destituição

Trump dá mais um passo em sua caminhada rumo ao possível 'impeachment'

Democratas e republicanos pedem investigação ao presidente. Ex-diretor do FBI prestará declarações na Câmara dos Representantes.

Com vários democratas a levantarem a hipótese de ser desencadeado o processo de destituição (impeachment) de Donald Trump, a que se juntou um primeiro republicano, o presidente viveu esta quarta-feira um dia de pesadelo bem expresso nas palavras que pronunciou no Connecticut numa cerimónia na Academia da Guarda Costeira.

“Nenhum político na história (…) foi tratado de pior maneira ou de forma mais injusta”, disse Trump. Antes, referira que “nunca se pode desistir, nunca, nunca” e “são as adversidades que nos tornam mais fortes”. E teve-as em larga escala. A começar pelas repercussões do conteúdo de um memorando revelado na noite de terça para quarta-feira (hora portuguesa) em que o ex-diretor do FBI, James Comey, escreve que lhe foi pedido por Trump para abandonar a investigação a Michael Flynn e ao possível papel deste no alegado envolvimento russo nas presidenciais de 2016. Flynn, que foi conselheiro de Segurança Nacional menos de um mês, teve de se afastar após serem conhecidas as suas ligações a personalidades russas e deslocações a este país. A escolha do seu sucessor está em curso, falando-se em vários nomes, dois deles mulheres.

No memorando, Comey escreve que Trump pediu ao vice-presidente Mike Pence e ao procurador-geral Jeff Sessions para saírem da sala, onde estavam reunidos com o ex-diretor do FBI, e depois terá dito “espero que possa abandonar” a investigação. Se for verdadeira a observação de Comey, as palavras de Trump podem ser consideradas um ato de obstrução à Justiça, suscetível de fundamentar um processo de impugnação, era esta quarta-feira considerado por vários comentadores. A Casa Branca classificou o memorando de Comey, divulgado pelo New York Times e pela CNN, como “nem verdadeiro nem rigoroso”.

Em mais um revés para o presidente, o republicano Jason Chaffetz, que dirige a comissão de supervisão da ação governamental, anunciou ter pedido ao diretor interino do FBI, Andrew McCabe, para entregar até à próxima quarta-feira toda a documentação referente a encontros entre Comey e Trump. Uma decisão apoiada pelo presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan. Num desenvolvimento paralelo, Chaffetz convidou o próprio Comey a prestar depoimento perante a comissão na mesma data.

Se os documentos ou as palavras de Comey coincidirem com as revelações do NYT e da CNN, a presidência de Trump está realmente em período, reconheceram representantes dos democratas e dos republicanos. Com um destes últimos, Justin Amash, na Câmara dos Representantes pelo Michigan, a declarar que o presidente devia ser impugnado a confirmar-se aquilo que o afastado diretor do FBI dá a entender. Ainda entre os republicanos, um crítico de sempre de Trump, o senador John McCain, considerou que a situação estava “a atingir as proporções de um Watergate”, o caso que, em 1973, custou a presidência a Richard Nixon.

Em termos formais, o democrata Al Green tornou-se, na Câmara dos Representantes, o primeiro a pedir o início do processo de destituição. Afirmando que “a democracia está em risco”, Green afirmou que “ninguém neste país está acima da lei, incluindo o presidente”.

Para além do caso envolvendo o ex-diretor do FBI, Trump teve de enfrentar as repercussões de ter partilhado informação “sensível” e “secreta” com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e o embaixador deste país nos EUA, Sergey Kislyak, no encontro do passado dia 10 na Casa Branca. Trump teria partilhado informações secretas fornecidas por Israel sobre o Estado Islâmico. O que foi duramente criticado nos EUA e em Israel.

Candidatos à direção do FBI

Andrew Mccabe

Diretor interino do FBI, fora nomeado diretor-adjunto por Comey em fevereiro de 2016. Está no FBI desde 1996. Tem vasta experiência de campo. A sua mulher foi candidata pelos democratas ao Senado estadual da Virgínia, uma possível desvantagem.

Alice Fisher

Advogada e sócia principal num escritório de Washington, é considerada uma das juristas mais importantes a nível nacional. Foi procuradora-geral adjunta no segundo mandato de George W. Bush. Próxima dos republicanos.

Frances Townsend

Antiga conselheira para a Segurança Interna na presidência de W. Bush, estivera ligada ao Departamento de Justiça durante a presidência de Bill Clinton. Especialista em serviços de informações. Próxima dos democratas.

Michael Garcia

Juiz num tribunal de recurso de Nova Iorque, esteve na investigação a casos de corrupção na FIFA. A ser escolhido será o primeiro latino a dirigir o FBI.

Adam Lee

Responsável dos serviços do FBI em Richmond, está no Bureau desde 1996. Especialista nas áreas da corrupção e do crime de colarinho branco.

Mike Rogers

Antigo presidente da comissão para os serviços de informações da Câmara dos Representantes. Foi do FBI e é republicano. Comenta matérias de espionagem e segurança na CNN.

Henry Hudson

Juiz na Virgínia, foi nomeado por George W. Bush. Antes, dirigira o serviço judicial e policial federal conhecido como U.S. Marshals. Republicano, é conhecido pelas suas posições duas no combate ao crime.

Fonte: Diário de Notícias