Rubens Nóbrega

A Central Única dos Trabalhadores promove hoje pela manhã em João Pessoa (às 9h no Hotel Caiçara, Tambaú) um seminário que tem o assédio moral como tema. Eis aí um evento que deveria ser assistido por todos os cidadãos de bem da Paraíba, diariamente chamados de burros, idiotas e imbecis por algumas autoridades e lideranças políticas do Estado.
Por essa e outras, principalmente depois de 1º de janeiro de 2011, o assédio moral na Paraíba virou uma praga cotidiana. É troço que afeta não apenas a saúde do trabalhador, objeto específico da exposição-debate desta quinta que envolverá, entre outros entendidos no assunto, o brilhante Procurador do Trabalho Ramon Santos e o referenciado Professor Roberto Heloani, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, São Paulo).
No meu sentir, contudo, o assédio moral não se limita ao ambiente de trabalho. Faz-se presente e intenso, sobretudo, nas relações entre governo e governados mediadas pela comunicação de massa. Daí por que dou repercussão geral a esse seminário. E o faço tirando por meu exemplo pessoal, considerando que diariamente me vejo moralmente assediado nas tantas e tamanhas mentiras que por ossos deste ofício sou obrigado a ouvir, ver ou ler.
Nossa, como mentem os caras! E mentem tanto e tão descaradamente que só posso enxergar nas suas mentiras uma total e inaceitável falta de respeito a minha inteligência e a de meus concidadãos.
Querem ver um exemplo simples, simplório mesmo, de como isso acontece? Vamos lá, então. Uso uma nota da organização não governamental denominada Contas Abertas, que ontem divulgou o seu Ranking da Transparência, baseado em um índice que classifica os portais de transparência mantidos pelos governos estaduais. Pois bem, na avaliação realizada este ano, a Paraíba conquistou honroso nono lugar.


Vem desde o Cássio I

O Portal da Transparência do Governo da Paraíba, ferramenta disponível na Internet por iniciativa de gestão, mas, sobretudo, por força de lei, é obra em construção desde 2003.
Começou com a ascensão de Cássio Cunha Lima ao poder estadual e do auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Luzemar Martins ao cargo de secretário-chefe da Controladoria Geral do Estado, posto ao qual voltou com a entronização de Ricardo Coutinho ano passado.
O Portal da Transparência, como todo portal do gênero, vem incorporando ao longo dos anos melhoramentos visíveis, seja por necessidades que se apresentam seja por conta das novas tecnologias da informação e da comunicação que seus técnicos assimilam e empregam.
Pois não é que apesar de tudo isso, apesar desse histórico e da realidade presente do Portal que é, inclusive, instrumento operado por quadros de Estado e não de governo, pois não é que o Ricardus I apressou-se em faturar a notícia do Contas Abertas como resultado dos ‘esforços’ da atual gestão.
Esqueceram de combinar

Pelo visto um dos poucos a que se aplica abnegadamente, o esforço midiático do governo esqueceu, contudo, de apagar ou reescrever no Portal da Transparência a apresentação do serviço assinada pelo próprio secretário Luzemar Martins (confiram acessando o link http://transparencia.pb.gov.br/apresentacao/).
No seu texto, o Controlador Geral ressalta, inclusive, que desde 2008, um ano antes de a Lei Complementar nº 131/2009 assim o exigir, a CGE já disponibilizava “dados sobre receitas e despesas do Estado, englobando todos os órgãos e unidades das administrações direta e indireta dos Poderes e órgãos”.
Taí! Pode parecer banal para uns, mas esse tipo de comportamento é cada vez mais comum a governantes que tentam ganhar ponto pela propaganda que fazem, não pelo que fazem de verdade. Trata-se, no final das contas, da submissão de virtudes aos vícios que se acumulam nos gestos, atos e posturas de um governo em desfavor das melhores expectativas dos que nele acreditaram.


Diferente por ser pior

No caso que se discute neste espaço, refiro-me especialmente às promessas de uma Nova Paraíba, onde tudo seria diferente, mas na prática se revelou diferente por ser pior. Quanto à transparência, estou convencido de que ela existe mesmo no Estado. Graças aos técnicos sérios e competentes como aqueles que temos na CGE. Enfim, a transparência existiria de todo modo. Com, sem ou apesar do governo que temos.
Pra fechar, devo dizer que se não fosse a minha obrigação na UFPB hoje cedo da manhã iria bater no Hotel Caiçara para cumprir a devoção de ouvir Ramon, menino de Cajazeiras que vendia bacuri na feira livre e virou dos mais preparados membros do Ministério Público do Trabalho na Paraíba. Ele será debatedor do tema “Impacto do assédio moral à saúde do trabalhador”.
Aproveitaria para sugerir à Cut um seminário mais amplo, sobre o “Impacto do assédio moral do poder na saúde dos paraibanos”.