Opinião

Viva Santo Antônio! E saiba quando não é crime formar uma quadrilha… - por Nonato Guedes

Nas festas juninas, ou “joaninas”, que são tradicionais especialmente no Nordeste brasileiro, hoje é dia de homenagear Santo Antônio, também conhecido como “Santo Casamenteiro”.

Nas festas juninas, ou “joaninas”, que são tradicionais especialmente no Nordeste brasileiro, hoje é dia de homenagear Santo Antônio, também conhecido como “Santo Casamenteiro”. Santo Antônio de Lisboa, igualmente chamado Santo Antônio de Pádua, nasceu em 15 de agosto de 1195 em Lisboa (Portugal) e faleceu em Pádua (Itália) em 13 de junho de 1231. “Morreu novinho, uns aninhos a mais do que Jesus”, afirma Evaristo Eduardo de Miranda no livro “Guia de Curiosidades Católicas – Causos, Costumes, Festanças e Símbolos escondidos no seu Calendário”. Ele informa que o nome de batismo de Santo Antônio era Fernando de Bulhões e Taveira Azevedo. Aos quinze anos, entrou para um convento de Cônegos Regrantes de Santo Agostinho e, em 1220, com vinte e cinco anos, trocou o seu nome por Antônio e ingressou na Ordem dos Franciscanos. É tido, igualmente, como o santo dos humildes.

Antônio era um pregador culto e apaixonado, com grande devoção aos pobres e hábil na conversão de heréticos, revela Evaristo, acrescentando que ele lecionou teologia em várias universidades europeias. Na Itália, São Francisco de Assis o chamava de “seu Bispo” por sua erudição. Foi cognominado “Martelo dos hereges”. É veneradíssimo no Brasil, principalmente como o santo dos amores e dos casamentos. É o santo que abre o ciclo das festas juninas e a troca de nome ilustra uma etapa e uma escolha significativa na sua santificação pessoal. O nome Antônio significa “flor nova” (anto nous). O nome é composto pela palavra grega ánthos (rebento, broto, flor) e pela expressão latina “novus” (novo). E Antônio foi mesmo uma floração para o cristianismo na Europa e um dos grandes expoentes da Ordem dos Franciscanos. Um testemunho para durar séculos. E ele prossegue inspirando o nome de batismo de muitos Antônios. Como se costuma dizer no Brasil: “Ai, meu Santo Antônio!”.

Um parêntese para uma informação do interesse da Paraíba: Santo Antônio foi “capturado” para o meio político local pelo senador Ruy Carneiro, autor da frase “Forte é o Povo”.Ele pontificou por décadas no cenário de poder doEstado. Era devoto de Santo Antônio e costumava, anualmente, a cada 13 de junho, ir à cidade de Piancó, no interior sertanejo, para assistir à missa, misturando-se com os populares. Isto rendeu admiração e votos para Ruy Carneiro, cujo temperamento era conciliatório. Com a sua morte, o bastão foi passado para o sobrinho, Antônio Carneiro Arnaud, ex-prefeito de João Pessoa, ex-deputado federal, médico, empreendedor do Hospital Napoleão Laureano, que atende a pacientes portadores de câncer. Carneiro Arnaud já acompanhava o tio na peregrinação ao Piancó e decidiu dar seguimento à missão após a sua morte. O exemplo do “doutor Ruy” incentivou a romaria de políticos de diferentes partidos a Piancó. E o certo é que na história política recente da Paraíba Santo Antônio foi responsável por muitos “casamentos” e muitas reaproximações entre adversários de ferro a fogo, como registraram os jornais daqui, numa época em que o impresso era predominante entre meios de comunicação.

A tradicional romaria ao Piancó este ano ficou prejudicada diante da pandemia do novo coronavírus e das medidas restritivas de caráter sanitário adotadas por autoridades constituídas a pretexto de proteger a população. Assim, o “isolamento social”, com o recolhimento das pessoas às suas causas, evitando disseminação do vírus, passou a ser a moeda corrente. O isolamento tem sido quebrado, aqui e acolá, com a reabertura de atividades essenciais, dado o grande índice de desemprego e de falta de renda que vieram juntos com a pandemia. Mas, sempre que o “radar” acusa perspectiva de reincidência de casos do coronavírus, as pessoas se apressam a se amotinar em suas casas, esperando a tempestade passar. Isso não impede que a devoção a Santo Antônio, a São João e a São Pedro perdure pelo mês de junho, com rituais diferentes por causa da Covid-19, como passou a ser dito por todos e todas.

A propósito de festas “joaninas”, Evaristo Eduardo de Miranda nota que, nelas, a “formação de quadrilhas” não é crime e sim uma dança sadia e animada (quando o coronavírus não está por perto). Como todos sabem, nos últimos anos no Brasil alguns figurões da política têm sido acusados e até presos sob acusação de corrupção e “formação de quadrilha” (eles se juntam a outros parceiros e formam gangs especializadas em assaltar o erário público). Aqui mesmo na Paraíba ainda há desdobramentos de uma certa Operação Calvário que tinha uma quadrilha cujo chefe, segundo o Ministério Público, era o ex-governador Ricardo Coutinho. Mas isso é outra história, claro. Na tradição pura, a quadrilha é dançada por um número par de casais em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro e para agradecer as boas colheitas. O acompanhante tradicional das quadrilhas é a sanfona.

“Êta Mundo Bom” era aquele, dos tempos em que não se tinha a pandemia. Mas os tempos bons hão de voltar, se Deus quiser. Com certeza, Santo Antônio, São João e São Pedro assinam embaixo, sem precisar ler.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes