Professora aposta em aulas de pompoarismo para 3ª idade

"É bom para a saúde também."

3idade

O que é pompoarismo? Não se acanhe se sua resposta parecer à que Elisabete Rigetti daria um ano atrás. “Algo que prostitutas tailandesas usam para soltar bolinha, né?”

Repetida mais recentemente, a pergunta provoca um sorriso na aplicada aluna da técnica oriental. “É bom para a saúde também.”

Toda quarta-feira, a aposentada de 62 anos sai de casa para aprender a controlar os músculos vaginais, numa classe voltada à terceira idade. Elisabete chegou à Escola Lu Pompoar pesquisando na internet tratamentos para uma incontinência urinária.

O espaço na Vila Mariana (zona sul de São Paulo) atende a mulheres de 20 a 84 anos interessadas em tonificar a região pélvica.

“Pompoarismo é algo sério”, afirma a professora Lu Riva, 36, que considera o corpo um “templo de Deus”.

Claro que os truques à la “Cirque du Soleil para maiores de idade” chamam atenção. Em 2003, a russa Tatiana Kozhevnikova entrou no Guiness como “a vagina mais forte do mundo”.Após ter tido filho, ela sentira os “músculos íntimos” enfraquecerem. Para ficar com tudo literalmente em cima, suspendeu um peso de 14 kg com ajuda do pompoarismo.

Saúde é o que interessa para a classe de alunas na terceira idade, mas sexo é bom e elas gostam também. “Fica mais prazeroso”, conta Elisabete, casada há 40 anos.

Não é nenhum demérito associar o pompoar ao prazer, diz Lu Riva. Só não vale restringir sua função à promessa de orgasmos melhores e mais frequentes.

Para a ginecologista Fernanda Leoni, 30, o pompoarismo é sobretudo um a catapulta para a autoestima. “A mulher começa a conhecer mais seu corpo”, afirma.

Ela recomenda a prática para pacientes grávidas que optem pelo parto normal e quem sofre com prolapso genital, popularmente conhecido como “bexiga caída” (quanto mais flacidez muscular, mais “escorregadio” fica o órgão na cavidade vaginal).”Na terceira idade, ajuda a produzir melhor lubrificação vaginal.”

No fim das contas, Lu Riva acha difícil separar uma vida sexual saudável do bem estar físico. Ela publicou um livro sobre o assunto, “Pompoar – Prazer e Saúde”, que sugere quatro semanas de treinamento.

EXERCÍCIOS

Para as iniciadas no pompoar, um dos exercícios é colocar um vibrador desligado na entrada da vagina e tentar sugá-lo. O curso in loco promete ensinar mais movimentos, como prender o pênis dentro do canal vaginal, o que retarda a ejaculação do parceiro. Há ainda a “dança vaginal”, para “aprender o pompoar dançando”.

A aluna inscrita ganha um kit com bolinhas de plástico para, quando estiver num estágio mais avançado, tentar segurá-las só com a força da vagina. Há técnicas semelhantes, batizadas com o nome do ginecologista alemão Arnold Kegel (1894-1981).

Na frente da sala de aula, há um frigobar vermelho com licores e destilados para “quem quiser se soltar”, explica a professora. Ninguém vira uma dose nem fica nua: as pupilas usam calças coladas ao corpo, para que a professora possa verificar se mexem a musculatura certa.

Os exercícios são ritmados ao passo de “um, dois, três” e envolvem vagina, quadris e tronco. Treino caseiro para entender: tentar conter o jato de xixi por dez segundos.

Discípulas veteranas são capazes de realizar uma espécie de “squash vaginal”, arremessando bolas na parede, garante a instrutora.

Uma série de estudos já comprovou os benefícios dos exercícios fisioterápicos para a vida sexual e, principalmente, para o tratamento da incontinência urinária no pós-parto. Pesquisadores da USP agora pretendem medir o impacto do pompoarismo sobre o assoalho pélvico.

Para Lu Riva, o valor científico do pompoarismo já está comprovado na prática. “Brinco que estou devolvendo a vagina para suas donas.”

Folha