AMEAÇAS OU BRINCADEIRA?

'NOVA ERA'?: Direção da FEA-USP adverte alunos que postaram foto com ameaças e 'armas' em sala de aula

Três estudantes do curso de administração já foram identificados e um quarto será investigado por sindicância.

Direção da FEA-USP adverte alunos que postaram foto com ameaças e armas em sala de aula — Foto: Reprodução/Site da FEA-USP

A direção da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) advertiu alunos que publicaram em redes sociais uma foto, aparentemente dentro de uma sala de aula da instituição de ensino, com ameaças contra mulheres petistas nesta segunda-feira (29).

Em nota, a faculdade repudia a ação e informa que abriu sindicância para identificar as quatro pessoas que estão na imagem e para decidir quais medidas serão adotadas contra o grupo. Segundo a FEA, não é possível saber quando a foto foi feita.

Na imagem  três alunos do 3º ano do curso de administração estão sentados lado a lado. Uma quarta pessoa aparece atrás do trio e tem o rosto coberto por uma bandeira com serpente e óculos “thug life” (óculos de sol que aparece em memes) inserido por algum programa de edição de imagem.

Na cena, um dos alunos usa boné vermelho e uma camiseta azul onde se lê “Trump”. Ao lado dele, outro aluno veste uma farda camuflada e um quepe militar. Na frente deste segundo aluno, duas latinhas de cachaça Pitú, cuja fabricação é pernambucana, uma pistola (não é possível saber se verdadeira) e duas placas com as seguintes frases consideradas ameaçadoras: “está com medo petista safada?” e “a nova era está chegando”.

O outro rapaz veste terno preto e empunha uma pistola (também não é possível saber se é verdadeira). Abaixo da imagem há um texto informando que “Jair Bolsonaro é eleito presidente com 57,7 milhões de votos”. No quadro atrás deles há as inscrições “nova era”, Pitú”, “armas”, “B17” e “Tá okey!” em referência a um hábito de linguagem de Jair Bolsonaro, presidente da República eleito neste domingo.

Na nota, a FEA informa que “vem a público para repudiar as ações de incitação à violência que estão ocorrendo dentro do ambiente da USP e, particularmente, da FEA”. “A Universidade existe como um campo de debate de inúmeros temas, inclusive o político, e a nossa tradição é pacífica. E queremos que assim continue, para todos, num ambiente em que a pluralidade seja uma prática real, politica, religiosa, de gênero ou outra perspectiva”, diz a nota.

O texto é assinado pelo professor Fábio Frezatti, diretor da FEA, que diz ainda que: “o período eleitoral foi tenso e as expectativas oscilaram com muita radicalização. Uma vez terminado o processo eleitoral, imagina-se que as acomodações ocorram e os ânimos sejam acalmados. Afinal a vida segue.”

A nota ainda diz que “em algumas situações algo que pode ser pensado como ‘brincadeira’ pode ser o estopim para aumento da agressividade e mesmo ameaças. Isso é inaceitável pois queremos um ambiente em que a comunidade possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização.”

O professor sinaliza no texto que “além de todos os esforços para manter integridade e paz no ambiente da FEA, ações que intimidem, ofendam e causem reações e danos serão rigorosamente coibidas e punidas.”

Respeito à democracia

O professor Moacir Miranda, chefe do setor de administração da FEA/USP, disse que a nota divulgada pela faculdade e assinada pelo colega Fábio Frezatti, é uma resposta institucional para a foto divulgada nesta segunda-feira.

“A nota tem relação direta com a foto. A nota é uma resposta direta e dura. É uma situação inaceitável. Passamos a tarde reunidos. Não vamos permitir que esse tipo de situação aconteça na USP e na na FEA. Houve outro problema com alunos da FFLCH. O gatillho da nota foi essa foto. A nota é preventiva para que evite outros casos. A nossa posição firma e respeitosa pela democracia que deve haver na faculdade e na sociedade.”

Segundo ele, a sindicância vai identificar a quarta pessoa que aparece na foto, descobrir onde a foto foi feita, se as armas que aparecem na foto são verdadeiras e tratar sobre as ameaças apresentadas. “São três alunos de administração. Não podemos afirmar com certeza, mas se parece com qualquer sala de aula da USP, mas como os três são alunos da FEA, acreditamos que tenha sido feita na FEA.”

Miranda afirmou que “a USP tem uma trajetória pelo respeito à democracia, que vem de mais de um século, de décadas, contra a ditadura Vargas, contra a ditadura de 1964, em defesa de uma universidade pública, gratuita, de exceleêcia, inclusiva e diversa. Isso que nós ensinamos aos alunos. É necessário que as autoridades se posicionem com firmeza acerca dessas situações que estão acontecendo em diversos lugares do Brasil, não só nas universidades. É preciso que o Legislativo e o presidente eleito tomem posição clara contra esse tipo de atitude”, disse o professor.

Ele explicou como deverá ser conduzida a sindicância, presidida por Andres Veloso, coordenador do curso de graduação de administração da USP.

“A comissão de sindicância vai lidar com as questões disciplinares, existem afirmações na foto, que mostram uma postura inadequada. Situação inaceitável, intolerável, cria um clima péssimo na universidade e na sociedade. A USP precisa assumir seu papel de defesa da democracia. Não vamos abrir mão disso não”, afirmou Miranda.

“Estou 13 anos na universidade e nunca vi uma manifestação semelhante. A USP é um exemplo de inclusão de tolerância, de diversidade de gênero e raça. Tenho orientado negros, japoneses de todos os lugares do país. USP é um exemplo de acolhimento, inclusão com excelência”, finalizou o professor.

Fonte: G1
Créditos: G1