2016: Não é possível que o ano que se aproxima seja pior que o de 2015 - Por George Vidor

País precisa agora deixar de lado projetos delirantes e cuidar da sua infraestrutura

A Terra leva 365 dias e algumas horas para fazer uma volta completa em torno do Sol e, por algum motivo, transcendental ou instintivo, sempre esperamos que na próxima volta as coisas melhorem. O ano de 2015 foi decepcionante, pois desde aquele fatídico 11 de setembro que destruiu os prédios do World Trade Center em Nova York vivíamos a ilusão que o mundo não iria se deparar novamente com tamanha barbárie, resultado do fanatismo, da irracionalidade, da pequenez, tendo como pano de fundo conflitos geopolíticos. No Brasil, em 2015 ficamos chocados com a extensão do crime do colarinho branco. Governos, Congresso e empresas estatais e privadas, antes renomadas, mostraram-se envolvidos em escândalos vexaminosos de corrupção, deixando em todos nós a sensação que a desonestidade passou a ser regra, e não exceção, em nosso país.

Os que se conformam com isso dirão que sempre houve corrupção por aqui, desde o início da colônia. Mas diante das revelações que vêm à tona todos os dias, não há como não se horrorizar. Vários acusados e condenados estão pagando na prisão ou passarão anos de suas vidas com tornozeleiras eletrônicas. Possivelmente serão atormentados por suas próprias consciências ao perceberem que enganaram não apenas a sociedade, mas entes queridos e a si mesmos.

Antídotos contra isso estão aparecendo. Na economia, por exemplo, políticas governamentais irresponsáveis sofreram, felizmente, uma interrupção. O ajuste fiscal não se completou, mas foram dados passos à frente, com a realidade tarifária. A demagogia com a energia elétrica e os preços dos combustíveis praticamente acabou. O câmbio no prumo ajudará a economia a se reerguer, estancando o desemprego. A inflação dará menos dor de cabeça do que em 2015. E teremos os Jogos Olímpicos, uma oportunidade de ouro para o país, e um presente de São Sebastião para o Rio de Janeiro, cidade que já foi muito castigada pelos pecados que cometemos.

O país precisa agora deixar de lado projetos delirantes e cuidar da sua infraestrutura. Falta completar o rodoanel em São Paulo e fazer o contorno ferroviário da cidade. Construir mais uma pista na descida da Serra das Araras, na Via Dutra; finalizar a nova subida da Serra de Petrópolis; avançar no saneamento básico das regiões metropolitanas; e por aí vai.

Russo que ensinava inglês

George Zinovetz vivia na China quando Mao Tsé-Tung tomou o poder e as pessoas de família russa que haviam chegado ao país fugindo da revolução bolchevique tiveram de partir novamente, para salvar a pele. O Brasil acolheu alguns desses refugiados. Na China, Zinovetz tinha uma escola de idiomas. Aqui, em 1966, montou um curso, patrocinado pela Usaid, para aprendizado rápido de inglês, destinado a funcionários do governo que necessitavam ter noção do idioma anglo-saxão para fazer pós-graduação ou extensão universitária nos Estados Unidos.

Assim surgiu o Brasas. O primeiro professor era irmão do fundador e avô do atual presidente da empresa, Peter O’Donnell, que desde 2013 está à frente de um grupo com 55 escolas de idiomas e 27 mil alunos, dos quais 14 mil somente no Estado do Rio de Janeiro. A filosofia continua a mesma, pois a duração máxima dos cursos é de três anos e meio. A maior parte se concentra no prazo de dois anos e meio.

Infelizmente, apenas 20% dos alunos vão do início ao fim, em geral os que começam ainda na tenra idade. As aulas estão a cargo de 700 professores. A maior integração entre professores, alunos e famílias ocorre nas escolas instaladas em cidades da Baixada Fluminense. Lá eles valorizam o investimento que estão fazendo no aprendizado de um idioma estrangeiro dominante, como o inglês. Em 2016, o Brasas completará 50 anos, ensinando também português para estrangeiros.

Nas Olimpíadas

Em momentos de recessão, como o atual, não há atividade que fique imune, mas, mesmo embaixo de tormenta, é possível encontrar formas de sobrevivência. E este parece ser o caso do mercado de joias, ainda que se trate de produtos que entram na categoria dos supérfluos. Lisht Marinho, diretor de criação de uma rede carioca criada há 20 anos, vislumbrou nos Jogos Olímpicos uma oportunidade e obteve a licença para ser a única joalheria brasileira a lançar uma linha com motivação na Rio 2016.

Mas, em tempos de crise, é preciso se adaptar, e a prata (que custa aproximadamente R$ 3 mil o quilo) foi privilegiada nessa linha, no lugar do ouro (R$ 135 mil o quilo). Com cinco lojas, em Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra da Tijuca, Lisht diz que a ideia não é se aventurar no “varejão”. Mesmo tendo os Jogos Olímpicos como tema, a proposta é que a linha se destaque pela qualidade. Lisht se orgulha de não ter contra sua rede uma queixa no Procon ou um comentário crítico nas redes sociais.

Os Jogos Olímpicos serão uma grande oportunidade para a economia brasileira, que não deve ser desperdiçada por ninguém. Por isso, desejo a todos um 2016 com saúde e paz.

O Globo