SOBRE O ACIDENTE ENVOLVENDO O FILHO DO GOVERNADOR: Atropelamento e atropelos - Por Rubens Nóbrega

Não podemos esquecer, de qualquer forma, que o atropelamento aconteceu em horário (entre sete e oito da manhã) e num local (Avenida Cabo Branco) fechado ao trânsito de automóveis para permitir que os moradores da cidade possam fazer caminhadas matinais com tranquilidade

Atropelamento e atropelos

(Do jornal da Paraíba) – Seriam quatro, e não apenas duas, as vítimas do lamentável e megacomentadoduplo atropelamento ocorrido cedo da manhã do último domingo na praia do Cabo Branco, em João Pessoa. Além das duas mulheres atingidas por um carro que conduzia Rico Coutinho, filho do governador do Estado, o erário também pode ter sofrido escoriações graves. Não chegaria a fratura exposta, mas, sendo verdade, deve doer no bolso do contribuinte ciente e consciente dos bons e maus usos do seu dinheiro.
Digo assim porque os ferimentos causados aos cofres públicos em episódio dessa natureza não saram, não cicatrizam nunca. Apenas expõem mais abertamente as chagas em que se transformaram, cronificados por costumes e práticas políticas que pagam mordomias e privilégios com a receita dos impostos. Torçamos para que não tenha sido o caso. Não devemos descartar nenhuma hipótese, todavia. Inclusive a de o carro atropelador não ser locado pelo Estado. Tudo é possível na Paraíba de agora, inclusive alguém assumir o contrato de locação daquele veículo que tem a ficha seguinte, extraída de bases de dados oficiais por qualificado colaborador da coluna:
– Ford Focus S AT 2.0, de placas PUP-4479 (Belo Horizonte-MG), Renavan1016663703, chassi 8AFSZZFFCFJ262383, propriedade da Localiza Rent a Car S.A., CNPJ 16.670.085/0001-55 (que somente neste ano da graça de 2014 e das eleições faturou mais de R$ 1,2 milhão contra o Governo do Estado, segundo informa o Sagres, sistema de acompanhamento de gastos públicos disponível para consultas de qualquer cidadão no portal do Tribunal de Contas do Estado).
Tais informações vieram acompanhados do seguinte questionamento do leitor: “Será que o Sr. Rico Coutinho estava a ‘serviço’?”. Não saberia responder de pronto a essa pergunta, mas vou me valer das ‘pistas’ fornecidas pelo Coronel Almeida, Comandante do Batalhão de Trânsito da PM. Momentos após o acidente, diligentemente aquele oficial já esclarecia nas redes sociais da Internet que o filho de Ricardo Coutinho não dirigia o Focus, não se recusara a fazer bafômetro e só se encontrava no carro porque o motorista (supostamente um dirigente do PSB, partido do governador) fora buscar o rapaz em um ‘evento’.
De posse dessa dica, pesquisei nas agendas governamentais algum evento entre a noite de sábado e a manhã do domingo (passando pela madrugada, lógico) que justificasse um carro em tese locado com dinheiro do povo servir a um membro da primeira-família em final de semana. Nada encontrei. Segui, então, o conselho do poeta. Desisti da ‘busca inútil’.Mas apenas para concluir que por elasticidade de conceito poderemos, doravante, incluir na categoria ‘evento’ as baladas noturnas ou as noitadas em shows, bares, restaurantes, motéis etc.
De qualquer modo, como disse antes, não devemos descartar qualquer hipótese. Pode ser que o jovem tenha saído de casa bem cedinho da manhã para assistir a alguma missa católica, algum culto evangélico… Afinal, tudo é possível na Paraíba de quatro anos pra cá.

 

No horário da caminhada

Não podemos esquecer, de qualquer forma, que o atropelamento aconteceu em horário (entre sete e oito da manhã) e num local (Avenida Cabo Branco) fechado ao trânsito de automóveis para permitir que os moradores da cidade possam fazer caminhadas matinais com tranquilidade. Lembrando ainda: no mesmo espaço de tempo, quem mora no bairro ou trafega por lá dispõe da chamada Rua da Barreira (paralela à atlântica e com tráfego em mão dupla) para acessar a própria residência, subir ao Altiplano (ou dele descer) por veredas abertas na mata ou, enfim, demandar corredores viários como Beira-Rio e Epitácio Pessoa. Tudo isso sem incomodar nem ameaçar os caminhantes. Bem, mas esses são comportamento e caminho do comum dos mortais…


Como se não bastasse…

O carro atropelador e seus ilustres ocupantes ainda pegaram de raspão a Polícia Militar, causando arranhões na imagem do Batalhão de Trânsito da corporação, mais especificamente na Operação Lei Seca. Apesar das garantias dadas pelo Comandante do BPTran de que os rapazes foram tratados como cidadãos comuns, pessoas que passaram no pedaço onde ocorreu o atropelamento tiveram uma impressão diferente. E, o que é mais grave,ficaram se perguntando como reagirão no futuro próximo motoristas convidados a soprar o bafômetro. “Eu mesmo vou reivindicar o mesmo tratamento dado ao filho do homem”, disse-me ontem um amigo, que certamente não acredita na defesa prévia de Rico Coutinho, apresentada antes mesmo de qualquer apuração formal ser concluída. Já o intrépido Dércio Alcântara – jornalista, publicitário, marqueteiro e blogueiro sem medo – não tem dúvida. Depois dessa, fica mais do que confirmado que na Paraíba “a lei só vale para o pobre, jamais para o Rico”.

 

Só Vital e Ruy ‘escapam’

Não dou crédito nem leitura à revista Veja, atualmente uma pálida sombra do que foi no passado, reduzida à condição de panfleto de oposição ao Governo Dilma. Mas o ‘Ranking do Progresso’no Congresso Nacional que o semanário dos Civita divulgou no final de semana é obra de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Merece ser levado a sério, portanto. Merece também registro o seguinte fato: nesse ranking, da bancada da Paraíba só ‘escaparam’ Vital do Rêgo (décimo-primeiro colocado entre 74 senadores avaliados) e o deputado Ruy Carneiro (40º lugar no listão de 270 nomes da Câmara Federal). A posição dos demais, lamentável, deixo para comentar amanhã.