'Imprevisível'

Militares revelam preocupação com governo Bolsonaro após saída de Moro

Oficiais-generais ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo avaliaram que o governo de Jair Bolsonaro terá dificuldades de se levantar após a saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça.

Oficiais-generais ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo avaliaram que o governo de Jair Bolsonaro terá dificuldades de se levantar após a saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça. Eles se disseram “perplexos” e “chocados” com as declarações do ex-juiz da Lava-Jato, que acusou o presidente de interferência na Polícia Federal e fraude.

Um dos militares disse que Bolsonaro virou um “zumbi” — comparando-o a Michel Temer após a denúncia de Joesley Batista que quase o derrubou – e Moro saiu ainda maior na sua condição de “ícone” da nova política. “Tudo tem limite”, afirmou um dos ouvidos. Outro disse que o presidente cometeu “suicídio” e não recupera mais seu capital político.

O tamanho do problema ainda está sendo avaliado, mas todos afirmaram que as consequências são “imprevisíveis”. O que joga principalmente contra Bolsonaro, neste momento, é a credibilidade de Moro. Portanto, mesmo que o governo ou o Palácio tente exigir que o ex-juiz da Lava-Jato prove o que falou, a credibilidade do ex-juiz e o seu comportamento têm peso muito mais forte.

Alguns oficiais-generais chegaram a lamentar que estejam no governo “até o pescoço” e, agora, não sabem ainda como sair dessa encruzilhada. A situação toda é muito delicada, eles disseram, e que a demissão de Moro e a forma como ela ocorreu colocam o Congresso e a sociedade em um debate sobre um impeachment do presidente. Para eles, um processo de afastamento seria um caminho “longo” e “difícil”.

Villas Bôas
Figura mais popular e influente no setor militar, o general da reserva Eduardo Villas Bôas disse que se “identificou” com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Em declaração ao jornal O Estado de S. Paulo, Villas Bôas fez muitos elogios a Moro e evitou comentar sobre a situação política do governo. “Está muito cedo para avaliar as consequências”, disse. “Por enquanto, eu só tenho a lamentar do ponto de vista pessoal.”

O ex-comandante do Exército lembrou que conheceu o ex-juiz da Lava-Jato no Palácio do Planalto. “Trata-se de uma pessoa que fez história, com base nos princípios éticos, com quem eu me identificava e tinha a honra de desfrutar da amizade”, afirmou Villas Bôas. Como a quase totalidade da cúpula das Forças Armadas, Villas Bôas nunca escondeu a admiração pelo ex-juiz. No entanto, em uma entrevista, em abril ao jornal O Estado de S. Paulo, ele lembrou: “Ninguém tutela o presidente”.

Fonte: Correio Braziliense
Créditos: Correio Braziliense