Pesquisa serve para analisar o momento; e projetar o futuro

Flávio Vieira
Antes de tudo, quero agradecer aos sites que publicam os textos aqui postados de forma permanente: Paraíba Online, de Campina Grande, e GiroPB, de João Pessoa, e também aos que o fazem ocasionalmente: Blog Polêmica PB e Blog do Dercio. Recentemente, tive o prazer de ver minhas postagens no Blog de Luiz Torres e, no último sábado, no Blog de Helder Moura.
Neste último, o texto em que analiso os resultados da pesquisa Consult para a eleição municipal de Campina Grande rendeu alguma polêmica entre os leitores do Blog. Até o momento em que publico esta postagem, 20 comentários  já tinham sido inseridos comentando o texto. Entre eles, o do professor Marcelo Ramos.
O texto abaixo é uma resposta aos questionamentos do referido leitor. Além de dar continuidade à polêmica a respeito da análise da última pesquisa Consult, detalho abaixo alguns aspectos que foram relevados no texto anterior.
Vamos à leitura. E à polêmica.
PESQUISA SERVE PARA ANALISAR O MOMENTO; E PROJETAR O FUTURO
A análise da política eleitoral nunca é totalmente isenta, já que ela necessariamente se prende a resultados. Diante de uma pesquisa para uma eleição que acontece daqui a seis meses o que devemos fazer?
Acho que, pelo menos, considerar duas coisas óbvias: 1) que a pesquisa, como sempre se repete, traduz uma circunstância, um momento da disputa; 2) que a pesquisa pode indicar tendências. Do contrário, querer congelar o resultado obtido no final de março e projetá-lo de maneira arbitrária para as eleições que só acontecem em outubro, isso sim, parece torcida.
Dito isto, passo a discutir os questionamentos do prof. Marcelo Ramos.
1. Quanto à citação do caso da eleição de Recife, em 2008, que o professor chama de “comparação simplória”. Não fiz comparação alguma. Primeiro, porque são dois processos fortemente separados no tempo e no espaço. Espaciamente, Campina é muito diferente de Recife, e isso não inclui apenas a distância geográfica; temporalmente, a eleição de Recife já aconteceu. Ou seja, o que aconteceu em Recife em 2008 serve apenas de parâmetro para julgar algo muito concreto: a capacidade de um prefeito bem avaliado eleger um sucessor relativamente desconhecido. Ponto. Se isso vai se repetir em Campina Grande, como eu disse no meu texto, quem vai responder é a campanha.
2. O professor Marcelo Ramos faz comparações entre João da Costa e Tatiana Medeiros, obviamente tentando avultar o papel do atual prefeito de Recife e subestimar a trajetória da médica candidata. Ora, João da Costa foi vereador e secretário de Recife, mas alguém tem dúvida que sua eleição no primeiro turno decorreu do grande prestígio da administração do então prefeito João Paulo? É esse a questão. Exclua João Paulo do pleito e veja o que sobraria para Costa. Enfim, sem João Paulo, nem Lula elegeria João da Costa em 2008. Tanto que hoje o atual prefeito de Recife mostra grandes dificuldades eleitorais para se reeleger, enquanto João Paulo teria mais facilidades para manter a prefeitura nas mãos do PT.
3. O meu interlocutor cita o fato, mais uma vez, em demérito de Tatiana Medeiros, de que a candidata do PMDB “tem uma curva de crescimento maior na rejeição que na intenção de votos”. Nesse ponto, ele esqueceu de dizer que a rejeição de Tatiana Medeiros, com 11,5% de rejeição, é igual a de Daniela Ribeiro (9,4%) e Romero Rodrigues (10,9%), diferenças situadas dentro da margem de erro. Ora, de onde provem a “rejeição” a Tatiana Medeiros? Do eleitorado cassista que rejeitará um candidato apoiado por Veneziano Vital em qualquer circunstância. E quanto mais crescer a intenção de voto em Tatiana Medeiros, mais ela será rejeitada por esse eleitorado. É só isso que explica porque a candidata mais desconhecida entre os que disputam com chances de vitória a eleição é a “mais” rejeitada.
4. O professor fala que eu “menti” quando fiz referência a pesquisas anteriores para indicar uma série histórica e concluir pelo crescimento de Tatiana Medeiros, negando que a Consult tenha feito pesquisas antes dessa última anunciada. Devo dizer que o professor cometeu um engano, não sei se proposital ou se foi um ato falho, “esquecendo” da última pesquisa realizada pelo instituto Datavox, em dezembro último. Mais estranho ainda foi fazer uso do que ele criticou em mim. Sem a “série histórica” da Consult, o professor escolheu a pesquisa do sistema Paraíba para concluir que a diferença entre Daniela e Tatiana “aumentou” de 15 para 16%. Um aumento realmente digno de nota!
Mas, professor, minha referência de pesquisa era outra. Em dezembro do ano passado, o instituo Datavox, publicou uma pesquisa sobre as eleições de Campina com os seguintes resultados:
Daniela Ribeiro – 23,3
Diogo Cunha Lima – 16,2
Romero Rodrigues – 14,9
Rômulo Gouveia – 9,3
Guilherme Almeida – 4,4
Dra. Tatiana Medeiros – 4,2
José Luiz – 1,6
Manoel Ludgério – 0,9
Fernando Carvalho – 0,7
Arthur Almeida (Bolinha) – 0,6
Marlene Alves (Reitora) – 0,5
Alexandre Almeida – 0,2
Como se vê acima, em comparação com a pesquisa da Consult (final de março de 2012), Daniela Ribeiro permanece estacionada, tendo crescido dentro da margem de erro, Romero Rodrigues incorporou quase a totalidade do eleitorado de Diogo Cunha Lima, e Tatiana Medeiros cresceu mais de 7%, ou seja, um crescimento próximo dos 160%, fora da margem de erro e, portanto, um crescimento consistente.
Agora, se Tatiana Medeiros continuará crescendo, se disputará o segundo turno ou se vencerá as eleições isso, como eu disse, dependerá da campanha. Por ora, basta especular se os 35% dos eleitores que avaliam a administração de Campina como ótima e boa votarão na candidata de Veneziano, levando-a para o segundo turno, quando serão disputados os 40% dos que a avaliam como regular.
Enfim, essa análise apenas confirma o que eu já apontei em meu blog sobre as eleições de Campina: ganha a eleição quem for mais competente em convencer o terço de eleitores campinenses que não são nem cassistas nem anticassistas. E esse é o desafio de Daniela Ribeiro: não ser engolida pela polarização que já tem um protagonista muito importante: o prefeito Veneziano Vital.