Os relatos de brasileiros em Paris em 13 de novembro

Corpos são vistos do lado de fora do restaurante onde ocorreu o tiroteio, no centro de Paris (Foto: AP Photo/Thibault Camus)

A noite de 13 de novembro de 2015 fica marcada pelo terror em Paris, capital da França. Múltiplos ataques deixaram dezenas de mortos e feridos em diferentes pontos da cidade – explosões do lado de fora doStade de France, reféns e chacina na casa de concertos Bataclan e tiroteios entre o bar Le Carillon e o restaurante Le Petit Cambodja são os mais graves. ÉPOCA ouviu relatos de brasileiros que viveram momentos de tensão na capital francesa. Essas são as suas histórias.

Michael, 21 anos, estudante
Eu estava assistindo ao jogo, no estádio [Stade de France], quando ouvimos a primeira explosão. A questão é que, no meio de uma partida de futebol, se você ouve uma explosão, fica achando que é um barulho normal, que são fogos de artifício. Todo o pessoal do estádio comemorou. Ouvimos, depois, um segundo estalo parecido com o primeiro. A reação foi a mesma, ninguém achou que alguma coisa estivesse errada.

No final da partida, meu celular começou a vibrar. Era um estádio de futebol lotado, o sinal estava ruim, e havia um monte de gente tentando falar comigo. Várias mensagens da minha mãe e de amigos perguntando se eu estava bem. Saí do estádio numa boa. Andei dali até o metrô próximo e tudo parecia normal. Para chegar a estação, é preciso passar por uma passarela. Vi um guarda com um fuzil. Até ali, eu não tinha ideia da gravidade da situação.

No metrô, as catracas estavam liberadas. Tomei o metrô, e voltei para a casa. Logo que saí na minha estação, um cara na rua veio gritando na minha direção: ‘entra aqui, entra aqui’, ele chamou, me oferecendo abrigo. Achei melhor recusar. Apressei o passo e corri para casa. Minutos depois, quando cheguei na minha casa, um amigo me ligou. Queria saber se eu estava bem – momentos depois de eu desembarcar, começou um tiroteio perto da minha estação.

Vivo em uma rua movimentada de Paris. É tão cheia de barzinhos que, às vezes, fica até difícil dormir à noite. Hoje não. A rua está deserta. Eu estou em casa. E não estou com medo. Para ser franco, ainda não caiu a ficha do que está acontecendo.”

Caroline, 29 anos, jornalista
“Eu estava saindo de casa para encontrar um amigo. Peguei o metrô por volta das 22h. Íamos sair, dar uma volta, mas ele me escreveu dizendo que havia ataques e um monte de gente morrendo. Fiquei desesperada. As pessoas no metrô estavam normais, tranquilas, até que duas estações depois o condutor do metrô mandou sair e correr o máximo que pudéssemos para longe da estação. Fiquei nervosa. Saí em um lugar que não conhecia, me perdi, tinha sirene para lá, sirene para cá. Por sorte me achei e fui para casa. Quando cheguei no meu apartamento, fiquei sabendo que houve tiroteio exatamente no lugar em que eu estava. Agora não posso sair por nada.”

Raul, 28, consultor
“Eu estava na Praça da República. Trabalho a 100 metros dela, no coração de onde tudo aconteceu. A princípio eu ficaria no escritório até mais tarde porque tinha muito o que fazer, mas quando todos foram embora senti uma sensação estranha, uma solidão, e preferi ir para casa. É até estranho pensar nisso agora. Em casa fiquei sabendo de tudo o que aconteceu. Todos meus amigos estão bem, embora uma amiga tenha um amigo que estava dentro da casa de shows [Bataclan]. É tudo muito próximo aqui. Já foi muito duro passar por 11 de janeiro [data do ataque à revista Charlie Hebdo], mas virão semanas muito duras. Será pior porque não existe muita razão pelo alvo. Em 11 de janeiro o alvo foi Charlie Hebdo por causa da charge. Agora o alvo é todo mundo.”

Marianne, 25 anos, estudante
“Eu não estava no bairros dos ataques. Mesmo assim, logo que ouviram notícias do primeiro incidente, os bares já avisaram os clientes e começaram a fechar as portas. Quando comecei a voltar para casa, as ruas já estavam vazias, e todo mundo voltava pra casa com cara de pânico. Os ataques se concentraram nas regiões de Bastille e Republique. Graças a isso, acabei não vendo nenhum incidente enquanto voltava para casa. Não vi nada. Apenas as pessoas comentando, assustadas, a respeito no metrô. Todo mundo com medo de que algo pudesse acontecer no caminho.

Eu agora estou em casa. Estou com medo. O governo decretou estado de alerta máximo para múltiplos ataques terroristas. Então, por mais que eu esteja em casa, pode ser que aconteça um ataque no café na esquina da minha rua. Ou na estação de metrô do lado de casa. Ninguém quer sair de casa para nada. Agora, nas ruas, eu só ouço sirenes por todos os lados. Tenho uma amiga que está na Itália, e ia voltar para Paris mas decidiu ficar por lá, até que as coisas melhorem. Até porque, o governo fechou as fronteiras. Ninguém entendeu as razões desses ataques ainda. De início, parecia apenas um jogo entre Alemanha e França. De repente, virou tudo isso.”

No grupo de Facebook da faculdade de Marianne, estudantes que não conseguem voltar para casa mandam mensagens perguntando se alguém conhece pessoas que possam oferecer abrigo. Pelas mídias sociais, os colegas dela – e outros parisienses – usam a hashtag #PorteOuverte (porta aberta), na tentativa de descobrir famílias dispostos a acolhe-los:

Busca de abrigo (Foto: Reprodução)

 

abrigos (Foto: Reprodução)

Luis, 29, audiovisual
“Eu estava no Cirque du Soleil, fiquei sem bateria no celular, e meus ficaram desesperados porque tentavam falar comigo e não conseguiam. Eu ia para um bar em République, mas um amigo me mandou mensagem dizendo para não ir porque tinha rolado um tiroteio na frente do bar. Achei estranho. Voltei para casa direto. Até mudei a rota do metrô para não passar pelo centro. Todo mundo dentro do metrô estava no celular, olhando para os lados, e qualquer barulho assustava. Eu mesmo ficava assustado. Parece que uma amiga de uma amiga morreu. A situação está tensa. O clima é de horror. Agora estou em casa, olho pela janela para a rua, e ela está vazia. Só tem um cara passando, e ele olha para todos os lados o tempo todo. Passa muita sirene, polícia, ambulância. A TV diz o tempo todo para não sair de casa.”

Época