Aliados distantes

A frágil cola que une a direita brasileira - Por Anderson Costa

O que nem a própria direita brasileira ou aqueles que se opõem a ela não se atentaram é de que apesar de tentarem se abarcar todos debaixo do guarda-sol do conservadorismo, esta massa não é coesa e muito menos homogênea.

Uma grande página de entretenimento, voltada para jovens católicos de orientação mais tradicional, estava atacando a jornalista Rachel Sheherazade através de uma postagem no facebook. Na publicação, a página orienta todos os seus seguidores a deixarem de acompanhar qualquer conteúdo produzido por Rachel, alegando que a mesma usaria as redes sociais para atacar o catolicismo. Além disso, afirmaram que a mesma utilizava como exemplo uma foto que a apresentadora publicou em suas redes sociais onde apareceria um homem vestido de um padre beijando uma mulher vestida de freira. Em sua publicação, Sheherazade alegava querer divulgar o dia do beijo, mas atingiu em cheio os ânimos de uma parcela dos seus seguidores, que se sentiram atacados mediante um histórico de postagens anteriores de mesma linha da jornalista que é protestante.

Mas, muito além de uma guerra entre católicos e protestantes nas redes sociais, as duas publicações servem para mostrar ao povo uma realidade que é negada por muitos, os conservadores brasileiros possuem muito mais diferenças do que semelhanças. Os motivos que os unem poderiam ser resumidos em dois tópicos: o desejo de ver o ex-presidente Lula preso (este foi alcançado, o que fragiliza ainda mais a união do grupo) e o ódio por todas as pautas que são defendidas pela esquerda. Com apenas estes dois motivos como bandeira, algumas figuras conseguiram fazer crescer seu público e ascender para um novo patamar da realidade nacional, uma destas figuras é Sheerazade, que conseguiu deixar de ser a âncora de um jornal da Paraíba para ser conhecida em todo o país.

O que nem a própria direita brasileira ou aqueles que se opõem a ela não se atentaram é de que apesar de tentarem se abarcar todos debaixo do guarda-sol do conservadorismo, esta massa não é coesa e muito menos homogênea. Na direita do Brasil é possível encontrar grupos que no dia a dia costumam atacar-se e porem-se em papéis de oposição, seja essa religiosa como ocorre entre os católicos e os protestantes, seja a diferença de visão em relação à qual seria o melhor sistema político a adotar-se no Brasil, como entre republicanos liberais e monarquistas.

Com a condenação e prisão de Lula, a cola que une a ala conservadora brasileira começa a perder seu efeito e estes grupos aparentemente estão retornando a atacar-se mais veementemente. Esta união poderá desaparecer antes mesmo das eleições presidenciais que ocorrerão neste ano de 2018. Esta seria a pior das realidades para alguns nomes como o do deputado federal e candidato a presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), que segue pautando sua tentativa de eleição em aglutinar os ditos movimentos conservadores em torno de seu nome para que assim possua um coeficiente eleitoral que o permita ser eleito.

A estratégia de Bolsonaro é muito simples e já foi ensaiada pelo tucano Aécio Neves há quatro anos, quando tentou durante a campanha vender a imagem de um candidato que iria além de um único pensamento político, mas viria para dar opção a uma massa de brasileiros que não se sentia feliz com o governo petista. O senador mineiro conseguiu chegar ao segundo turno e perder por uma diferença menor que os seus antecessores já haviam alcançado. Estes números deram ânimo a uma possível candidatura de Bolsonaro, muito mais aceito por uma parcela da direita, que via em Aécio uma figura que tentava travestir-se de conservador para angariar votos.

A realidade é que, com Lula preso, a direita talvez tenha perdido o seu maior cabo eleitoral e sua maior bandeira. Podemos estar vendo o início de um período antropofágico, onde os membros que antes haviam decidido deixar as diferenças de lado para buscarem um pretenso “bem maior” começarão a atacar-se. Desta maneira, será necessário que surja um novo grande nome a ser combatido, para que a direita consiga reagrupar-se.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba