risco de confronto

Venezuela teme ação militar conjunta após encontro entre Trump e Bolsonaro

Suspeita de negociadores venezuelanos é de que posição tradicional de militares brasileiros pode ser revista por pressão da Casa Branca e reação de presidente brasileiro

A cúpula do governo de Nicolas Maduro teme que o presidente Jair Bolsonaro possa tentar demonstrar uma aliança com o governo americano e apoiar uma intervenção militar na Venezuela.

Em Caracas e nos altos cargos da diplomacia venezuelana, a atitude do brasileiro em Washington foi interpretada como um sinal de que Brasília pode dar apoio a uma eventual ação de soldados estrangeiros em seu território.

Durante o encontro com Donald Trump no Salão Oval, Bolsonaro tratou da questão da Venezuela. Aos jornalistas, o americano disse que “falava pelos dois países” ao se referir que “todas as opções continuam sobre a mesa”.

Mais tarde, durante uma coletiva de imprensa, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o uso de armas na Venezuela. Ao contrário de militares brasileiros, ele não descartou a opção. “Tem certas questões que, se você divulgar, deixam de ser estratégicas.”

Assim sendo, essas questões se forem discutidas, se já não foram, não podem ser divulgadas”, disse. “Se por ventura, vierem à mesa, certas medidas não podem ser tornadas públicas.” Em entrevista ao blog, um dos principais embaixadores venezuelanos admitiu, na condição de anonimato, que a viagem de Bolsonaro nesta semana foi recebida com “extrema preocupação”.

Para Caracas, a leitura que se fazia do comportamento brasileiro era de que o governo em Brasília estava dividido no que se refere a uma ação militar. A segurança dos venezuelanos eram os militares brasileiros, avessos à uma operação. Em especial, o vice-presidente Hamilton Mourão era considerado como um pilar de uma estratégia mais moderada.

“Mas sabemos que o Brasil tem um presidente instável e que pode querer dar uma demonstração a Donald Trump de que o País está disposto a tudo para agradar ao novo aliado”, disse. A suspeita é de que, em Washington, o presidente americano tenha pressionado Bolsonaro a convencer a seus militares da necessidade de uma ação.

Se o Brasil se aliar à estratégia de uma operação, os venezuelanos consideram que a opção de uma invasão pode ganha força. Do lado colombiano da fronteira, já existiriam oito postos militares que poderiam servir de base. Caracas teria informações de que Bogotá estaria disposta a apoiar uma ação.

Na ONU, nesta quarta-feira, a crise na Venezuela foi alvo de um debate. A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, alertou que a crise no país sul-americano se transformou em um fator “desestabilizante” na região.

Segundo ela, existem suspeitas de que as forças do governo tenham executado pelo menos 205 pessoas em 2018. Outros 37 podem ter sido mortos em janeiro de 2019. Bachelet alertou que esses casos têm sido relatado pelas autoridades como sendo resultado de troca de tiros. Mas, na maioria das vezes, as vítimas não estavam armadas.

A chilena ainda aponta como procuradores se recusaram a abrir investigações. “Essas pessoas moram em bairros pobres e participavam de protestos contra o governo”, disse, alertando para o risco de que isso seja uma forma de intimidação em relação a qualquer um que ouse questionar o governo. Ela ainda fala em tortura, sequestros e ameaças.

Bachelet também indicou que a situação econômica e social tem se deteriorado de forma dramática desde junho de 2018 e criticou o governo por não reconhecer a dimensão dos problemas. De acordo com a chilena, o apagão das últimas semanas em Caracas reduziu ainda mais o acesso a alimentos, água e remédios, além de afetar hospitais.

“A dimensão dos danos e o número de fatalidades ainda não são conhecidos. Mas o apagão é um espelho dos desafios que a Venezuela encara”, disse, apontando ainda para a hiperinflação e falta de serviços públicos. De acordo com ela, a deterioração dos hospitais levaram a um aumento “significativo” da mortalidade materna e infantil. Além disso, doenças que haviam sido controladas hoje voltaram a afetar o país.

Se não bastasse, mais de 1 milhão de crianças não conseguem mais ir às escolas, em especial diante da incapacidade dos pais de garantir café da manhã ou da falta de programas de alimentação nas escolas. Outro problema é a falta de professores, muitos dos quais abandonaram a Venezuela.

Bachelet deixou claro que a crise começou ainda em 2017. Mas alertou as sanções impostas pelos EUA contra a venda do petróleo venezuelano podem estar contribuindo para “agravar a crise econômica”, com possíveis repercussões para a população.

Fonte: UOL
Créditos: UOL