As pesquisas e o voto nas urnas

Nonato Guedes

O mote foi repassado a este repórter, em tom de desafio, por um leitor amigo: “Você já atentou para o fato de que pesquisas favoráveis nem sempre se traduzem em votos nas urnas?”. De certa forma, tenho sido apresentado a essa realidade, no curso da trajetória profissional. Antes que avance pelo objeto oculto na tese, devo citar que institutos aparentemente acima de qualquer suspeita e teoricamente bem acreditados, erraram feio em vários Estados. Entre eles, a Paraíba. Na campanha de 90 para governador, houve um constrangimento por causa do disparate entre intenções de voto e percentuais concretos. O Ibope havia cravado Wilson Braga como vencedor na disputa contra Ronaldo Cunha Lima e João Agripino Neto. Embalados por essa miragem, os marqueteiros de Braga criaram o bordão: “É Wilson, no primeiro turno”. João Pessoa estava coalhada de out-doors insinuando o vaticínio. Talvez estivesse embutida uma tática psicológica, em tal estratégia, para persuadir indecisos ou convencer cidadãos refratários à candidatura de Wilson. Recordo que, como comentarista da TV Cabo Branco, ao ser confrontado com números que sinalizavam a supremacia de Braga em qualquer cenário, ousei improvisar a opinião de que o segundo turno não estava descartado. Fui crucificado por fanáticos braguistas, que me abordaram numa carreata em que entrei de gaiato, pois meu destino era outro e me vi no fogo cruzado da manifestação pró-Braga.

Quando gravei o comentário sobre a hipótese do segundo turno, mesmo com o favoritismo de Wilson, pipocaram telefonemas na casa da minha mãe, no Jardim Planalto, com pitadas de criatividade. Numa das ligações, uma pessoa, aludindo ao fato de que nasci em Cajazeiras, conhecida como terra da cultura, foi enfática: “Ele pode ter aprendido a ler, mas não entende de matemática, não sabe contar nem fazer equações”. Deixei que a marola passasse, fiel ao hábito de não polemizar com xiitas de qualquer vertente. Aí, veio o segundo turno. O material de propaganda de Wilson foi prejudicado. Convocado por Erialdo Pereira, meu editor, a analisar o novo cenário, fui na jugular: “A partir deste primeiro dia de campanha para o segundo turno, Ronaldo assume a pole-position e chegará consagrado no balanço final”. Não deu outra. Minha postura decorreu de um certo feeling aprimorado no contato com a voz rouca das ruas e isto contrariava interesses, produzia efeito psicológico negativo para o ex-favorito Wilson Braga. Era a apreciação que se fazia. Fui em frente, afrontando chacotas e insinuações de tendenciosidade. Os dois candidatos, amigos pessoais, não passaram recibo. Mas as torcidas organizadas cuidavam dessa parte. Eleito Ronaldo, que teve o apoio de João Neto no segundo turno, os braguistas enrolaram a bandeira e evitaram partir para provocações. Contra fatos não há argumentos. Houve um episódio constrangedor para a turma do Ibope. Ronaldo já despachava na granja Santana quando emissários do instituto chegaram com uma moldura a pretexto de homenageá-lo pela vitória. Por um descuido qualquer, não conferiram o que estava escrito na moldura. E lá estava escrito que o governador eleito fora Wilson Braga. Vexame e constrangimento. Ronaldo agiu com fair play mas desmontou os emissários do instituto em face dos números computados. Estes, deixaram a Granja cabisbaixos e pedindo desculpas, evidentemente que sem muito êxito na investida.

Esse exórdio serve para interpretar o caso das pesquisas levadas esta semana ao comando nacional do PMDB em que José Maranhão larga em vantagem sobre Manoel Júnior na corrida pela prefeitura de João Pessoa em 2012. O raio X ensejou o comentário da fonte do repórter: “Maranhão é bom de pesquisa, mas não tem muita sorte com votos”. É uma avaliação relativa porque JM elegeu-se governador em 98 contra Gilvan Freire, conseguiu empurrar Roberto Paulino para um segundo turno contra Cássio em 2002 e triunfou como candidato ao Senado. No currículo, constam vitórias para deputado estadual e federal. Mas o que conta, para os mais exigentes, é o quadro de derrotas, como a de 2006 para Cássio e 2010 para Ricardo Coutinho. Daí a comparação, questionável, de que JM é bom de pesquisa e claudica no teste das urnas. Para quem pensa assim, 2012 é um prato cheio para a elucidação do estigma. Maranhão vai disputar a prefeitura de João Pessoa e já se enxerga enfrentando Cícero Lucena no segundo turno, desprezando eventuais candidaturas atreladas ao bloco do governador Ricardo Coutinho. Poucos querem comentar o percentual de rejeição, que costuma anular favoritismos. Maranhão tem rejeição, cujos percentuais não foram dados a público porque as pesquisas feitas foram para consumo interno. Então, é chegada a hora do tira-teima. 2012 será um ano emblemático para dirimir desconfianças ou confirmar profecias aleatórias. Ninguém precisa ficar ansioso, roendo unhas. O pleito vai ser tão rápido que talvez não haja tempo para apresentação de propostas capazes de sensibilizar o eleitorado. Mas Maranhão está sendo desafiado, dentro e fora do PMDB. Será a sua chance de desmistificar exercícios de análise supostamente equivocados. Esse teste vai exigir realismo dos adversários, e incentivar a aquisição de lupas para mensurar pontos negativos porventura existentes no caleidoscópio das previsões. Vamos esperar para que se comprove uma dúvida: o pleito deste ano será o canto do cisne de JM ou surpreenderá com sua reabilitação em alto estilo? É o que está em jogo, diante das circunstâncias a que se chegou. Esqueçam bolas de cristal, cartas de tarô e outros artifícios esotéricos. Melhor é ater-se aos fatos, ou às evidências. Convém, também, ter visão crítica sobre as pesquisas que vão dominar a mídia. O que vai valer é o desfecho das urnas. Elas dirão quem tem voto no bestunto, para usar uma expressão antiga, utilizada por colunistas veteranos da crônica política local.