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Será difícil se eleger em 2018 sem prestar homenagem à Lava Jato - Por Celso Rocha de Barros

Na última segunda-feira (27), os procuradores das forças-tarefas da Lava Jato de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo lançaram a “Carta do Rio de Janeiro”. O documento faz um balanço das realizações da operação, denuncia a reação da classe política –em especial do Poder Legislativo– contra as investigações e termina apelando ao eleitorado para que, em 2018, eleja deputados e senadores comprometidos com o combate à corrupção.

“Votem em candidatos honestos” é sempre um bom conselho, mas é difícil saber qual será o impacto do apelo dos procuradores.

A eleição de 2018 acontecerá no meio da Lava Jato: a grande maioria dos acusados deve ser capaz de concorrer, por não terem sido ainda condenados. Os grandes partidos não passaram por qualquer processo de renovação digno do nome e ainda têm políticos enrolados entre suas principais lideranças.

Se é a mesma turma que controla os partidos, será ainda com ela que os candidatos a presidente da República terão que negociar os ativos eleitorais que dependem de apoio de grandes bancadas –recursos do fundo partidário, tempo de TV e estrutura de campanha.

Daí se compreende a preocupação dos procuradores: os políticos envolvidos na Lava Jato chegarão em 2018 com recursos de poder ainda muito expressivos em suas mãos (inclusive a Presidência da República). É difícil imaginar que, quando esses recursos estiverem sendo negociados com os candidatos a presidente, o tema “o que você vai fazer para me manter fora da cadeia?” não apareça.

A vida dos candidatos a presidente, enfim, não será fácil.

Será difícil se eleger sem prestar homenagem à Lava Jato de alguma forma: a operação ainda é muito popular.

Mesmo candidatos investigados devem dizer que as acusações contra si são um excesso lamentável em uma operação que, no geral, é boa para o país (falando de sua prisão, Eike Batista recentemente declarou que “revoluções cometem erros”). Enfatizarão o quanto o próprio caso é excepcional e o quanto o caso de seus adversários é típico do que a Lava Jato vem combatendo. Argumentarão que os nobres propósitos da operação foram distorcidos por indivíduos ruins (Moro ou Janot, dependendo do caso) que os perseguiram. Exaltarão a credibilidade dos delatores de seus adversários enquanto tentarão pintar os próprios delatores como mentirosos compulsivos. Entre todas essas gambiarras, note o tema comum: não se ousa criticar o essencial da operação. Fazê-lo não parece uma receita de sucesso para 2018.

Por outro lado, será difícil conseguir aliados (e tempo de TV, e recursos, e estrutura de campanha) ameaçando-os com o risco de prisão. Mesmo os candidatos que não estiverem pessoalmente enrolados terão que negociar com gente que você não gostaria que casasse com seus filhos.

Os candidatos em 2018, portanto, terão que montar suas candidaturas com o apoio de gente que está louca para fugir da cadeia, para então buscar os votos de gente que está louca para prender todo mundo. Precisarão disputar a eleição e, em caso de vitória, assumir o governo, enquanto o processo de renovação ainda está no meio. Mas o eleitorado exige que já tenham a cara do que o Brasil espera ser ao final da travessia.

É impressionante que alguém ainda queira esse emprego.

Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo