Matrix da vida real

CÉREBROS VIVOS COMO PROCESSADORES: Conheça a polêmica internet "telepática" que propõe ligar cérebros humanos : VEJA VÍDEO

Cientistas se preocupam com a possibilidade de controle da mente da nova internet cerebral.

Cientistas criam primeira interface para conectar cérebros humano

Pesquisadores conseguiram estabelecer, pela primeira vez, uma interface cérebro-cérebro entre dois homens. Eles foram capazes de captar a atividade cerebral de um voluntário, transmitir o sinal via internet e usá-lo para controlar os movimentos da mão de outro homem.

Quem fez: Rajesh Rao, Andrea Stocco, entre outros

Instituição: Universidade de Washington, EUA

Dados de amostragem: Dois voluntários humanos. Um deles teve a atividade elétrica de seu cérebro registrada por um aparelho de eletroencefalograma. O outro tinha um aparelho de estimulação magnética transcraniana em sua cabeça, capaz de estimular o seu cérebro e induzir movimentos.

Resultado: Por meio de uma conexão de internet, os sinais cerebrais captados no primeiro voluntário induziram movimentos na mão do segundo.

As interfaces cérebro-cérebro têm sido teorizadas já há algum tempo pelos pesquisadores, mas só começaram a sair do papel neste ano. Em fevereiro, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis anunciou a primeira interface do tipo, ao transmitir sinais elétricos entre os neurônios de dois ratos: um localizado nos Estados Unidos e outro no Brasil. Dois meses depois, pesquisadores da Universidade Harvard demonstraram que era possível transmitir os sinais cerebrais de um homem para o cérebro de um rato, comandando os movimentos de sua cauda.

Os pesquisadores da Universidade de Washington afirmam, no entanto, que essa é a primeira vez que tal comunicação é realizada entre dois seres humanos. “Nós conseguimos plugar um cérebro ao computador mais complexo já estudado por qualquer cientista: outro cérebro humano”, diz Chantel Prat, pesquisadora da Universidade de Washington que também participou do estudo.

Disparos mentais – Rajesh Rao é professor de ciência da computação na Universidade de Washington, e há mais de dez anos trabalha no desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina. No dia 12 de agosto, ele estava sentado em seu laboratório usando um capacete com eletrodos ligados a uma máquina de eletroencefalograma, capaz de ler a atividade elétrica de seu cérebro.

Enquanto isso Andrea Stocco estava em seu laboratório – no outro extremo do campus universitário – vestindo uma touca de natação roxa que dava suporte a um aparelho de estimulação magnética transcraniana, capaz de estimular o cérebro e induzir uma resposta neural. Seu efeito normalmente depende da área onde ele é aplicado. Neste caso, o aparelho foi colocado diretamente sobre o córtex motor esquerdo, mais precisamente na área que controlava os movimentos de sua mão direita.

No videogame, o voluntário deveria acertar o míssil lançado por piratas antes que ele atingisse a cidade. O problema é que o botão para disparar seu canhão estava do outro lado da universidade

Em sua sala, Rao estava olhando para uma tela de computador onde deveria jogar um videogame bastante simples. No jogo, ele deveria impedir que uma cidade fosse atingida por uma série de mísseis disparados por navios piratas. Para isso, deveria acertá-los com balas de canhão, disparadas no momento exato em que os mísseis estivessem ao alcance. O jogo exigia que o disparo fosse realizado em um espaço de tempo pequeno, mas, fora isso, não exigia grande destreza técnica. O objetivo deveria ser facilmente atingido por Rao, não fosse por um pequeno problema: o botão que disparava o canhão não estava em seu teclado, mas no teclado do computador de Andrea Stocco, do outro lado da Universidade.

Durante o experimento, no momento em que o canhão deveria ser disparado, Rao imaginou mover a mão direita. Quase instantaneamente, Stocco moveu seu dedo indicador direito de forma involuntária para apertar a barra de espaço no teclado em sua frente, disparando o canhão, acertando o míssil, salvando a cidade e demonstrando o sucesso da interface. Stocco comparou a sensação do movimento involuntário de sua mão a um tique nervoso. O resultado está publicado no site da Universidade de Washington.

Controle mental – Rajesh Rao afirma que foi emocionante – e assustador – assistir a uma ação imaginária de seu cérebro ser traduzida em uma ação efetiva por outro corpo. Mesmo assim, esse ainda seria o primeiro passo no desenvolvimento das interfaces cérebro-cérebro entre humanos. “Este foi basicamente um fluxo unidirecional de informações do meu cérebro para o dele. O próximo passo é estabelecer uma conversa de duas mãos entre os dois cérebros”.

Pode parecer arrojada a ideia do ser humano comunicar entre si apenas com o pensamento. Apesar de na ficção já se ter explanado essa “teoria”, a verdade é que os cientistas demonstram ser possível a comunicação direta entre cérebros nos humanos. Surpreendentemente, já se trabalha há algum tempo no patamar “Internet de cérebros” e o conceito dá agora mais um passo.

Poderemos estar a mexer numa caixa de pandora, onde o ganho é substancialmente menor que a perda.

Mas o que é a Internet dos cérebros?

Se pensarmos nas nossas capacidades, damos conta que desenvolvemos um riquíssimo repertório de comunicação. Assim, facilmente usamos os gestos e os sons para comunicar. Todas estas formas de comunicação ligam as pessoas, fazem delas seres sociais.

Agora, um novo estudo veio mostrar que é possível substituir as formas de comunicação tradicional e usar o cérebro.

Ligando diretamente um cérebro ao outro, numa espécie de Internet de cérebros, foi possível usar a atividade elétrica dos mesmos para transmitir comunicação. Nesse sentido, os sinais magnéticos transmitiram uma instrução para executar uma tarefa de uma determinada maneira.

 

Novas formas dos humanos se comunicar

Com a finalidade de abrir portas a novos e extraordinários meios de colaboração humana, os cientistas também querem debater as noções fundamentais sobre identidade individual e autonomia.

A comunicação direta cérebro-a-cérebro tem sido um assunto de intenso interesse desde há muitos anos. Na verdade, este tipo de “tecnologia” interessa a diversas áreas da sociedade, como, por exemplo, à área militar. Além disso, como já foi descrito, este salto futurista, a chamada “fusão da atividade cerebral humana”, poderá ser considerado o próximo estágio na evolução da nossa espécie.

No passo, os cientistas já conduziram estudos nesta linha de orientação. Ligaram os cérebros de vários ratos, usando elétrodos complexos implantados. Deram origem na altura ao conceito interfaces cérebro-a-cérebro.

 

Cérebros vivos como se fossem microprocessadores

Um dos autores com literatura nesta área, Miguel Nicolelis, com outros autores, descreveu esta conquista como o primeiro “computador orgânico” com cérebros vivos amarrados como se fossem microprocessadores. Os animais nesta rede aprenderam a sincronizar a atividade elétrica das suas células nervosas como se fossem um só cérebro.

Os cérebros em rede foram testados para coisas como a sua capacidade de discriminar entre dois padrões diferentes de estímulos elétricos, e eles rotineiramente superaram os animais individuais.

 

Brainet poderá ser um futuro assustador

Este estudo e o seu desempenho foi sendo melhorado. Para isso, e com o intuito de aumentar o desafio, os investigadores por vezes adicionavam alguma “interferência” ao sinal enviado pelos “emissores”. Nesse sentido, os “recetores” ficavam confusos com as informações ambíguas.

Por consequência e de forma rápida, estes aprendiam a identificar e a seguir as instruções mais confiáveis. Ao todo, cinco grupos de indivíduos foram testados na rede chamada de “Brainet,” e tiveram mais de 80% de eficácia em completar a tarefa.

 

Valores éticos se levantam

Apesar deste estudo ser menos invasivo que outros como o da DARPA, também levanta preocupantes questões éticas. Por exemplo, poderia uma interface ou rede cerebral deste tipo ser usada para coagir uma pessoa a fazer algo que não queira, invadindo o seu senso de agência?

Será que esta tecnologia poderia ser usada para extrair informações confidenciais, invadindo a privacidade do indivíduo? De forma geral, poderia atrapalhar o senso pessoal (senso do “eu”) de um ser humano?

Uma das nuances da linguagem humana é que muitas vezes o que não é dito é tão importante como o que é. Assim, o conteúdo oculto na privacidade da mente é o núcleo da autonomia individual.

Em síntese, podemos ter uma nova forma de comunicar, mas esta poderá também ser a maneira de mudar o individuo.

 

Fonte: PPL WARE
Créditos: PPL WARE