homenagem

Cássio homenageia Ronaldo Cunha Lima no dia em que ele completaria 87 anos

O poeta e ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima completaria 87 anos de idade neste sábado (18) se vivo estivesse. O filho, Cássio Cunha Lima, que também já comandou o Estado, prestou uma homenagem ao político, com um poema de autoria do próprio pai.

Se vivo estivesse o Poeta Ronaldo Cunha Lima, meu amado e saudoso pai, estaria completando hoje 87 anos de vida. Presto minha singela homenagem postando esse, que a meu ver, é o mais notável dos seus poemas.

Habeas Pinho

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca
 
O instrumento do crime que se arrola
neste processo de contravenção
não é faca, revólver nem pistola,
é simplesmente, doutor, um violão.
 
Um violão, doutor, que na verdade
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, sim, a sensibilidade
de quem o ouviu vibrar na solidão.
 
O violão é sempre uma ternura,
instrumento de amor e de saudade.
O crime a ele nunca se mistura.
Inexiste entre eles afinidade.
 
O violão é próprio dos cantores,
dos menestréis de alma enternecida
que cantam as mágoas que povoam a vida
e sufocam suas próprias dores.
 
O violão é música e é canção,
é sentimento vida e alegria,
é pureza é néctar que extasia,
é adorno espiritual do coração.
 
Seu viver como o nosso é transitório,
mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
e não para ser arquivo de cartório.
 
Mande soltá-lo pelo amor da noite
que se sente vazia em suas horas,
p’ra que volte a sentir o terno açoite
de suas cordas leves e sonoras.
 
Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz,
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
 
Será crime, e afinal, será pecado,
será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando na rua as suas dores?
 
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
na certeza do seu acolhimento.
Juntada desta aos autos nós pedimos
e pedimos também DEFERIMENTO.
 

Ronaldo Cunha Lima, advogado.
 

O juiz Arthur Moura deu sua sentença no mesmo tom:
 
Para que eu não carregue
remorso no coração,
determino que se entregue
ao seu dono o violão.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba