Aliança na mão direita da primeira dama

'ALELUIA' E 'ABAIXO PAULO FREIRE': Quem apoia o novo partido de Bolsonaro

Cerimônia para oficializar proposta de criação do partido Aliança pelo Brasil reuniu 500 pessoas em hotel de Brasília

Cerimônia para oficializar proposta de criação do partido Aliança pelo Brasil reuniu 500 pessoas em hotel de Brasília

A aliança de casamento que o presidente Jair Bolsonaro inseriu novamente no dedo de Michelle Bolsonaro nesta quinta-feira selou a criação do partido Aliança pelo Brasil, no auditório do Hotel Royal Tulip, em Brasília.

Sem saber qual a mão “certa”, Bolsonaro colocou o anel na mão direita, mão de noivado, e brincou que estava se sentindo como “no primeiro dia de casado”.

Para um público de 500 pessoas que conseguiu entrar no auditório — dezenas de militantes ficaram de fora assistindo em um telão —, Bolsonaro apresentou o partido da família.

Bolsonaro será o presidente da legenda, seu filho primogênito, Flávio Bolsonaro, será o vice e o filho homem mais novo, Jair Renan, será um vogal (integrante). Outros membros serão assessores dos filhos e os advogados Karina Kufa e Admar Gonzaga, ex-ministro do TSE.

Dentro do auditório, ecoavam gritos de “mito”, lembrando a campanha do ano passado. Os familiares foram os primeiros anunciados pelo mestre de cerimônias. Quando Karina Kufa abriu a leitura do programa da legenda citando como primeira base o “respeito a Deus e as religiões”, gritos de “aleluia” e “Deus seja louvado” começaram surgir o público. Em segundos, o lançamento da Aliança pelo Brasil ganhou ares de culto religioso.

Um dos mais exaltados da plateia aproveitou para gritar “abaixo Paulo Freire”, quando Kufa anunciou que o propósito do Aliança é “retirar o país dos graves índices de analfabetismo gerados por métodos pedagógicos fracassados”, dentre os quais o do pernambucano, patrono da Educação brasileira.

No evento, o clima era de encontro de amigos que nunca se viram. Parte dos administradores de páginas na internet de apoio a Bolsonaro de várias partes do país se encontraram pessoalmente pela primeira vez. “E aí, miliciano?”, disse um homem a outro apoiador do presidente.

Também entre os que conseguiram entrar, houve muito descontentamento com a organização. Parte dos apoiadores reclamavam que não estavam sendo ouvidos e que não havia espaço suficiente no auditório.

Do lado de fora do auditório, tumulto. O rosto do presidente sobre a bandeira do Brasil estampava os materiais do partido. Seguranças suavam para controlar o empurra-empurra da turba.

Com trânsito livre, o secretário de comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, se viu no meio de uma briga entre um deputado federal e um segurança. Passado o susto, reclamou de dor nas costelas. Todos queriam entrar, mas o acesso ao local foi restrito.

Durante seu discurso, Bolsonaro fez questão de agradecer ao empresário Paulo Octávio –que renunciou ao mandato de vice-governador do Distrito Federal após acusação de envolvimento no mensalão do DEM– por ter cedido o auditório.

Ele foi preso em 2014 suspeito de participar de esquema de corrupção de agentes públicos para a concessão de alvarás e nega as denúncias.

Com espaço limitado, a organização impediu a entrada de dezenas de militantes. Revoltado, um homem sexagenário citava a própria idade para reclamar da solução adotada pela organização do evento: redirecionar os excedentes para um descampado perto dali, na beira do lago Paranoá, entre o Royal Tulip e o Brasília Palace.

No gramado, sob sol forte, o partido montou um telão e colocou grades para isolar o público, deixando no meio um espaço reservado aos convidados.

Ao fim da convenção, Bolsonaro passou alguns minutos no local, cumprimentando os apoiadores de longe, de um palco enfeitado por faixas verdes e amarelas.

Fã do presidente, Giselda Pinto, de 62 anos, viajou de avião da Paraíba para Brasília só para o evento do novo partido. De Uiraúna, terra da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), como ela frisou, não conseguiu entrar.

Fez a inscrição pela internet, no site do partido, “mas não deu certo”, lamentou. Sorridente, apesar de frustrada, ela usava camisa amarela com “Brasil” estampado em verde.

A cobertura jornalística foi um caso à parte. Karina Kufa, alçada a tesoureira do partido, escolheu 17 repórteres que puderam entrar como convidados. O “resto da imprensa”, como comentou um assessor do Palácio do Planalto, teve que ficar no sol, sem o mínimo de estrutura adequada para trabalhar, acesso a banheiro ou água.

No “cercadinho”, não havia tomada, mesa, cadeira ou teto. A Secretaria de Comunicação (Secom) culpou a organização do partido, que, procurada, não se manifestou até o momento.

Apesar do tumulto, o clima também foi de festa. Às 10h19, o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, chegou com alarde, paramentado com seu tradicional terno verde-amarelo. Logo foi cercado por simpatizantes, aos pulos.

Amigo inseparável de Bolsonaro, o deputado federal Hélio Negão (PSL-RJ) foi um dos mais assediados por apoiadores, que pediam para entrar no evento. “Estou aqui como convidado”, avisava. Instada a gravar um vídeo falando do novo partido, o parlamentar tergiversou: “Eu não posso falar do novo partido porque ainda estou no PSL, mas um abraço!”.

A cerimônia foi encerrada por Gilson Machado, presidente da Embratur, que executou Asa Branca na sanfona, a pedido de Bolsonaro.

Fonte: Época
Créditos: Época