Estratégias políticas

A DISPUTA PELO NORDESTE: as 'cartas na manga' de Lula e Bolsonaro para 2022

Começou no dia 15 deste mês a agenda de viagens do ex-presidente Lula pela região Nordeste, pelos estados governados pelos partidos PT e PSB.

Começou no dia 15 deste mês a agenda de viagens do ex-presidente Lula pela região Nordeste, pelos estados governados pelos partidos PT e PSB. A viagem ocorre há um ano das eleições e sinaliza uma estratégia clara de pré-campanha eleitoral, diante de uma queda de braços com o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), que tem investido pesado na região.

Oficialmente, a decisão de Lula em viajar ao Nordeste tem o objetivo de, segundo o PT, “conhecer de perto a situação em que o povo se encontra e debater com lideranças locais das mais variadas áreas as soluções para os problemas que afligem as brasileiras e os brasileiros”.

Na prática, porém, o objetivo são as reuniões, coletivas à imprensa, críticas ao atual governo e articulações, até com ex-aliados, para se fortalecer para 2022. Lula começou a agenda pelo estado de Pernambuco, em reunião com o governador Paulo Câmara e com o prefeito de Recife, João Campos (PSB), que disputou contra a candidata do PT, Marília Arraes, em 2020. As pazes foram feitas.

No Piauí, manteve conversas com lideranças políticas e sindicais, mas também com empresários, e no Maranhão, fez questão de dizer que ‘conversa com todos os partidos’ para derrotar Bolsonaro. “Eu quero saber se eles estão conformados com a quantidade de gente que está na rua passando fome, se as pessoas estão realmente conformadas com o crescimento da pobreza, com a destruição da massa salarial deste país, com a possibilidade de crescimento da pandemia outra vez”, respondeu.

No discurso, além de ataques a Bolsonaro, o ex-presidente cita programas sociais ligados ao PT: Bolsa Família, Luz para Todos, Prouni e transposição do Rio São Francisco, que apesar de ter iniciada em seu governo, não foi concluída nos 13 anos de governos do PT. Depois de ter passado pelo Ceará, nesta sexta (20), Lula segue pelo Rio Grande do Norte neste sábado (21) e termina a agenda na Bahia, no dia 26, esperando obter os frutos dessa viagem.

O CONTRA-PONTO DE BOLSONARO

No lado direito do espectro político, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem investido cada vez mais no Nordeste a fim de consolidar a imagem do atual governo na região, tanto em termos administrativos quanto políticos.

Um dos reflexos dessa estratégia é a presença de ministros da região nas estruturas do Palácio do Planalto, a exemplo da chegada do piauiense Ciro Nogueira (PP) à chefia da Casa Civil, no papel de articulador. Além dele, a região é representada pelos ministros das Comunicações, Fábio Faria, do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da saúde, Marcelo Queiroga (paraibano).

Ao lado desses ministros, o presidente tem intensificado sua presença na região, em inaugurações, visitas e passagens por diversos municípios. Um levantamento do site Metrópoles mostra que, do fim de 2020 até o início de agosto, ele aumentou em 26,6% seus compromissos na região. Segundo o site, o presidente já esteve em todos os estados nordestinos em 2021, tendo participado de mais de 19 eventos, já superando todos os compromissos de março ao final de 2020.

Cartas na manga

Assim como Lula menciona programas de sua época, em 2022 o presidente terá uma série de ‘cartas na manga’ para apresentar ao eleitor nordestino, a exemplo do Auxílio Emergencial, que socorreu famílias vulneráveis na pandemia, e o novo programa social que substituirá o Bolsa Família, o Auxílio Brasil, com aumento nos recursos repassados à população. Também está no radar do governo o lançamento do vale-gás, além de agendas em andamento, como a conclusão de obras hídricas e a continuidade da transposição do rio São Francisco, que não chegou a ser concluída nos governos petistas.

Em cerimônia de entrega de casas, na última semana, no Ceará, Bolsonaro fez questão de enfatizar os investimentos em programas sociais na pandemia e aproveitou para rememorar escândalos de corrupção nos governos petistas, além de culpar governadores aliados do ex-presidente Lula por restrições econômicas.

“Nós sabemos o que aconteceu nos últimos 20 anos com o nosso Brasil. Não queremos a volta da corrupção e da roubalheira em nossa pátria. Como o presidente da Caixa falou, o Pedro Guimarães, de desvios, eu citaria apenas um grande desvio de governos anteriores. É o que aconteceu na Petrobras em 5 refinarias,  2 para o Nordeste e 1 lá para o Rio de Janeiro, bem como outra refinaria no Japão e outra nos Estados Unidos. Ou desviado ou enterrado em obras inacabadas, chega na casa de 230 bilhões de reais. Não queremos mais isto para o nosso Brasil. Quando se fala em casa própria, esse recursos daria para construir certamente, em torno de 2 milhões de casas próprias, para o nosso povo tão sofrido de nosso Brasil”, disse o presidente.

Diante de um cenário político cada dia mais polarizado e imprevisível, as agendas políticas de Lula e Bolsonaro no Nordeste devem se intensificar, de modo que o apoio dos eleitores da região nas eleições do próximo ano, se nada mudar até lá, será decisivo para a vitória de um dos lados dessa disputa intensa.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba