Republicano e digital

Rubens Nóbrega

O governador Ricardo Coutinho adora falar a palavra ‘republicano’, e ontem ele a usou com a veemência dos velhos tempos do Ricardo vereador, deputado e até um pouco do prefeito que foi no primeiro mandato.

Claro que Sua Majestade apropriou-se do termo para significar tudo o que ele diz e faz, ao contrário dos seus contrários, adversários políticos ou meros críticos, que só diriam e fariam coisas não republicanas.

A propósito, mesmo correndo o risco de parecer besta e pedante, permitam-me observar que, pelo visto, o verbete ‘republicano’ adquiriu tanto no meio erudito como no senso comum uma acepção mais consistente e mais abrangente do que aquela a que se limitam os dicionários.

No segmento cult ou popular, republicano quer dizer mais do que ser adepto da república, forma de governo no qual o povo é, em tese, soberano. Na sua versão mais republicana, digamos, ser republicano é também – ou sobretudo – defender a res publica.

O bom é que todo mundo sabe que a expressão latina é o mesmo que ‘coisa pública’. A intelligentsia ou a burritisia da Pequenina sabe que da res publica originou-se ‘república’, que no final das contas também serve de contraponto à monarquia, forma de governo na qual soberano é o rei, não o povo.


IRA MAJESTÁTICA

O peculiar republicanismo de Ricardo Coutinho não o impede de usar uma rádio estatal, sustentada com o dinheiro de todos os contribuintes, ricardistas ou não, para achar feio tudo o que não é espelho, como se viu ontem em sua furibunda entrevista à emissora oficial.

Por essas e outras, pelo que ouvi Sua Majestade dizer na Tabajara, vejo que sob a Nova Paraíba ser republicano também é tudo aquilo que o Ricardus I contrata ou paga com o dinheiro do contribuinte, que aborrece profundamente o soberano quando chia diante de certas transações da República Girassolaica.

Digo isso pela forma como Sua Majestade reagiu ontem às notícias de repercussão nacional sobre negócios fechados por seu governo. Alguns desses negócios, segundo as notas publicadas, conteriam fortíssimos indícios de que seriam tudo, menos republicanos.

Evidente que o absoluto atribui a supostos adversários locais – e não à chamada grande imprensa – a responsabilidade pelo que divulgam sobre ele e seu governo publicações como as revistas Veja e Época, colunistas de sucesso feito Cláudio Humberto ou líderes de audiência na tevê do porte de um Fantástico.

Seria tudo mentira plantada pela TV Cabo Branco, a primeira afiliada da história das grandes redes de televisão com poderes de não apenas pautar a matriz como produzir e veicular reportagens inteiras sobre assuntos que conspiram contra a imagem republicana do governante.
Da permuta à consignação

No caso Mangabeira Shopping, por exemplo, ser republicano não é licitar, mas permutar um terreno do Estado por outro com o homem mais rico da Paraíba, quando uma concorrência pública poderia resultar em mais empregos para os paraibanos e mais impostos para o Estado arrecadar.

No Caso Cruz Vermelha, para dar outro exemplo, republicano é terceirizar a administração do maior hospital público do Estado e pelo ‘serviço’ da organização pagar R$ 7,3 milhões mensais, em vez dos R$ 4,5 milhões que historicamente o Estado investia todo mês no Trauma da Capital.

No Caso Easy Life (Vida Fácil), republicano é alugar ambulância a R$ 272 mil por mês, dinheiro que daria para comprar fácil duas ambulâncias novinhas em folha, equipadíssimas, que poderiam perfeitamente ser dirigidas por motoristas do Estado, conduzindo médicos ou para-médicos do Estado, todos naturalmente concursados.

No Caso MCF Administradora de Crédito, ser republicano é contratar também sem licitação uma empresa que teria entre seus donos um deputado do PSB e a ela entregar o monopólio da intermediação e o controle da margem de consignação dos servidores estaduais que tomam empréstimo garantido por desconto em contracheque.
Ser republicano é, enfim…

Comprar merenda escolar por R$ 46 milhões a uma empresa paulista acusada pelo Ministério Público de liderar uma máfia. Ou, máximo, como diria Gerardo, ser republicano é ser digital. Digital feito o Jampa, a Internet sem fio e sem sinal que Ricardo contratou quando prefeito e pela qual a Viúva já teria pago mais de 6 milhas.
ASFALTO REPUBLICANO
Na Rua da Barreira, no Cabo Branco, Capital, estão botando uma camada de asfalto tão espessa quanto o ruge que Mãe Damiana, minha santa e saudosa avó, passava no rosto antes de sair de casa para assistir missa na matriz de Santa Rita.