Opinião

Política, vício e virtude: as entranhas da disputa pelo poder - por Catarina Rochamonte

O problema da política está menos no processo intrínseco aos mecanismos estabelecidos que nas estratégias adotadas por aqueles que querem subir ao poder ou manter-se nele. O poder corrompe, a vontade de poder leva à corrupção e a vontade de manter o poder a qualquer custo é a receita certa para o fracasso moral no campo da política.

*Publicado originalmente em Jornal O Povo – por Catarina Rochamonte

O problema da política está menos no processo intrínseco aos mecanismos estabelecidos que nas estratégias adotadas por aqueles que querem subir ao poder ou manter-se nele. O poder corrompe, a vontade de poder leva à corrupção e a vontade de manter o poder a qualquer custo é a receita certa para o fracasso moral no campo da política.

Embora haja um movimento incipiente de transformação, a política brasileira ainda é um lodaçal de incúria, mentira, estelionato, corrupção, má fé, cinismo, deboche, traição, subterfúgio e outros vícios.
Afeitos ao poder, os que estão ou já estiveram em cargos estratégicos da República entregam-se pela própria boca, traem-se pelos próprios atos e deixam cada vez mais clara a incapacidade moral de fazerem jus à confiança que lhes foi depositada. Ainda assim, encontram a fidelidade canina e a proteção selvagem daqueles que acreditam dever confiança cega ao líder. Trata-se de um instinto de obediência, programação primitiva do psiquismo, tendência difícil de romper.

Embora o debate ideológico precise ser travado, a exaltação de ânimo nesse quesito favorece apenas a ignorância daqueles que se pretendem portadores únicos de verdades consumadas. De um lado e de outro fervilham animosidades e nem de um lado nem de outro dos extremos vê-se lucidez e moderação. Poucos se dispõem a uma reflexão sóbria a fim de combater em defesa de princípios, preferindo a rematada tolice de repetir clichês deselegantes que desferem ferozes contra os seus adversários, reduzindo o debate público a um palco para ataques pessoais e arengas infrutíferas.

O exercício da cidadania requer autonomia, esperança sem ilusão, boa vontade sem ingenuidade, pragmatismo sem falta de ética. Se não nos mantivermos lúcidos seremos cúmplices da perpetuação desse ciclo vicioso.
Um ideal sólido, nobre e bom é muito maior do que meras ideologias e do que aqueles que se arvoraram defendê-las.
Precisamos agora de um redobrado esforço moral no sentido de extirpar os vícios do corpo democrático, restituindo-lhe a integridade pela ação terapêutica da virtude. Embora os vícios sejam abundantes e a virtude rara, sem ação virtuosa não há possibilidade da justa construção política que resulta no melhor regime.

Fonte: O povo
Créditos: Catarina Rochamonte