"O mundo em 72 minutos"

Guerra nuclear pode extinguir a humanidade em 72 minutos, entenda

Guerra nuclear pode extinguir a humanidade em 72 minutos, entenda

A jornalista americana Annie Jacobsen, conhecida por sua abordagem pop e detalhista sobre temas de segurança nacional, acaba de lançar no Brasil o livro “Guerra Nuclear – Um Cenário”, pela editora Rocco. A obra, já traduzida em 28 países e prestes a ganhar uma adaptação para o cinema dirigida por Denis Villeneuve (“Duna”), propõe um cenário brutal: o fim do mundo em apenas 72 minutos após o lançamento inesperado de uma ogiva nuclear pela Coreia do Norte contra os Estados Unidos.

O livro chega ao país no momento em que se completam 80 anos da primeira explosão atômica da história, marcada em 16 de julho de 1945 com o teste Trinity, nos EUA. Para Jacobsen, 57 anos, esse marco não é apenas histórico — é um lembrete do abismo em que a humanidade ainda caminha, agora em ritmo acelerado.

“A guerra nuclear termina de uma única maneira: com a aniquilação nuclear”, afirmou a autora, em entrevista por telefone ao jornal Folha de S. Paulo, de sua casa em Los Angeles.

O mundo em 72 minutos

Escrito como um thriller documental, o livro não tem personagens com nomes, mas traz uma sucessão de decisões e falhas reais, baseadas em entrevistas com 46 autoridades militares e civis dos EUA. O ponto de partida é o ataque súbito da Coreia do Norte, e a resposta norte-americana que, para atingir Pyongyang, lança mísseis que sobrevoam a Rússia, deflagrando a escalada que levaria à destruição global e à inviabilidade do planeta por 24 mil anos.

Embora o cenário tenha sido criticado por alguns especialistas por parecer extremo, Jacobsen defende a narrativa. Segundo ela, trata-se de uma opção real prevista nos protocolos de resposta nuclear do Departamento de Defesa.

“Embora eu não tenha acesso ao conteúdo do Livro Negro [com as opções de ataque do presidente americano], entrevistei pessoas que tiveram. Elas confirmaram que esse tipo de ação está dentro das diretrizes”, afirma.

Uma crítica à banalização da bomba

A autora se mostra incomodada com o que classifica como vulgarização do discurso nuclear em meio a conflitos como o da Ucrânia, as tensões entre Irã e Israel, e as disputas entre Índia e Paquistão.

“A discussão sobre armas táticas é surreal. Uma arma nuclear é uma arma nuclear. Seu uso só termina com o armagedom”, diz.

Jacobsen reforça que seu objetivo é tornar o tema acessível, didático e impactante. Por isso, optou pelo formato de suspense, mesmo sob críticas de que estaria dramatizando demais. A escolha veio após ouvir de um ex-comandante do Comando Estratégico dos EUA que “o mundo poderia acabar nas duas horas seguintes” ao início de uma troca nuclear.

“Não escrevo apenas para generais, mas para qualquer cidadão comum. É um assunto urgente e precisa ser compreendido fora do jargão técnico”, explica.

Realismo chocante

O livro não usa dados secretos, mas traz à tona fatos amplamente documentados e ignorados pelo debate público. Jacobsen lembra, por exemplo, que um míssil intercontinental lançado não pode ser chamado de volta. “Essa informação básica está disponível, mas poucas pessoas se dão conta das implicações disso.”

Para ela, o argumento de que a dissuasão nuclear tem funcionado por 70 anos é frágil.

“Ou foi milagre ou foi sorte. E não se governa o mundo com sorte.”

Trump, desarmamento e o futuro

A autora revelou que o ex-presidente Donald Trump teria lido seu livro, e disse esperar que ele tenha o mesmo impacto que o filme O Dia Seguinte teve sobre Ronald Reagan nos anos 1980, levando-o a buscar acordos de desarmamento com a antiga União Soviética.

Sobre o atual presidente, Annie acredita que há mais clareza sobre a necessidade da “desnuclearização”, como prefere chamar o desarmamento. Mesmo assim, teme que projetos como o “Domo Dourado” — escudo antimísseis proposto por Trump — possam contradizer essa política.

“Sou jornalista, não ativista. Mas aprendi que é possível avançar no desarmamento mesmo com iniciativas de defesa.”


Quem é Annie Jacobsen

  • Idade: 57 anos
  • Naturalidade: Middletown, EUA
  • Profissão: Jornalista investigativa e roteirista
  • Obras marcantes: Área 51, Operação Paperclip, O Cérebro do Pentágono (finalista do Pulitzer 2016)
  • Séries em que trabalhou: Jack Ryan, Clarice
  • Próximo projeto: Adaptação de Guerra Nuclear para o cinema, com direção de Denis Villeneuve
  • Família: Casada, mãe de dois filhos