Rubens Nóbrega

Alguém precisa avisar ao governador Ricardo Coutinho e ao coronel Euler Chaves, comandante geral da PM, que ninguém, mas ninguém mesmo, culpou o governo pela barbárie de Queimadas.

As declarações de ambos sobre o assunto, com todo respeito, não passam de sofisma. Tentam se defender por algo do qual não foram acusados, na canhestra tentativa de configurar uma suposta injustiça de que estariam sendo vítimas.

O problema é que a acusação não aconteceu nem existem os acusadores. Até onde apurei ninguém cometeu a estultice de atribuir estupros e mortes na enlutada cidade ao sofrível desempenho do aparelho de segurança do Estado.

Ninguém – do povo, da imprensa ou da oposição – precisa usar um crime como aquele para mostrar que a nossa segurança pública é um desastre e a defesa social proporcionada pelo governo, uma miragem.

Também não conheço nem soube de qualquer pessoa – do povo, da imprensa ou da oposição – que tenha exagerado na avaliação das ocorrências que hoje fazem da Paraíba uma terra onde o medo se instalou feito posseiro.

Por tudo isso e muito mais, Majestade, bem ao contrário do que sugere o seu discurso ou supõe a vã filosofia do Coronel Euler, ninguém ‘hiperbolizou’ essa realidade. Ela se impõe por seus próprios méritos e sinistras estatísticas.
De outro lado…
Todo mundo sabe que não há força humana capaz de prevenir ou impedir um crime como aquele de Queimadas, insanamente premeditado, barbaramente consumado.

Arrisco dizer, inclusive, que talvez nem Deus saiba antecipadamente o que se passa na cabeça de mentes doentias como aquelas.
De modo que não faz o menor sentido o governador e o comandante tentarem, da forma como tentaram, por vias tortas, desqualificar as críticas procedentes e consistentes ao desempenho medíocre do governo na área de segurança.

São críticas e queixas mostrando o quanto a população em geral e pessoas de bem em particular não aguentam mais ver tanta violência de um lado e, do outro, tanta ineficiência da atual gestão para ao menos combater a criminalidade.

Além do mais, é absolutamente inusitado e desesperador assistir a um governante admitir patética e passivamente a sua impotência.
Sim, porque manifestações como a de sua Majestade funcionam diante da inteligência cidadã como admissão (ou confissão) irretratável da própria impotência. Impotência de agir e resolver, que fique bem claro!


Pois é, Majestade

Para quem na campanha de 2010 usou tanto a violência para bater no adversário (figurativamente, claro), prometeu resolver a parada em seis meses e hoje vem a público insinuar que o povo dá mole pra bandido, andando por aí descuidado, em ruas escuras…

Não admira, portanto, que diante de declarações como essas, na falta do que fazer ou esperar o povo faça piada. Refiro-me, por exemplo, àquela de que o Ricardus I criou a Bolsa Lanterna para os sem iluminação pública e sem segurança alguma.
Até tu, Paggotus?
A insatisfação com Ricardo Coutinho e seu governo, pelo visto, está realmente grande. Pois não é que até Dom Aldo anda criticando a inércia e incompetência girassolaicas na área de segurança!

Comedidamente, veladamente e subliminarmente, bem ao estilo Cássio Cunha Lima, o arcebispo católico botou no “corpo mole das autoridades” a culpa pela escalada da violência na Paraíba.

Como diria Gosto Ruim, “a coisa tá mesmo feia (ou ficando mais feia ainda)” pra Ricardo. “Menos na Justiça e no Ministério Público, que lá ele tem vitórias e prazos a perder de vista”, ressalvou ontem Potinho de Veneno.

Referia-se à liberação do Shopping Mangabeira pelo Tribunal de Justiça e mais um mês e meio (depois de um ano) que o MP deu para o governo dizer quantos prestadores de serviço botou pra dentro da folha de pessoal do Estado.
Festa girassolaica
Silenciosa e reservadamente, Ricardo e os ricardistas mais ortodoxos devem comemorar hoje e pelo resto do Carnaval o provável desfecho do julgamento da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Digo provável porque até o fechamento desta coluna, por volta das 20h10, não havia a certeza de que a inelegibilidade de oito anos valeria a partir da data de punição para quem foi condenado por improbidade ou abuso de poder por algum órgão colegiado.

Se ficou resolvido que é assim, Cássio Cunha Lima não poderá se candidatar a governador em 2014. Os oito anos da sentença que lhe cassou o mandato de governador começariam a contar, no mínimo, a partir de julho de 2007, quando o atual senador foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.