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VELADO E SUTIL: Mayana Neiva revela que sofreu preconceito no início da carreira

Mayana Neiva é conhecida do grande público por estrelar novelas globais, mas a atriz tem buscado cada vez mais projetos significativos.

Prova disso é sua personagem na série “Rotas do Ódio”, a delegada Carolina Ramalho, que em sua 4ª temporada lida com assuntos importantes como imigrantes e refugiados. A atriz também está no cinema com o longa-metragem ‘Beiço de Estrada’, como Dora, uma mulher do sertão que passa a morar na estrada. Além dos trabalhos como atriz, Mayana se prepara para assumir uma produção independente sobre seu avô, José Neiva, que foi um líder político da Paraíba.

Atualmente no ar na novela “Éramos Seis” e na série “A vida secreta dos casais”, Mayana contou com exclusividade para a Vogue Brasil sobre os novos rumos de seu trabalho e sua postura feminista e politizada nas suas redes sociais, onde fala sobre política, cultura e feminismo.

Para sua personagem em “Éramos Seis” o casamento é uma tema importante, pra você também é ou já foi?
Sim, para a minha personagem o casamento na época, em 1930, representava o lugar social da mulher, né? Pra mim, o casamento e a união com alguém é importante, a partir do amor, da liberdade, de se conectar e não com a pessoa que vai definir quem você é.

Você está se sentindo acolhida pelo público?
Sim, o público gosta muito da novela. Tem sido super especial fazer essa personagem. É uma novela que discute temas de família e sempre que estou na rua as pessoas comentam. É maravilhoso. Estou sentindo uma receptividade muito especial.

Sobra um tempo para ‘respirar’ com a gravação da novela e série ao mesmo tempo?
O tempo é realmente bem reduzido para tudo, né? O trabalho toma muitas horas e quando eu chego em casa também vou estudar e eu tenho ensaio com uma banda no tempo que sobra. Inclusive, eu tenho um show no BlueNote no dia 30 de janeiro que eu to super feliz e queria convidar todo mundo com a banda Quimbará, dia 30 de janeiro, no BlueNote, às 22h.

Você nasceu na Paraíba. Já perdeu o sotaque completamente após se mudar para o Rio de Janeiro?
Nasci na Paraíba e a minha origem é sempre muito presente em mim. Morei nos Estados Unidos 8 anos, 10 anos em São Paulo. Muito tempo então, você termina mudando um pouco, mas continua vivo no meu coração.

Você sentiu preconceito em algum momento da carreira por ser nordestina?
Com certeza. O preconceito acontece de formas muito veladas e é muito sutil, mas ele é bem presente nessa profissão e foi muito presente principalmente no começo da minha carreira. Inclusive a questão do sotaque, você ter o sotaque muitas vezes te atrapalha. Hoje em dia com toda essa questão maravilhosa da diversidade, você pode e deve, exercer livremente quem você é, mas do mesmo jeito dos cabelos crespos e das negras que são lindos e que houve um histórico de opressão, existe também em relação ao nordestino. Enquanto tiver no lugar do folclórico, do engraçado tudo bem, mas tratar como um drama muitas vezes era complicado. Mas o preconceito existe e existe até hoje na verdade.

Com personagens complexos na carreira, exposição e o próprio desenrolar da vida você já passou por algum problema de saúde que precisou de ajuda?
Não, essa carreira é uma escolha muito de coração, uma carreira que você tem que querer muito, que você tem que gostar muito, porque tem muitos intempéries, muitos altos e baixos. Graças a Deus eu descobri uma prática de lucidez que é a meditação que me ajuda a lidar com toda flutuância dessa carreira, dos momentos muito altos aos muito baixos. A meditação me ajudou a recuperar a lucidez de navegar e estar sempre bem para seguir. Acho que eu tentei desenvolver um tipo de maneira de navegar isso.

No total são quantos anos de carreira? Qual foi o período mais difícil até aqui? E o mais prazeroso?
Eu sou atriz desde os 16 anos e estou com 36 anos. Eu tive momentos muito especiais, tipo “A Pedra do Lobino”, do Luis Fernando Carvalho; fazer parte do Grupo XIX, em São Paulo; participar da minha primeira novela “Tititi”; as minisséries da Maria Adelaide Amaral; o filme para “Minha Amada Morta”; o “Infancia Clandestina”, um filme argentino que estreou em Cannes; “O Outro Lado do Paraíso”, que trabalhei com a Laura Cardoso e a Fernanda Montenegro. Eu tive momentos muito marcantes e sou muita grata. Acho que no Brasil eu consegui ter uma carreira de atriz, apesar de tudo, e por todas as dificuldades que a cultura enfrenta ao longo dos anos. Você cria sempre algo que não existe, então, além da sua predisposição, existe toda uma estrutura. Eu sou muito grata e acho que eu não poderia ser outra coisa.

Quais seus novos projetos para 2020?
Estou gostando de abrir esse caminho de cantar ainda mais com a banda Quimbará. Acho legal dar novos ares para uma carreira que já está estabelecida de alguma maneira. Mas eu estou sempre, de verdade, aprendendo e reaprendendo, cada personagem é um mundo que eu desconheço, que eu não tenho ideia de como vou fazer, e é uma profissão que me revitaliza e me reinicia como ser humano, que me faz conhecer outros mundos, que eu, Mayana, não seria capaz de conhecer. Então sou muito grata por todas as pessoas que me deram oportunidades e que me ensinaram, me fizeram crescer, me contrataram e acreditaram no meu trabalho.

Fonte: Vogue
Créditos: Vogue