinária e se viu sem trabalho e sem estudos. Inicialmente pensou em vender pacotes de fotos de partes de seu corpo. “Mas achei que poderia atrapalhar a minha vida pessoal”, explica.

Hellen está, há um ano, em um relacionamento sério. “Fiquei desconfortável porque fotos de pés ou mãos tem um quê erótico”. Por isso, há duas semanas optou por oferecer o serviço de webnamorada para tirar “uma graninha”. O namorado dela sabe qual é a principal ocupação de Hellen. Ela cobra R$ 20 por dia útil e R$ 30 por fins de semanas e feriado. Atualmente, mantém dois clientes fixos. Para estabelecer limites para seus clientes, a jovem é bastante criteriosa na negociação. “Deixo claro que não mando fotos sensuais e não falo da minha vida pessoal”. No entanto, sua posição contra pornografia acaba lhe custando alguns clientes. “Outras meninas costumam cobrar menos e oferecem nudes, então a concorrência é grande”.

Jovens solitários

Segundo as webnamoradas profissionais, quem costuma contratar seus serviços são homens jovens, de 20 e poucos anos, que normalmente se sentem solitários. “São pessoas que não têm alguém para conversar e querem desabafar ou bater um papo legal”, explica Hime. Assim, assistir animações japonesas pela internet e trocar links engraçados e gifs acabam fazendo parte da rotina do relacionamento virtual de aluguel.

No início do serviço, elas fazem questão de perguntar exatamente o que cada cliente espera delas. “Pergunto por qual apelido ele quer que eu o chame e como seria a personalidade da namorada perfeita”, fala Hellen. “Amorzinho” e “senpai” — pronome de tratamento japonês usado para pessoas mais experientes — são os favoritos dos clientes. As profissionais garantem que agem exatamente como uma namoradinha virtual agiria. O que difere o trabalho de um relacionamento real é a atuação. “Eu crio personagens para satisfazer o que aquela pessoa contratou, mas é tudo fantasia”, diz Hellen.

Porém, em alguns casos, os pedidos podem ser um tanto estranhos. Um cliente de Hellen, por exemplo, pediu para que ela falasse usando voz de criança. “Eu tinha que ser o mais inocente possível”, afirma. No entanto, ela começou a estranhar a fixação da pessoa por essa imagem infantil. “Parecia com pedofilia. Foi quando eu decidi devolver o dinheiro e bloqueá-lo. Achei doentio e não queria compactuar com aquilo.” Mas esse tipo de preferência não é uma exceção. “Para eles, quanto mais jovem você aparenta ser, mais atraente.”

Tsuna*, 24, diz que é comum receber, em suas mensagens privadas em fóruns de web relacionamentos, muitas mensagens esquisitas. “Existe fetiche para tudo, né? Mas uma vez um cara me pediu para mandar uma foto defecando. Este realmente me surpreendeu, mas não mandei nada para ele”, narra, dando risada. Ela é analista de atendimento em uma assistência 24 horas, mas presta o serviço de webnamorada para complementar a renda. “Não é algo difícil para mim, sempre que sobra um tempo eu mando uma mensagem”. Ela já recebeu, em um mês, R$ 280 por seu serviço e, atualmente, mantém quatro clientes fixos. “Eu me sinto bem conversando com essas pessoas, é como se eu estivesse os ajudando.”

Web psicóloga ou namorada perfeita?

Hellen comenta que o trabalho de uma webnamorada pode ser emocionalmente contraditório. “Eu fico muito grata por conseguir dar um apoio para esses caras que poderiam estar sozinhos, pensando em sei lá o quê. No entanto, estou tirando proveito dessa fragilidade deles, lucrando com isso. É uma faca de dois gumes”, reflete. “Como são pessoas muito tímidas e que não conseguem socializar, eles querem receber muita atenção e carinho”, fala Tsuna.

Há algumas semanas, um print de um fórum de webnamoradas viralizou nas redes sociais. O anúncio de Tsuna estava na imagem. Desde então, ela tem visto sua cartela de clientes aumentar, mas também se tornou alvo de críticas “Muita gente começou a falar mal. Disseram que quem faz essas coisas não se valoriza, não quer nada com a vida, que ninguém vai levar a gente a sério e que era webprostituição”, fala Tsuna. “E se fosse também, não é algo negativo, afinal é uma profissão como qualquer outra.” Hellen, por sua vez, não tem uma opinião definida sobre o assunto. “Se você for ver, estou vendendo o meu tempo e meu carinho. É bem complexo.”

Fonte: UNIVERSA
Créditos: UNIVERSA