Polêmica

Centrão não quer redução de penas por 8/1, quer Bolsonaro livre da prisão

Centrão não quer redução de penas por 8/1, quer Bolsonaro livre da prisão

Os dois primeiros dias do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) coincidiram com a intensificação, em Brasília, de uma nova ofensiva política pela anistia a Jair Bolsonaro. O movimento, que ecoa nos três Poderes, está diretamente vinculado às articulações eleitorais para 2026.

Enquanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), defende uma proposta restrita que apenas reduza penas de condenados pelos atos do 8 de Janeiro — sem alcançar os organizadores e financiadores —, líderes do centrão e da oposição afirmam já ter votos suficientes para aprovar um perdão amplo a todos os envolvidos.

Essa hipótese, no entanto, não reverteria a inelegibilidade de Bolsonaro na Justiça Eleitoral, abrindo espaço para consolidar a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O governador desembarcou nesta semana em Brasília para atuar diretamente na articulação pró-anistia, em busca de apoio do centrão e de respaldo junto à base bolsonarista.

Resistência no Senado e no STF

Na terça-feira (2), Alcolumbre reiterou que não apoia uma anistia geral e disse que pretende apresentar um projeto alternativo, em elaboração desde a gestão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com aval de ministros do Supremo. A proposta excluiria lideranças e financiadores dos atos, mas encontra forte resistência de parlamentares bolsonaristas, que pressionam pela inclusão do ex-presidente.

Nos bastidores, ministros do STF avaliaram que a movimentação de Tarcísio fortaleceu a pauta da anistia ampla, mas consideram mais aceitável o texto restritivo do Senado. Apesar disso, não descartam um acordo político que envolva a própria Corte para não derrubar eventual projeto aprovado pelo Congresso.

Votos e articulação no Congresso

Na Câmara, líderes do centrão calculam cerca de 300 votos favoráveis à anistia ampla, número suficiente para aprovar a proposta. A pressão recai agora sobre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que admitiu a possibilidade de pautar a matéria após o término do julgamento, previsto para o próximo dia 12. O requerimento de urgência deve ser votado já na próxima semana.

Na reunião de líderes, partidos como PL, PP, Republicanos, Novo e União Brasil defenderam a anistia. O PSD se mostrou dividido, enquanto PT e governistas classificaram a medida como “impunidade”.

Estratégia do governo e reações políticas

Entre petistas, a leitura é de que a articulação de Tarcísio mudou o cenário, conferindo seriedade à pauta e aumentando sua chance de avançar. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que o governador de São Paulo “matou no peito” a defesa da anistia para consolidar sua candidatura presidencial com apoio do bolsonarismo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu. Em almoço no Palácio da Alvorada com ministros do União Brasil e Alcolumbre, reforçou sua oposição ao projeto e pediu empenho contra a proposta, classificando-a como “rendição” a Jair Bolsonaro e comparando-a à postura do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Próximos passos

O julgamento de Bolsonaro e de outros sete réus deve ser concluído na próxima semana, com expectativa de condenação que pode ultrapassar 40 anos de prisão no somatório das penas. A definição sobre a anistia, no entanto, dependerá do embate político no Congresso e da reação do Supremo diante de um eventual texto aprovado.

Com Notícias ao Minuto.