Entenda

Senado vota aumento de vagas na Câmara dos Deputados; impacto pode ultrapassar R$ 600 milhões

Senado vota aumento de vagas na Câmara dos Deputados; impacto pode ultrapassar R$ 600 milhões

O Senado Federal deve votar nesta quarta-feira (25) o projeto de lei complementar que aumenta o número de deputados federais de 513 para 531. A medida, que altera a composição da Câmara com base na atualização dos dados populacionais do Censo 2022, tem gerado controvérsia não apenas pelo rearranjo político entre os estados, mas principalmente pelo impacto orçamentário: estima-se um custo adicional de ao menos R$ 150 milhões por ano.

Ao longo de um mandato parlamentar, de quatro anos, esse aumento pode chegar a representar uma despesa de até R$ 600 milhões aos cofres públicos.

A proposta foi aprovada em maio na Câmara dos Deputados por uma margem apertada: 270 votos a favor e 207 contrários. PSOL, Cidadania, Novo e Rede foram as únicas bancadas a se posicionar contra. Caso obtenha o apoio de pelo menos 41 senadores, o texto seguirá para sanção presidencial.

Comparações com programas do Governo

Para se ter dimensão do impacto, o valor anual estimado com a ampliação de vagas supera o orçamento previsto para o Ministério do Empreendedorismo em 2025, que é de R$ 132 milhões. Também é superior aos recursos reservados para o Programa Espacial Brasileiro (R$ 117 milhões) e para iniciativas de direitos humanos, como o programa Mulher Viver sem Violência (R$ 85,2 milhões) e a Promoção da Igualdade Étnico-Racial (R$ 86,2 milhões).

A Constituição determina que o número de deputados federais por estado seja proporcional à população. No entanto, esse cálculo não é atualizado desde 1994, quando foi utilizado o Censo de 1985. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a atualização obrigatória da composição com base no último Censo, com prazo até 30 de junho de 2025. Caso o Congresso não aprove as mudanças até essa data, caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fazer a readequação.

A proposta aprovada na Câmara prevê o aumento do total de vagas — e não a redistribuição — como forma de evitar perdas para estados que poderiam ter o número de representantes reduzido. Caso contrário, sete estados — incluindo Paraíba, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul — perderiam cadeiras, o que causaria forte reação política.

Efeitos nos estados

O impacto financeiro da proposta vai além do Congresso Nacional. Como o número de deputados estaduais nas assembleias legislativas é proporcional ao tamanho das bancadas federais, haverá também aumento de cadeiras nas casas legislativas estaduais.

Segundo levantamento do portal g1, 30 novos deputados estaduais seriam criados, resultando em um gasto adicional estimado em R$ 85 milhões por ano. Desse montante, R$ 56 milhões se referem a verbas de gabinete, R$ 16 milhões a cotas parlamentares e R$ 13 milhões aos próprios salários dos deputados.

Os estados mais impactados serão:

  • Mato Grosso: R$ 22,3 milhões (6 novas vagas)
  • Amazonas: R$ 17,3 milhões (6 novas vagas)
  • Rio Grande do Norte: R$ 15,3 milhões (6 novas vagas)
  • Santa Catarina: R$ 10,9 milhões (4 novas vagas)
  • Pará: R$ 9,6 milhões (4 novas vagas)

Outros estados como Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná devem ganhar uma vaga cada, com impacto entre R$ 2 milhões e R$ 2,7 milhões.

Câmara diz que não haverá impacto

Em nota técnica, a Direção-Geral da Câmara afirmou que o aumento de parlamentares federais não demandará acréscimos ao orçamento atual da Casa. “O orçamento continuará respeitando rigorosamente o teto de gastos”, informou o diretor em exercício Flávio Gomes de Mesquita.

No entanto, essa afirmação não contempla o impacto externo, especialmente nos estados, cujos orçamentos locais sentirão os efeitos da ampliação das bancadas.

Próximos passos

A votação no Senado será decisiva para o futuro da representatividade na Câmara e nas assembleias legislativas. A proposta precisa de maioria simples entre os 81 senadores para ser aprovada. Caso isso ocorra, caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionar ou vetar o texto.