As idas e vindas de Agra. Quem é ele?

Gilvan Freire

Nunca se saberá ao certo o que pode acontecer no curso de um processo político ou de um calendário eleitoral. No máximo, se faz uma avaliação do momento, ou se procura enxergar seus desdobramentos possíveis. Se as coisas mudarem pouco, um analista perceptivo poderá vaticinar resultados. É o dom natural de cada analista, ou a experiência da vida vivida, em que muitos problemas ou fatos são quase repetidos. A memória, como os computadores, conecta os assuntos e processa dados.

Muitas vezes, é preciso conhecer a natureza dos homens – suas idéias, seu temperamento, sua biografia, sua firmeza de caráter, sua coragem – para se avaliar sua presença no processo e acreditar ou não no grau de sua participação. E também sua capacidade de mudar as coisas e estabelecer direções.

A eleição deste ano em João Pessoa, cuja sinalização mais evidente dada pela população remete para uma flagrorosa derrota do governo, ainda assim pode ter sua face aparente mudada. A incerteza em torno do que Luciano quer ser – prefeito de si mesmo ou de RC – gera perplexidades. Ele oscila entre a vontade própria e o medo de Ricardo, uma instabilidade que o governador adora, porque sabe que Agra está proibido de ter vontade própria enquanto tiver medo. E porque não há prazo determinado por ele para que Luciano mude – é calendário atemporal que não pode ser fixado por decreto. E nem precisa.

O fato é que Luciano Agra morre hoje de duas coisas: da vontade de ser candidato e do temor de não ser aceito por RC, que já o fez renunciar porque não o queria candidato. Ai Luciano quase morria de três outras coisas: decepção, raiva e desgosto, mazelas espirituais que geram banzo em quase todos os aliados de RC. Verdade, contudo, é que ninguém morre por causas dessas pequenas infelicidades, senão haveria pouca gente em volta de RC. Além do mais, isso não é tortura imposta por RC, é penitência e sacrifício aceitos pelos que devotam adoração a ele. É fenômeno espiritual de submissão, como fazem os filipinos e aldeãs africanos através do autoflagelo.

Estamos caminhando para uma situação nova, porque Luciano e Nonato Bandeira, estão fazendo um culto fora da seita automutilante que professam e a qual são submissos há anos. Querem abandonar as crendices medievais e criar um cisma no templo. É coisa de Deus ou Diabo, ninguém sabe ainda. Se for coisa de Lúcifer vão arder no fogo mais quente do inferno, como tortura, porque estariam desistindo dos sacrifícios voluntários praticados por muito tempo em homenagem a um deus pagão e furioso. Que nem se perturba com isso.

No próximo artigo vou tentar decifrar esse movimento de rebeldia que pode dar em tudo. Inclusive em nada. Mas que há um reboliço dentro da seita, há.