
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou, nesta terça-feira (10/06), ter incentivado os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro classificou como “malucos” os apoiadores que pedem intervenção militar e defendem a volta do AI-5, o ato mais repressivo da ditadura militar.
“Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas… que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali”, afirmou Bolsonaro.
Durante o depoimento, ele insistiu que não teve qualquer participação ou incentivo direto nos atos antidemocráticos, que classificou como “baderna”.
O AI-5, ou Ato Institucional nº 5, foi decretado em 1968 durante o regime militar e ficou marcado pelo fechamento do Congresso, cassações de mandatos e censura, sendo considerado um dos períodos mais sombrios da história política brasileira.
Bolsonaro é um dos réus investigados por suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022.
No depoimento, o ex-presidente alegou que, se quisesse o caos no país, teria permanecido em silêncio.
“Se eu almejasse um caos no Brasil, era só ficar quieto”, declarou.
Depoimento e justificativas de Bolsonaro
Questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre por que não agiu para desmobilizar os acampamentos em frente aos quartéis — que pediam intervenção militar — Bolsonaro disse que evitou confrontos:
“Alguns poucos falavam até em AI-5. Quantas vezes eu orientava o pessoal que chegava, em movimentos nossos pelo Brasil, eu chegava para quem estava com a placa do AI-5. Questionava: ‘O que é AI-5’. Eles nem sabiam o que era isso. Intervenção militar, isso não existe. É pedir pro senhor praticar o suicídio, isso não existe. Deixa o pessoal desabafar”, disse.
Segundo ele, uma tentativa de dispersar os acampamentos poderia provocar um conflito ainda maior na Praça dos Três Poderes.
“Se nós desmobilizássemos aquilo, poderia o pessoal ir na região aqui da Praça dos Três Poderes, o que é pior ainda. [É melhor] ficar lá, afastado”, justificou.
Ações após a derrota eleitoral
O ex-presidente também ressaltou que, após a derrota eleitoral, não convocou protestos nem promoveu atos ilegais:
“Eu pacifiquei ao máximo que pude durante os dois meses de transição. Não teve estímulo da minha parte a fazer nada de errado. Obviamente, perdi a eleição, não convoquei ninguém pra fazer protestos, fazer qualquer coisa ilegal ou até mesmo legal. Eu simplesmente te fiquei recluso no Palácio da Alvorada“.
Até o momento, Bolsonaro segue sob investigação, e novas fases do inquérito podem aprofundar as apurações sobre sua conduta nos dias que antecederam e sucederam o ataque às instituições democráticas.