Sobre “Catracas e cobradores” - Por Luiz Carlos André

Essa questão da substituição dos cobradores de ônibus por sistemas eletrônicos de arrecadação não é, principalmente no sul e sudeste do Brasil, um debate novo. São várias as cidades brasileiras em que não mais há a figura do cobrador, desde que as catracas eletrônicas começaram a ser implantadas. E fica bem clara a razão dessa tendência. Basta que aqui seja reproduzido um outro trecho do Editorial da Folha. Ei-lo:

03-06-2012-20-59-56-p3-transporte

Por Luiz Carlos André – Presidente da ONG ETEV

Muito importante e portanto merecedor de reflexão o Editorial do Jornal Folha de São Paulo, edição do recente dia 10.

Como todos sabemos, o Editorial corresponde à opinião do próprio jornal e, neste caso, logo em sua abertura foi bem claro quanto seu posicionamento:

– “A substituição dos cobradores de ônibus por sistemas eletrônicos de arrecadação é uma tendência mundial. No Brasil, porém, os sindicatos retardam a inevitável modernização, alegando que a categoria desempenha outras funções: auxilia passageiros, dá informações, evita fraudes na catraca”.

De imediato, referindo-se a esse retardamento que seria provocado pelos sindicatos, diz o Editorial:

– “Tais argumentos são bem pouco convincentes – a não ser que os representantes desses profissionais entendam que a população brasileira, na contramão do restante do planeta, é incapaz de contornar essas situações. Verdade seja dita, a manutenção dos cobradores tem a ver apenas com questões trabalhistas. Embora convenha ao sindicalismo fazer crer que a discussão terminaria na demissão de 18 mil trabalhadores (paulistanos), a polêmica poderia ser resolvida de outro modo: com a realocação gradual dos profissionais”.

Essa questão da substituição dos cobradores de ônibus por sistemas eletrônicos de arrecadação não é, principalmente no sul e sudeste do Brasil, um debate novo. São várias as cidades brasileiras em que não mais há a figura do cobrador, desde que as catracas eletrônicas começaram a ser implantadas. E fica bem clara a razão dessa tendência. Basta que aqui seja reproduzido um outro trecho do Editorial da Folha. Ei-lo:

– “Segundo dados oficiais, mais de 90% das passagens são adquiridas mediante o Bilhete Único”. E aqui somos nós que completamos: significa que 90% da atividade do cobrador, neste caso de São Paulo, deixaram de existir. E assim ocorreu em relação às demais cidades que implantaram o sistema de bilhetagem eletrônica. É um caso similar ao que aconteceu no sistema bancário: quantos eram os funcionários de bancos quando não haviam os caixas eletrônicos? Quantos são agora?

Em cidades menores que São Paulo, como os casos de Joinville (em Santa Catarina) e Santos (no litoral paulista) as respectivas administrações municipais foram rápidas nessa extinção da função de cobrador porque a elas falta maior condição para dar subsídio à tarifa, como faz São Paulo. É que lá, nessas cidades menores – e sem subsídio governamental – todo o custo tarifário é passado para a população. E lá em Santos, por exemplo, cada cobrador operando, mesmo que não mais tão necessário em razão da bilhetagem eletrônica, estava onerando a tarifa em cerca de R$ 0,35 (trinta e cinco centavos). Ou seja, se a tarifa atual é de R$ 3,25, estaria em R$ 3,60.