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RELEMBRANDO 1968: PRIMEIROS MOVIMENTOS ESTUDANTIS - Por Rui Leitão

Na década de sessenta, a juventude brasileira em suas manifestações públicas demonstrava um sentimento de reação contra a influência americana em nosso país, gritando palavras de ordem.

Na década de sessenta, a juventude brasileira em suas manifestações públicas demonstrava um sentimento de reação contra a influência americana em nosso país, gritando palavras de ordem como “go home yankee” e “abaixo o imperialismo”. Rebelava-se principalmente contra os acordos Mec-Usaid (Ministério de Educação e Cultura e United States Agency for International Development), firmados pelo governo da ditadura militar. A intenção era implantar o modelo norte-americano nas universidades brasileiras.

Em janeiro de 1968, os estudantes saíram às ruas em passeatas, protestando contra a intervenção americana que objetivava impor uma reforma universitária que, na visão deles, não atenderia as principais reivindicações do mundo acadêmico, entre as quais: democratização do ensino superior, aumento de vagas, qualidade de ensino, ampliação e expansão dos cursos, participação dos corpos docente e discente na administração da Universidade. Em síntese: a socialização da educação. Em sentido contrário, o que se projetava era uma reforma pautada no autoritarismo vigente: estímulo à privatização do ensino superior, desmobilização do magistério e enfraquecimento das organizações estudantis com o objetivo de inibir a formação de lideranças políticas.

Esse tema incendiou os movimentos estudantis do início de 1968. A ex-UNE – União Nacional dos Estudantes teve intensa participação nesse debate, exigindo, entre outras coisas, a revogação dos acordos Mec-Usaid. Em nossa terra, nos primeiros dias do ano, acontecia oficialmente uma cisão dos centros estudantis que integravam a AESP – Associação dos Estudantes Secundaristas da Paraíba, propondo a criação de uma nova entidade estudantil. Foram seis os centros que romperam com a AESP, cujos líderes passaram a percorrer todo o Es tado procurando convencer os demais a se incorporarem à ideia que motivava o movimento então deflagrado. Os centros estudantis que se rebelaram foram: Campina Grande, comandado por Márcio Vilar; Catolé do Rocha, sob a liderança de Otávio Azevedo Lins; Areia, liderado por Paulo Vicente; Alagoa Nova, por Marcos Araújo; Taperoá, sob o comando de Antônio Gomes da Silva e Pombal, na liderança de Expedito Lacerda. Alegavam que a AESP tinha uma estrutura totalmente voltada para a burocracia, sem participação ativa nas lutas estudantis, afastada da discussão e enfrentamento dos problemas da educação brasileira, portanto alienada das questões de interesse do meio estudantil. Criticavam principalmente a total indiferença daquela organização quanto à mobilização nacional da juventude contra os acordos Mec-Usaid.

Foi o primeiro acontecimento em terras paraibanas envolvendo os estudantes no sentimento de rebeldia que estimulava a juventude brasileira a levantar uma bandeira de luta contra o regime militar e o seu projeto de reforma educacional no país. A Paraíba também acendia a chama do idealismo que inspiraria as lutas que fizeram história naquele ano de 1968.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Rui Leitão