Tropa suprapartidária de choque de Cunha causa ciúmes no PMDB

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Autor: Mário Coelho
Foto: Orlando Brito/Obritonews/Fatoonline.

A aproximação com deputados de outras legendas afastou Cunha dos peemedebistasOrlando Brito/ObritoNews/Fato Online

Mário Coelho

(Do Fatoonline.com.br)  Relatoria de principais projetos e posições de destaque em comissões estão concentradas nas mãos de quatro deputados. Líder peemedebista ensaia aproximação com adversários do presidente da Câmara e com o Palácio do Planalto
Nos seis meses de administração de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um fato não passou despercebido dos principais observadores da Câmara. O peemedebista, aparentemente distanciado da bancada do seu partido, privilegiou aliados em outras legendas com relatorias e posições de destaque em comissões. Deputados como André Moura (PSC-SE), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Mendonça Filho (DEM-PE) e Arthur Maia (SD-BA) são hoje mais próximos a Cunha do que qualquer outro membro da bancada do seu partido na Casa. Fato este que tem gerado reclamações e até uma aproximação de Leonardo Piccini, o líder do PMDB, com o Palácio do Planalto.
Deputados notaram uma mudança no comportamento de Cunha. Nas últimas sessões, não tem cobrado a presença dos parlamentares em plenário com mão de ferro, como fez no primeiro semestre. Na terça-feira (25), por exemplo, as votações encerraram cedo, dando tempo até para os integrantes da Câmara retomarem o jogo de futebol dos parlamentares. Causou espanto a presença de Picciani, André Fufuca (PEN-MA) e Marcelo Aro (PHS-MG) na pelada – todos integrantes da tropa de choque do peemedebista. A tradicional pelada é organizada por Júlio Delgado (PSB-MG), um dos poucos adversários públicos do presidente da Câmara.

Há duas interpretações correntes para os últimos movimentos do grupo de Cunha. Uma dá conta de que os deputados próximos tentam angariar apoio ao peemedebista quando a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, for analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), dentro da Operação Lava-Jato. Acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sua situação política deve se complicar caso ele passe de investigado em um inquérito para réu em uma ação penal.

Rodrigo Maia foi um dos oposicionistas privilegiado por CunhaCadu Gomes/ObritoNews/Fato Online

A outra versão é que Picciani tem se aproximado do governo contando com a queda de Cunha. Nas últimas semanas, o peemedebista esteve reunido com a presidente Dilma Rousseff e com o vice-presidente Michel Temer. Mediou um encontro de Temer, ainda como articulador político do governo, com André Moura, relator da PEC 172, que impede a transferência de encargos para os estados e municípios. Foi a partir dessa reunião que o Palácio do Planalto conseguiu modificar uma parte do relatório que prejudicava a União.

Cunha ainda conta com o apoio de boa parte da bancada – especialmente os deputados federais mais jovens do partido na Casa. Nomes como Marcos Rotta (PMDB-AM) e Hugo Motta (PMDB-PB) seguem como fiéis escudeiros do presidente da Câmara. Até pelo cargo que foram alçados pelo peemedebista. Enquanto o parlamentar amazonense preside a CPI do BNDES, o paraibano comanda a comissão de inquérito da Petrobras. Mas parlamentares experientes, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Danilo Forte (CE), de saída para o PSB, contestam a forma de atuação no comando da Casa.

Tropa de choque
Em 18 de dezembro do ano passado, o ainda candidato Eduardo Cunha chegou ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para se reunir com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, acompanhado de apenas um parlamentar. Era o líder do PSC, André Moura, seu principal escudeiro na disputa pela presidência da Casa quase dois meses adiante. Após vencer a eleição em primeiro turno contra o petista Arlindo Chinaglia (SP) e o socialista Delgado, ele retribuiu o apoio dado por Moura e outros parlamentares que atuaram na sua campanha com cargos e relatorias de visibilidade.

Moura ajudou a eleger Cunha presidente da Câmara e recebeu cargos importantesOrlando Brito/ObritoNews/Fato Online

Deputados ouvidos pelo Fato Online são unânimes em citar Moura como o principal aliado de Cunha na Câmara. Por seu apoio incondicional, o deputado sergipano recebeu como prêmio importantes tarefas na Casa. Presidiu a comissão especial da PEC da redução da maioridade penal, relata as PECs do pacto federativo e a 172 e é responsável por sub-relatorias nas CPIs do BNDES e da Petrobras. Em troca, não se furta a defender o peemedebista sempre que chamado.

Tanto que Moura era o único líder partidário presente na entrevista coletiva em que Cunha anunciou o rompimento com o governo e sua consequente ida para a oposição, em julho. Depois, em 12 de agosto, defendeu o peemedebista após um discurso do ex-líder do PT Paulo Teixeira (SP). O petista tinha criticado o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o líder tucano na Casa, Carlos Sampaio (SP), mas não citou o presidente da Câmara. Mesmo assim, bradou da tribuna: “O que o PT não aceita é uma gestão Eduardo Cunha que tem trazido aqui as pautas que o governo do PT não queria votar”.

 

A maior reclamação dos peemedebistas é que a relatoria dos projetos mais importantes ficou restrita a um grupo de três parlamentares: Rodrigo Maia (DEM-RJ), Arthur Maia (SD-BA) e o próprio Moura. Ao mesmo tempo, preteriu boa parte do PMDB, criando divergências dentro da própria bancada. Picciani, por exemplo, relatou apenas o projeto enviado pelo governo que acabou com a desoneração concedida a 56 áreas diferentes da economia. No relatório final, quatro setores foram retirados após acordo com o governo.