504 anos da Reforma

Presbiterianos, batistas, metodistas, pentecostais: principais ramos da Reforma Protestante estão enraizados na Paraíba

Muitos desconhecem, mas a chamada Reforma Protestante do século XV, iniciada por Martinho Lutero, começou no na consciência do monge agostiniano, quando o então sacerdote católico, ao ler as Escrituras Sagradas, um dia deparou-se com uma frase escrita pelo Apóstolo Paulo aos Romanos, que mudou sua percepção sobre ser cristão: "O justo vive por fé".

Muitos desconhecem, mas a chamada Reforma Protestante do século XVI, iniciada por Martinho Lutero, começou dentro da consciência do monge agostiniano, que ao ler as Escrituras Sagradas, à luz de velas, certo dia deparou-se com uma mensagem escrita pelo Apóstolo Paulo aos Romanos e que mudou sua percepção sobre o ser cristão: “O justo vive por fé”.

Sendo um estudioso da Bíblia, devido às circunstâncias de sua própria vida, Lutero estava a cada dia mais inconformado com a situação social e religiosa de sua época, em que os ensinamentos bíblicos, não raro, eram distorcidos em prol de interesses políticos, econômicos e de Poder.

Em 31 de outubro de 1517, há 504 anos, contrariado com a venda das indulgências pela Igreja Católica, Lutero afixou na porta do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, as suas Noventa e Cinco Teses. Ele protestava contra a comercialização da salvação, além de outros abusos contra os cristãos da época, que sequer tinham acesso à liberdade de leitura do texto sagrado. Eram propostas de mudanças para a Igreja.

Logo, uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a Roma. “No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Hus e afirmou que os concílios e os papas podiam errar”, destaca um estudo publicado pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ).

Em 1520, a bula papal Exsurge Domine (“Levanta-te, Senhor”) concedeu sessenta dias para Lutero retratar-se ou ser excomungado, mas ele não acatou nenhuma das hipóteses. A bula e um exemplar da lei canônica foram queimados em praça pública, em sinal de protesto. No início de 1521, sob o risco de morte, Lutero compareceu a uma reunião do parlamento, a Dieta de Worms, onde reafirmou as suas ideias.

“A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.”

Estava, ali, selada o que ficou conhecida como a Reforma Protestante. Foi, então, promulgado contra ele o Edito de Worms, que o levou a refugiar-se no castelo de Wartburgo, sob a proteção do príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio. Isolado, o reformador começou a produzir a sua tradução das Escrituras, que viria a se multiplicar na sociedade da época, como uma pólvora, no contexto do surgimento da Imprensa.

Ouça, a seguir, a análise do especialista em Direito Religioso e membro fundador do Núcleo de Estudos em Política, Cidadania e Cosmovisão Cristã (NEPC3), Rafael Durand Couto.

Um movimento amplo

Para além de Lutero, outros grandes personagens foram Martin Butzer (Alemanha), João Calvino (Suíça), Menno Simons (Holanda), Thomas Cranmer (Inglaterra) e outros, que provocaram um vigoroso movimento de revitalização da igreja cristã durante o século 16 e início do século 17, com reflexos até os dias atuais.

A Reforma deu origem às denominações históricas do protestantismo, a começar pelas confissões luterana, reformada, anglicana e anabatista, e bem mais tardiamente, ao pentecostalismo. Seu legado foi não somente doutrinário, mas político, social e cultural.

Segundo estudiosos, os reflexos da Reforma podem ser conhecidos na política, com um esforço pela separação entre Estado e a Igreja; no campo dos Direitos Humanos, a partir da ideia de que todos podem ter acesso à graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo; na educação, com o conceito de que todos devem ser alcançados pelo conhecimento, e que devem ter acesso à literatura e ao ensino público e universal.

Ouça, a seguir, a análise do especialista em Direito Religioso e membro fundador do Núcleo de Estudos em Política, Cidadania e Cosmovisão Cristã (NEPC3) Rafael Durand Couto.

O protestantismo na Paraíba

O Brasil é um dos países em que as igrejas protestantes mais crescem em todo o mundo, já alcançando cerca de 30% da população, de acordo com estimativas mais recentes.  O Censo de 2010 do IBGE já apontava que, naquele ano, quase 600 mil pessoas já se declaravam evangélicas, somente na Paraíba.

O grupo mais numeroso é o de pentecostais, surgido no Brasil no início do século XX,  consequência tardia da Reforma, tendo sua representação maior a Igreja Assembleia de Deus, com mais de 300 mil membros. Trata-se de um movimento mais distante no tempo, porém ainda fincado nas ideias da grande Reforma do século XVI.

Uma das características desse ramo é a busca pelo fervor espiritual da época dos apóstolos, sendo atuante, também, em obras sociais, além de uma forte presença missionária ao redor do mundo. Na Paraíba, tem como um dos seus principais líderes, o pastor José Carlos de Lima, segundo vice-presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB) e presidente da União de Ministros das Assembleias de Deus do Nordeste (UMADENE).

Ainda segundo o IBGE, o segundo maior ramo são os Batistas, com mais de 70 mil membros e tendo forte influência na religião e cultura locais. Sua doutrina básica é salvação mediante a fé. Um dos seus principais líderes, na Paraíba, é o pastor Estevam Fernandes, da Primeira Igreja Batista da Capital, mas há outros nomes, a exemplo do pastor Sérgio Queiroz, do ministério Cidade Viva e do pastor Jean Kleber, da Igreja Batista Miramar.

Mais intrínseca à Reforma, há a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), surgida a partir de João Calvino, e que tem como mensagem principal a soberania e a Graça de Deus sobre a raça humana. Na Paraíba, tem mais de 12 mil membros e um de seus líderes mais conhecidos, o Reverendo Robison Grangeiro, atua no Bairro de Tambaú.

Além dessas, destaca-se a Igreja Metodista, com quase 2 mil membros no Estado. Trata-se de um movimento surgido no século XVIII e que enfatiza a relação íntima do indivíduo com Deus, envolvida na ética e moral cristã, bem como na leitura Bíblia constante. Distingue-se das demais em pontos importantes, sendo que na Paraíba tem uma mulher como líder, a pastora Thaiana Assis.

O movimento liderado pelo mais conhecido reformador, Martinho Lutero, também é presente em João Pessoa, através da primeira corrente surgida com a Reforma Protestante: A Igreja Luterana, que de acordo com o IBGE, possui em torno de 2 mil membros no estado, e tem como um de seus líderes o pastor Rodrigo Littig da Silva.

Cinco Solas

Embora haja variedade de costumes e liturgias, sendo apenas algumas delas citadas nesta reportagem, as igrejas protestantes defendem o Sacerdócio Universal, tendo todas  uma mensagem central, defendida pelos reformadores, e que ficaram conhecidas como ‘cinco solas’: Somente a Graça, Somente Cristo, Somente as Escrituras, Somente a Fé e Glória Somente a Deus.

Todas as denominações oriundas da Reforma, por assim dizer, estão baseadas sobre mesmos pilares e ideias, ao redor do mundo. Dessa forma, defendem o resgate do modelo de Igreja da época dos apóstolos. Elas diferem diretamente do modelo adotado pelas chamadas igrejas ‘neopentecostais’, ligadas a temas como teologia da prosperidade e midiatização da fé.

Para o especialista em Direito Religioso e membro fundador do Núcleo de Estudos em Política, Cidadania e Cosmovisão Cristã (NEPC3) Rafael Durand Couto, as chamadas igrejas neo-pentecostais, como Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus e Internacional da Graça, dentre outras, perderam a essência do movimento protestante.

“Essas igrejas vieram na esteira do tele-evangelismo, que propagam a teologia da Prosperidade, da ênfase em curas, e que são mais recentes; então o protestantismo é diverso, e as igrejas que derivam direto da Reforma do Século XVI estão presentes, sim, em nosso estado”, lembrou.

Apesar do crescimento das igrejas neopentecostais, as congregações tradicionais seguem resistindo ao tempo e às mudanças do tempo. Na Paraíba, um dos eventos mais conhecidos, e que envolvem as principais igrejas protestantes, é a Consciência Cristã, realizada anualmente em Campina Grande e que reúne membros e líderes das principais correntes evangélicas do Brasil.

Trata-se de um evento interdenominacional, que ocorre durante o Carnaval, e que propõe uma reflexão sobre temas espirituais e sociais, bem como de resgate dos valores iniciados por Martinho Lutero, há 504 anos. “Os protestantes, desde a Reforma, ao longo da História e até hoje sempre atuaram na sociedade, buscando influenciar positivamente as leis e políticas públicas que estão implementadas nos países”, finalizou Durand.

Ouça, a seguir, a análise do especialista em Direito Religioso e membro fundador do Núcleo de Estudos em Política, Cidadania e Cosmovisão Cristã (NEPC3) Rafael Durand Couto.

Fonte: Polêmica Paraíba com Rafael Durant e Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ).
Créditos: Polêmica Paraíba