Crise de Dilma anima surgimento de várias candidaturas presidenciais

Partidos da base aliada já discutem o lançamento de candidaturas ao Palácio do Planalto em 2018. Na oposição, mesmo com movimentação pelo impeachment, articulações ocorrem nos bastidores. Políticos comparam a próxima disputa com as eleições de 1989

A baixa popularidade do governo Dilma Rousseff, que estimula a divisão na base aliada, somada à crise econômica que começa a deteriorar o poder de compra dos brasileiros, acabou gerando um outro movimento nos bastidores da política nacional. Apesar da distância para as eleições presidenciais de 2018, políticos já comparam o próximo pleito com a primeira disputa presidencial após a redemocratização, em 1989, tanto pela quantidade de partidos dispostos a lançar candidatos quanto à avaliação de que o cenário geral será de crítica à administração atual, num quadro semelhante ao enfrentado pelo então presidente José Sarney à época.

“Esta pode ser a eleição mais disputada desde 1989”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Um dos principais articuladores da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República no ano passado, ele entende existir uma similaridade entre os dois momentos. Apesar dos socialistas não possuírem um nome natural ao cargo, o cenário de momento é de fortalecimento interno para se lançar na próxima disputa presidencial. Da mesma forma, estão pelo menos outros quatro partidos, além dos tradicionais PT, PMDB, PSDB e DEM. “O cenário de hoje é que teríamos uma eleição muito disputada daqui três anos”, disse.
Em 1989, o Brasil vivia uma época de hiperinflação, que ocorreu quando Maílson da Nóbrega passou pelo Ministério da Fazenda e instituiu o fracasso Plano Cruzado II. Na política, o presidente José Sarney não tinha o menor controle do Congresso. Sua taxa de rejeição era tamanha que ajudou a prejudicar Ulysses Guimarães, o candidato do PMDB nas eleições daquele ano. Nomes consolidados como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB) disputaram o pleito. Mas também desconhecidos como Fernando Collor de Mello (PRN), que acabou eleito, e Ronaldo Caiado (PSD) tornaram a corrida bastante disputada.

“O cenário político e econômico de 1989 é similar ao do momento atual”, disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), secretário-geral do partido. Com a crise enfrentada por Dilma, diz o tucano, os partidos e os próprios políticos começam a se movimentar com antecedência. Vide justamente as negociações do PDT com os irmãos Gomes e o namoro nem tão escondido do senador José Serra (PSDB-SP) com o PMDB. Além disso, a estruturação da Rede Sustentabilidade pela ex-senadora Marina Silva e as discussões na oposição reforçam este cenário.

O tucano pondera, no entanto, que todo o exercício dos partidos que pensam em 2018 pode ser modificado abruptamente. A oposição ainda conversa sobre o pedido de impeachment de Dilma Rousseff por conta das pedaladas fiscais de 2014 e dos desvios na Petrobras. Além disso, dois julgamentos podem resultar na perda do mandato da petista e de seu vice, Michel Temer. Na terça-feira, quatro ministros se posicionaram a favor de investigar a presidente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Outra ação, sobre as pedaladas fiscais, está no TCU (Tribunal de Contas da União).

Crescimento
A entrada dos irmãos Cid e Ciro Gomes no PDT, oficializada na semana passada após uma reunião em Fortaleza com a presença do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, reforçou a tese de que o pensamento dos partidos já está em 2018. “Nós temos projeto nacional”, afirmou Lupi após a reunião. A legenda até pode discutir outros nomes, mas observadores da cena política acreditam que nenhum dos dois ex-governadores do Ceará mudaria de agremiação partidária sem receber a garantia de que um deles sairá candidato à Presidência da República.

Depois do PDT, veio a declaração de Marcos Pereira, presidente nacional do PRB. Ao participar de uma sessão solene na Câmara dos Deputados na terça-feira (25), para comemorar os dez anos da agremiação, afirmou que “partido que quer crescer precisa disputar eleição”. A sigla criada há dez anos tem planos ambiciosos. Para 2016, quer eleger 300 prefeitos e 3,5 mil vereadores em todo Brasil. Mas o olho está mesmo no Palácio do Planalto. “É possível ir mais longe sim. Querem saber como? Apresentando candidato a presidente da República. Já tivemos o vice-presidente, e por que não podemos ter o presidente?”, afirmou. O PRB era o partido do vice-presidente de Lula, José Alencar. Imagina-se que o partido possa lançar Celso Russomano como candidato em 2018. Antes, porém, ele disputaria a prefeitura de São Paulo no ano que vem.

Tanto PDT quanto o PRB fazem parte do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff. Mas começaram a se afastar com o agravamento das crises política e econômica. Os pedetistas continuam no Ministério do Trabalho, mas deixaram a base aliada na Câmara. Enquanto isso, o partido que comanda o Ministério do Esporte, pasta hoje poderosa por conta dos Jogos Olímpicos de 2016, não poupa críticas ao atual momento político. “O Brasil parou de crescer, infelizmente nós estamos regredindo”, disse Pereira.

Mas PDT e PRB não são os únicos governistas pensando em 2018. O PT não tem um candidato natural à sucessão de Dilma Rousseff que não se chame Luiz Inácio Lula da Silva. Já os peemedebistas namoram com Serra, trabalham o nome do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para ser a estrela do partido e ainda têm como postulante o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recém denunciado no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro dentro da Operação Lava-Jato.

Oposição
Nas hostes oposicionistas, PSDB e DEM correm o risco de concorrerem separados pela primeira vez em décadas. Mais à direita, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que participou do pleito há 26 anos, tem pavimentado seu futuro político para disputar o Planalto. Enquanto isso, os tucanos se dividem entre três projetos diferentes. Hoje, o senador Aécio Neves (MG), até mesmo pelo desempenho em outubro passado, é o nome natural. Mas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o próprio Serra correm por fora.

 

Fonte: Fato Online