Saúde

O Projeto de Lei da senadora Roraya Tronicke e os perigos do cigaro eletrônico - Por Sebastião Costa

Foto: reprodução da intertet

Na história do tabagismo no Brasil há de se destacar algumas medidas, de absoluta importância na redução consistente do habito de fumar: A proibição das publicidades; a inserção de mensagens educativas nos maços de cigarros; os programas de cessação de tabagismo; as políticas de ambientes livres do cigarro e o aumento dos preços.
Destaque-se que, a base dessa evolução repousa essencialmente no remodelamento da mentalidade da sociedade em relação ao tabagismo. O cigarro que emprestava ‘charme’ e ‘elegância’ foi transformado em algo nocivo e antisocial pela competência dos Programas Públicos de combate ao tabagismo e o respaldo espontâneo da mídia.
Lá no meio dos anos 80, 34% dos adultos brasileiros inalavam regularmente as substâncias nocivas da fumaça do cigarro, contra 9,2% que a pesquisa Vigitel- MS identificou em 2019.
Informe-se os estragos econômicos provocados por essa redução nos cofres da indústria do tabaco. No curto período de 2011 a 2019, os produtores de doenças e mortes tiveram que se conformar com uma queda de 36% nos seus lucros astronômicos.
Ocorre que do outro lado dessa realidade, outros números devem ser comemorados. As 55 patologias promovidas pelas substâncias tóxicas do cigarro mandavam todo ano aos necrotérios do país 200 mil brasileiros. Redução importante no consumo de cigarros e as projeções estatísticas mais recentes garantindo que 160 mil óbitos são registrados anualmente, vitimas das doenças tabaco-relacionadas.
Resumindo: menos dinheiro no bolso dos fabricantes de cigarro, menos brasileiros chorando pela morte precoce de seus entes queridos.
E menos hipertensão arterial, AVCs, infartos, enfisema, Câncer de Pulmão, boca, laringe, estômago, próstata…
E menos hospitalizações, aposentadorias por invalidez, que comprometem substancialmente os orçamentos da saúde e da previdência.

Em 2018 a Philips Morris, gigante do segmento fumageiro promoveu forte campanha publicitária em toda mídia do Reino Unido garantindo a interrupção da produção do cigarro convencional:
“A PHILLIPS MORRIS É CONHECIDA POR SEUS CIGARROS. TODO ANO, MUITOS FUMANTES DESITEM DE FUMAR, AGORA É A NOSSA VEZ”.
A malandragem é que ‘esqueceu’ de avisar que estava investindo 11 bilhões de dólares no Cigarro Eletrônico, tábua de salvação para recompor a perda consistente de sua lucratividade com a redução gradativa dos consumidores de seus produtos.
Parcela significativa desse investimento priorizou um foco publicitário voltado essencialmente para os segmentos mais jovens, que vão naturalmente incrementar as estatísticas do consumo da nicotina e suas companheiras nocivas.
Indispensável acrescentar a capacidade imensa da nicotina em estimular o uso excessivo do álcool e da cannabis entre os adolescentes, conforme estudo desenvolvido pela Columbia University e Yale School of Public Health com mais de 50 mil estudantes de 13 a 18 anos de idade. E lá no CE, ela e suas companheiras vão promover trágicas e inevitáveis consequências na qualidade de vida, na incapacitação para o trabalho, na mortalidade precoce de muitos brasileiros que se tornam dependentes de uma droga, que faz companhia com a cocaína no mesmo grupo das substâncias psicotrópicas.
E é com imensa disposição que aquela malandragem anda investindo no Brasil através do Projeto de Lei 5008/2023 da senadora Soraya Tronicke do Podemos, com a pretensão ostensiva de soterrar definitivamente a resolução da ANVISA – RDC 46/2009, que proíbe a importação, fabricação e publicidade desses dispositivos, cujo vapor contêm mais de 2 mil substâncias, algumas com o potencial de produzir Infartos, Hipertensão, AVCs, Enfisema , Câncer de pulmão, boca, laringe, próstata…
Há de se acrescentar ainda ao potencial nocivo dos vapers, a EVALI – Doença do Cigarro Eletrônico, que em 2019 promoveu mais de 2 mil atendimentos em serviços de emergência dos EEUU, com 68 óbitos registrados por essa patologia, que anda chamando a atenção das autoridades sanitárias ao redor do mundo.

A grande preocupação nesse momento, repousa no perfil de um Congresso ultra conservador, com afinidades explícitas com o universo empresarial e logicamente mais sensível á pressão lobbysta de um dos segmentos econômicos mais influentes do mundo.

Há se considerar a evolução da Consulta Pública do Senado Federal sobre a liberação do CE, fica a triste conclusão de que a senadora, estimulada pelo lobby fumageiro anda ganhando essa batalha.
A maioria dos brasileiros parece estar entrando na onda de que ele, o vaper, é menos nocivo do que o cigarro convencional. Mas, o que se precisa informar e denunciar é que o CE com seu designer atrativo e sabores diversificados, além de promover o surgimento de muitas patologias, está atraindo um outro exército de consumidores da nicotina e Cia, especialmente jovens, que vai se somar aos 9,2% de brasileiros dependentes do cigarro convencional.
Com a inevitável consequência de realimentar as estatísticas de mortalidade pelas doenças tabaco-relacionadas que, conforme já referido, estavam em pleno declínio.

Sebastião Costa – Presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Pb
– Membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba